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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Nova resolução poderá ser apresentada na ONU na próxima semana, mas só deverá ser votada em meados de março

Rússia acusa EUA de pressionar inspetores

David Guttenfelder/Associated Press
Nuvem alaranjada envolve Bagdá por conta de tempestade de areia que atingiu o Iraque; a capital ficou encoberta durante horas


DA REDAÇÃO

Adotando uma posição mais dura em relação à intenção de americanos e britânicos de fazer uso da força contra o Iraque, o chanceler russo, Igor Ivanov, disse ontem que os inspetores da ONU que trabalham em território iraquiano estão sendo pressionados a encontrar um pretexto para o início da guerra.
"Segundo as informações que temos em mãos, uma forte pressão vem sendo exercida sobre os inspetores internacionais, visando que eles suspendam suas operações no Iraque, como ocorreu em 1998, ou forçá-los a chegar a conclusões que justifiquem o uso da força", afirmou Ivanov.
Ele não disse quais países vêm exercendo essa pressão, mas salientou que Moscou estava exortando a comunidade internacional a "ajudar os inspetores, deixando de pressioná-los". "Quanto mais rápido os resultados concretos das inspeções chegarem a nós, maiores serão as chances de que a situação tenha uma solução política", disse Ivanov.
A Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU (CS), tem uma posição clara sobre o tema. Por um lado, exorta Washington a atenuar o tom belicoso de sua retórica, mas, por outro lado, exige que Bagdá coopere com os inspetores da ONU.
Porém os recentes protestos contra uma eventual guerra ao Iraque, ocorridos em inúmeros países do mundo, parecem ter dado mais força às críticas de Moscou a Washington e a Londres.
Ivanov saudou os debates sobre a questão realizados na ONU, nesta semana, dizendo que eles confirmaram "o amplo apoio internacional à posição russa sobre o assunto, que consiste em dar continuidade aos esforços políticos em busca de uma solução pacífica para o problema iraquiano, respeitando a ONU e o CS".
O chanceler também expressou confiança na possibilidade de o Iraque respeitar as exigências contidas na resolução 1441 do CS. Porém ressaltou que Bagdá deverá demonstrar "mais abertura".
Ele disse também que ainda é cedo para discutir uma possível reação russa à apresentação de uma nova resolução no CS, o que poderia abrir caminho para o início da ação militar no Iraque, mas salientou que a Rússia não tinha descartado a possibilidade de fazer uso de seu poder de veto.
Os EUA pretendem apresentar a nova resolução no CS na próxima semana apesar da oposição da Rússia, da França -que, ontem, recebeu o apoio dos países africanos- e da China, de acordo com um funcionário graduado da administração americana (que não quis identificar-se).
Isso ocorrerá, segundo a mesma fonte, porque os inspetores da ONU têm afirmado que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, não está cumprindo sua promessa de intensificar sua colaboração com a entidade.
Já o presidente George W. Bush afirmou que Saddam está "jogando fora" sua última chance de desarmar-se pacificamente. "Se a força militar for necessária, agiremos de modo decisivo em defesa de uma causa justa e venceremos", declarou Bush.
A nova resolução deverá ser relativamente simples, sustentando que o Iraque continua a cometer "violações materiais" no que se refere às exigências da resolução 1441, adotada em novembro.
"Não sei se a [nova] resolução conterá datas, mas está claro que o tempo está acabando", disse o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, à rede de TV espanhola Antena 3. Segundo ele, o Iraque tem duas saídas para evitar a guerra: a renúncia de Saddam (que se exilaria em algum país) ou a colaboração total com a ONU.
Por conta da resistência de alguns países-membros do CS, mesmo que seja apresentada na próxima semana, a nova resolução não deverá ser votada antes da segunda semana de março.
De acordo com o diário britânico "The Independent", que ouviu um funcionário do governo britânico (que também não quis identificar-se), Washington e Londres pretendem forçar a votação do novo texto antes de 14 de março, data estabelecida pela França para que seja realizada uma nova reunião sobre a cooperação do governo iraquiano com a ONU.

Com agências internacionais


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