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Independentes ameaçam reforma de Obama
Eleitores sem vinculação partidária dão vitória a republicano em eleição extraordinária para o Senado, tirando supermaioria democrata
Sem poder evitar obstrução, caminho para garantir mudança no sistema de saúde pode ser impor à Câmara versão do Senado
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O abandono dos eleitores independentes levou o partido de
Barack Obama a sofrer sua primeira derrota eleitoral de 2010
e a colocar em risco a aprovação
da reforma do sistema de saúde
do democrata, peça-chave de
sua agenda legislativa doméstica. Antecipa ainda uma disputa
acirrada nas eleições de novembro, quando um terço do
Senado e a totalidade da Câmara dos Representantes (deputados federais) estão em jogo.
Na noite de anteontem, o
candidato republicano na eleição especial para uma das vagas
do Senado pelo Estado de Massachusetts bateu sua oponente
democrata, que até dez dias antes era a favorita e liderava a
corrida por mais de dez pontos
percentuais. A virada foi causada principalmente pela mudança de voto dos independentes e dos democratas moderados, que ajudaram Obama a se
eleger presidente em 2008.
Com isso, os democratas perderam a "supermaioria" de 60
votos no Senado, necessária para barrar obstrução dos republicanos e fundamental para
avançar a agenda de reformas
obamista. A nova formação
conta com 57 senadores democratas, dois independentes que
fecham com eles na maior parte das votações e, desde ontem,
41 republicanos.
A derrota democrata é carregada de simbolismo. A vaga em
jogo era a de Ted Kennedy,
morto em agosto de 2009, que a
ocupava desde 1962. O Estado
não elegia um republicano desde 1972 e nas últimas eleições
presidenciais deu vitória de 26
pontos a Obama sobre o republicano John McCain. Além
disso, Kennedy era um ícone
progressista que apoiou o atual
presidente já no início da corrida e fez da reforma da saúde a
bandeira de sua vida pública.
Pois o senador estadual Scott
Brown baseou sua campanha
vitoriosa justamente na crítica
à proposta obamista, que amplia e subsidia o acesso ao serviço de saúde pública a mais de
30 milhões de pessoas. Ironicamente, um de seus argumentos
era o de que ela prejudicaria o
sistema de saúde de Massachusetts, muito similar ao proposto por Obama.
Convenceu 52% dos eleitores, que votaram nele, ante os
47% que escolheram a promotora pública Martha Coakley,
56. Segundo análises preliminares das pesquisas de boca de
urna, a situação econômica do
país foi o principal fator que levou o eleitor a escolher o candidato da oposição, e dentro dessa o índice de desemprego, hoje
nos 10%.
Essa mensagem das urnas levou o comando do Partido Democrata e a Casa Branca a começarem um processo de reavaliação de estratégia para
2010. Os governistas também
avaliam como proceder agora
com a reforma da saúde, que
pode ter de passar por nova votação no Senado, onde agora seria barrada. Uma das hipóteses
aventadas, de adiar para depois
da votação da lei a posse do senador recém-eleito, cuja vaga é
ocupada atualmente por um interino democrata, foi descartada, pelas críticas geradas.
A que vem ganhando mais
força prevê que a versão já
aprovada pelo Senado seja votada pela Câmara, onde os governistas ainda tem confortável maioria, e então passe para
assinatura de Obama. Pela reação do mercado, a hipótese corre riscos. Ontem, as ações das
empresas de seguro privado de
saúde fecharam em alta.
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