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ANÁLISE
Presidente aposta no confronto
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Hugo Chávez aposta no confronto e na tensão política para se
manter no poder, com o exercício
da força, ou ser derrubado por
um golpe e tornar-se um mártir.
Essa é a impressão relatada à Folha por analistas políticos, que
consideram que o presidente quer
a todo custo evitar a realização de
um referendo ou de eleições antecipadas, nas quais sairia derrotado, de acordo com as últimas pesquisas de opinião (contestadas
pelo governo).
"Chávez parece preferir deixar o
poder de qualquer outra forma,
menos pela via das urnas", afirma
o analista Luis Beltrán Petrosini,
professor da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas.
Isso explicaria uma prisão como a de Carlos Fernández, líder
empresarial e figura importante
da oposição, num momento em
que a tensão política parecia haver baixado, após a assinatura, na
última terça-feira, de um acordo
na mesa de diálogo patrocinada
pela OEA (Organização dos Estados Americanos) para evitar a
violência e buscar um entendimento entre as partes.
A manutenção do conflito, com
a ocorrência das manifestações
oposicionistas nas ruas e ações de
pressão como a greve geral suspensa no início do mês, criariam
também ao governo uma figura a
quem culpar pelos males do país.
"Isso é uma maneira de distrair
a opinião pública para a situação
de colapso econômico em que se
encontra o país, com ameaça de
hiperinflação e de desemprego recorde", diz Alfredo Keller, diretor
da consultoria Alfredo Keller &
Associados. "É vantajoso para o
governo caracterizar as dificuldades como problemas políticos,
não econômicos, para ter a quem
culpar", afirma.
Independência em xeque
Numa sociedade dividida como
a venezuelana, na qual ou se está
com o governo ou se está com a
oposição, sem meios-termos, é difícil imaginar que a decisão do
juiz Maikel José Moreno, de ordenar a prisão de Fernández e Carlos Ortega, outro líder grevista, tenha sido tomada por um Poder
Judiciário independente, sem a
interferência do governo.
Ainda mais quando pesa sobre
o juiz a acusação de ter sido, antes
de sua nomeação para o Tribunal
de Controle, advogado defensor
dos acusados de disparar na multidão oposicionista que protestava contra Chávez na véspera do golpe que o tirou do poder por
dois dias, em abril, numa confusão que provocou a morte de ao
menos 17 pessoas.
"Do jeito que o país está hoje, é
impossível encontrar pessoas independentes. Não existe independência da Procuradoria Geral, do
Poder Legislativo nem dos demais órgãos do Estado, que obedecem ao governo diretamente",
diz Alfredo Keller.
A satisfação expressa por Chávez ontem em relação à prisão de
Fernández fala por si e responde
às suas próprias sugestões expressas no último domingo, durante
seu programa na TV estatal, "Alô
Presidente", de que os "conspiradores golpistas", que organizaram a greve geral de 63 dias contra
o governo, deveriam ser detidos.
"Chávez praticamente deu uma
ordem à Justiça em público, ao vivo, durante o programa", afirma
Petrosini. "Ele até ameaçou os juízes, chamando-os de covardes,
remanescentes da Quarta República [Chávez diz que sua revolução bolivariana representa a Quinta República]", diz.
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