São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Raúl usa versão de slogan de Obama em Cuba

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

"Sí, se puede", gritam apoiadores latinos do pré-candidato democrata Barack Obama ao fundo de um comício que pode ser visto no YouTube. Mas a ovação também poderia ocorrer numa platéia cubana.
O versão em espanhol do "Yes, We Can", que se espalha pelos EUA na melhor jogada de marketing da campanha americana até agora, é também uma marca registrada do ainda presidente interino de Cuba, Raúl Castro, em cartazes pelo país.
A frase de Obama, slogan fácil ligado ao ideário otimista e de superação pessoal e social, foi promovido pelo irmão de Fidel nos anos duros do chamado Período Especial, a crise econômica que se seguiu ao fim da União Soviética.
Raúl gosta de lembrá-la, como o fez em discurso em julho passado: "Então [no começo dos anos 90] dissemos e repetimos com mais razão hoje: Sí, se puede!"
Curiosidade à parte, chama atenção uma outra convergência: estudiosos de Cuba dizem que o futuro e as reformas na ilha dependem enormemente dos rumos eleitorais nos EUA.

Via diplomática
Argumentam que só uma flexibilização da retórica e, principalmente, das medidas restritivas em relação a Cuba teriam efeito real para acelerar liberalizações na ilha.
Lembram que a aproximação delicada dependerá de um jogo astuto e conciliador o suficiente para não passar a impressão desconfortável ao governo de Cuba de que as mudanças na política dos EUA são uma "concessão do império", de cunho intervencionista.
É aí que entra a ascensão da candidatura Barack Obama, citado por dois experimentados analistas da ilha.
"Tudo em Cuba tem a ver com os EUA. [...] A aposentadoria de Fidel, longamente antecipada, significa continuidade. Mas, na evolução da história dessa pequena nação, a eleição de Obama pode ser sísmica", diz Ignacio Ramonet, autor da biografia-entrevista autorizada de Fidel e um dos intelectuais europeus mais próximos da cúpula do poder de Cuba, em um artigo publicado ontem pelo jornal inglês "The Guardian".
No caso de Obama, Ramonet cita a proposta da via diplomática para lidar com os "inimigos", à diferença da rival Hillary Clinton, para qual todas as opções "estão na mesa".
Também o jornalista da "New Yorker" John Lee Anderson avaliou anteontem, em entrevista à Folha, que timing da renúncia de Fidel era bom, tendo em vista o calendário eleitoral americano e o momento favorável na campanha do senador de Illinois.
Não que Obama tenha dito algo diferente de Hillary anteontem, ao reagir à carta do ditador: foram conciliadores.
Mas é o senador que aparece de maneira simpática na cobertura intensa do pleito nas páginas do estatal "Granma", principalmente quando o tema é a oposição do senador à "política belicista" da Casa Branca.
Ontem, por exemplo, a edição eletrônica trouxe reportagem sobre o aumento do voto jovem nos EUA, com duas fotos da campanha obamista.
Obama também foi o único pré-candidato a ser elogiado por uma autoridade cubana. O chanceler da ilha, Felipe Pérez Roque, disse em dezembro que o senador tinha captado "o sentimento da maioria dos americanos" ao criticar o endurecimento do embargo contra Cuba na atual gestão.
Fidel, porém, ainda não fez distinções. Escreveu que tanto "o jovem" Obama como Hillary estão equivocados ao dizerem que é um "dever" lutar pela "abertura democrática" na ilha.


Texto Anterior: Congresso chamará Casa Branca para rever embargo
Próximo Texto: Agora Fidel será processado, diz piloto em Miami
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.