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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Governo dos EUA queria decisão ontem; primeiro-ministro fará pronunciamento hoje sobre o assunto

Turquia retarda decisão sobre apoio à guerra

DA REDAÇÃO

O premiê turco, Abdullah Gul, fará uma declaração hoje sobre as negociações com os EUA para a liberação de bases militares do país no caso de uma guerra contra o Iraque. É possível que ele anuncie algum acordo, que incluirá um pacote de ajuda financeira dos EUA, pois a Turquia argumenta que um ataque ao vizinho Iraque trará prejuízos à sua economia.
"Amanhã [hoje] informaremos sobre os últimos desenvolvimentos da votação no Parlamento", disse Gul, em referência à necessidade de os deputados turcos aprovarem a liberação das bases e a entrada de tropas americanas no país. A votação deveria ter ocorrido na última terça.
O chanceler turco, Yasar Yakis, disse achar difícil que o Parlamento analise a questão antes da próxima terça-feira. Mas deixou em aberto a possibilidade de o governo tomar uma decisão antes.
Nos últimos dias, os EUA e a Turquia discordaram sobre o montante da ajuda financeira. Os EUA ofereceram US$ 6 bilhões em doações e mais US$ 20 bilhões em empréstimos privados. Mas a Turquia quer US$ 30 bilhões, a maior parte em doações.
A diferença parecia haver diminuído ontem: os turcos estariam exigindo US$ 10 bilhões em doações, e o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, que na véspera havia dito que a oferta de US$ 6 bilhões era definitiva, afirmou existir "coisas criativas que podemos fazer". Mas Powell exigia uma decisão até ontem à tarde.
Os EUA já têm cerca de 200 mil soldados a postos ou a caminho para um ataque a Bagdá, em sua maioria concentrados ao sul do Iraque, principalmente no Kuait e em porta-aviões no golfo Pérsico.
Mas pretendem basear 80 mil tropas na Turquia, que teriam a missão de atacar o Iraque pelo norte. Diversos navios americanos já se encontram perto da costa turca no mar Mediterrâneo para desembarcar material bélico.
As tropas americanas na Turquia também teriam dois outros objetivos: garantir a segurança de importantes reservas petrolíferas no norte do Iraque e evitar que a minoria curda aproveite o conflito para tentar obter sua independência. Os curdos, maior grupo étnico sem um Estado do mundo, vivem no Curdistão, região dividida entre Iraque, Turquia e Irã.
Segundo analistas, um eventual -mas pouco provável- fracasso das negociações complicaria os planos americanos, mas há alternativas para invadir o Iraque pelo norte, embora com maior risco.
Uma das opções seria transportar soldados por via aérea para o norte do Iraque, região do país sobre a qual o ditador iraquiano, Saddam Hussein, tem pouco controle, e estabelecer uma base militar com pistas de pouso e um quartel-general.
Mas o número de soldados factível de ser transportado por via aérea -cerca de 5.000- seria inferior à quantidade que invadiria o Iraque a partir da Turquia.
Embora os EUA sejam um aliado fundamental, cerca de 80% da população turca é contra uma guerra contra o Iraque. Portanto, a relutância das autoridades turcas em fechar um acordo pode ter o objetivo de mostrar à opinião pública interna que o governo resiste à guerra.


Com agências internacionais


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