São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Independentes ameaçam reforma de Obama

Eleitores sem vinculação partidária dão vitória a republicano em eleição extraordinária para o Senado, tirando supermaioria democrata

Sem poder evitar obstrução, caminho para garantir mudança no sistema de saúde pode ser impor à Câmara versão do Senado


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O abandono dos eleitores independentes levou o partido de Barack Obama a sofrer sua primeira derrota eleitoral de 2010 e a colocar em risco a aprovação da reforma do sistema de saúde do democrata, peça-chave de sua agenda legislativa doméstica. Antecipa ainda uma disputa acirrada nas eleições de novembro, quando um terço do Senado e a totalidade da Câmara dos Representantes (deputados federais) estão em jogo.
Na noite de anteontem, o candidato republicano na eleição especial para uma das vagas do Senado pelo Estado de Massachusetts bateu sua oponente democrata, que até dez dias antes era a favorita e liderava a corrida por mais de dez pontos percentuais. A virada foi causada principalmente pela mudança de voto dos independentes e dos democratas moderados, que ajudaram Obama a se eleger presidente em 2008.
Com isso, os democratas perderam a "supermaioria" de 60 votos no Senado, necessária para barrar obstrução dos republicanos e fundamental para avançar a agenda de reformas obamista. A nova formação conta com 57 senadores democratas, dois independentes que fecham com eles na maior parte das votações e, desde ontem, 41 republicanos.
A derrota democrata é carregada de simbolismo. A vaga em jogo era a de Ted Kennedy, morto em agosto de 2009, que a ocupava desde 1962. O Estado não elegia um republicano desde 1972 e nas últimas eleições presidenciais deu vitória de 26 pontos a Obama sobre o republicano John McCain. Além disso, Kennedy era um ícone progressista que apoiou o atual presidente já no início da corrida e fez da reforma da saúde a bandeira de sua vida pública.
Pois o senador estadual Scott Brown baseou sua campanha vitoriosa justamente na crítica à proposta obamista, que amplia e subsidia o acesso ao serviço de saúde pública a mais de 30 milhões de pessoas. Ironicamente, um de seus argumentos era o de que ela prejudicaria o sistema de saúde de Massachusetts, muito similar ao proposto por Obama.
Convenceu 52% dos eleitores, que votaram nele, ante os 47% que escolheram a promotora pública Martha Coakley, 56. Segundo análises preliminares das pesquisas de boca de urna, a situação econômica do país foi o principal fator que levou o eleitor a escolher o candidato da oposição, e dentro dessa o índice de desemprego, hoje nos 10%.
Essa mensagem das urnas levou o comando do Partido Democrata e a Casa Branca a começarem um processo de reavaliação de estratégia para 2010. Os governistas também avaliam como proceder agora com a reforma da saúde, que pode ter de passar por nova votação no Senado, onde agora seria barrada. Uma das hipóteses aventadas, de adiar para depois da votação da lei a posse do senador recém-eleito, cuja vaga é ocupada atualmente por um interino democrata, foi descartada, pelas críticas geradas.
A que vem ganhando mais força prevê que a versão já aprovada pelo Senado seja votada pela Câmara, onde os governistas ainda tem confortável maioria, e então passe para assinatura de Obama. Pela reação do mercado, a hipótese corre riscos. Ontem, as ações das empresas de seguro privado de saúde fecharam em alta.


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