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ARTIGO
Como derrotar o narcoterror
JORGE ALBERTO URIBE E.
ESPECIAL PARA A FOLHA
Relatos diversos feitos pela Polícia Federal brasileira na Amazônia, desde maio do ano passado,
revelam que grupos terroristas
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão
recrutando jovens indígenas brasileiros. Os responsáveis pelas investigações desconfiam que esses
jovens estejam sendo usados como "mulas" no tráfico de drogas
que atravessa a fronteira.
Outros informes revelam a presença de grupos das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), as
incorretamente chamadas forças
paramilitares, que estariam fazendo incursões no Panamá: "Os
paramilitares entraram nas vilas
indígenas de Paya e Púcuru, na região panamenha de Darién, onde
assassinaram quatro pessoas e
provocaram um deslocamento
maciço dos moradores, fato insólito na história recente do país".
Enquanto isso, o presidente do
Conselho pela Paz do Peru diz que
"as Farc estão presentes no Peru
não como grupos armados, nem
instalando acampamentos, mas
enviando instrutores e recrutadores para colaborar nos trabalhos
de instrução subversiva".
Esses fatos, entre muitos outros,
evidenciam a ameaça que esse
grupo narcoterrorista de alcance
internacional representa para a
fronteira entre nossos países.
Essa presença criminosa no teatro andino não é um fenômeno
estático, e sim uma realidade dinâmica. Essas ações criminosas
exercem um efeito corrosivo sobre a qualidade de vida dos moradores da região, e por esse motivo
não importa se os supostos ideais
dos criminosos são de esquerda
ou de direita -o resultado é o
mesmo.
Recentemente, Colômbia, Peru
e Brasil assinaram um histórico
acordo multilateral que vai contribuir para desmantelar as redes
criminosas que ameaçam a paz e a
segurança na região.
Estamos oficializando um convênio que vem sendo discutido
nos últimos meses entre os governos dos três países, especificamente entre os ministérios da Defesa dos três, já que estamos convencidos de que, unidos, podemos e devemos fazer frente à
grande ameaça do narcotráfico e
do narcoterrorismo internacional.
Os três países amazônicos compartilhamos não apenas fronteiras amplas, mas também uma visão comum de segurança, o que é
precondição para um desenvolvimento econômico estável na região. Esta é uma oportunidade
para nossas populações de derrotar a violência financiada pela
produção e pelo tráfico de entorpecentes.
Devemos estabelecer um controle férreo sobre os rios, que são
as vias de comunicação mais importantes em nossas fronteiras,
para garantir que nossos cidadãos
possam empregá-los como rotas
de comércio e de liberdade, não
como o conduto pelo qual os narcoterroristas traficam drogas, miséria e morte.
Colômbia, Peru e Brasil são países ricos em cultura e biodiversidade, e nossa cooperação com
vista à segurança é decisiva. Grupos como as Farc, o ELN (Exército de Libertação Nacional) e as
AUC não passam de organizações
criminosas internacionais cujo
único propósito é o enriquecimento próprio por meio da exploração e da opressão de inocentes, como acontece com os indígenas que residem nesta região do
planeta há incontáveis gerações.
Esta é uma demonstração a
mais de que o problema do narcotráfico e do terrorismo não é um
problema colombiano, e sim um
problema da humanidade.
Em conseqüência da eliminação
dos santuários de que dispunham
os plantadores de coca, assim como da redução maciça das plantações ilícitas, em decorrência de
iniciativa do governo colombiano, esses criminosos vão procurar
regiões mais distantes, incluindo
campos nos países vizinhos.
Além desses problemas, até a
data atual mais de 1,8 milhão de
hectares de floresta tropical já foram destruídos pelo cultivo e o
processamento da coca, devido
ao grande número de substâncias
químicas altamente tóxicas utilizadas nesses empreendimentos
criminosos.
Não podemos permitir que isso
continue a acontecer na Colômbia ou em nenhum dos países vizinhos. É por isso que se trabalhou tanto para chegar a esse
acordo.
Nós, na Colômbia, conhecemos
esses grupos por suas ações de
terror e assassinato e não por suas
siglas, tais como aparecem nos
jornais, e esperamos que nossos
vizinhos não tenham de sofrer o
mesmo que nós.
Juntos, podemos melhorar as
condições de vida na região e derrotar esses grupos criminosos. Divididos, nos convertemos em suas
vítimas, e nossas populações, em
seus escravos. Com a assinatura
do presente acordo, damos um
passo a mais em direção à paz e à
segurança dos cidadãos de nossos
países.
Jorge Alberto Uribe E. é ministro da
Defesa da Colômbia.
Tradução de Clara Allain
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