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Raúl usa versão de slogan de Obama em Cuba
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
"Sí, se puede", gritam apoiadores latinos do pré-candidato
democrata Barack Obama ao
fundo de um comício que pode
ser visto no YouTube. Mas a
ovação também poderia ocorrer numa platéia cubana.
O versão em espanhol do
"Yes, We Can", que se espalha
pelos EUA na melhor jogada de
marketing da campanha americana até agora, é também uma
marca registrada do ainda presidente interino de Cuba, Raúl
Castro, em cartazes pelo país.
A frase de Obama, slogan fácil ligado ao ideário otimista e
de superação pessoal e social,
foi promovido pelo irmão de
Fidel nos anos duros do chamado Período Especial, a crise
econômica que se seguiu ao fim
da União Soviética.
Raúl gosta de lembrá-la, como o fez em discurso em julho
passado: "Então [no começo
dos anos 90] dissemos e repetimos com mais razão hoje: Sí, se
puede!"
Curiosidade à parte, chama
atenção uma outra convergência: estudiosos de Cuba dizem
que o futuro e as reformas na
ilha dependem enormemente
dos rumos eleitorais nos EUA.
Via diplomática
Argumentam que só uma flexibilização da retórica e, principalmente, das medidas restritivas em relação a Cuba teriam
efeito real para acelerar liberalizações na ilha.
Lembram que a aproximação
delicada dependerá de um jogo
astuto e conciliador o suficiente para não passar a impressão
desconfortável ao governo de
Cuba de que as mudanças na
política dos EUA são uma "concessão do império", de cunho
intervencionista.
É aí que entra a ascensão da
candidatura Barack Obama, citado por dois experimentados
analistas da ilha.
"Tudo em Cuba tem a ver
com os EUA. [...] A aposentadoria de Fidel, longamente antecipada, significa continuidade.
Mas, na evolução da história
dessa pequena nação, a eleição
de Obama pode ser sísmica",
diz Ignacio Ramonet, autor da
biografia-entrevista autorizada
de Fidel e um dos intelectuais
europeus mais próximos da cúpula do poder de Cuba, em um
artigo publicado ontem pelo
jornal inglês "The Guardian".
No caso de Obama, Ramonet
cita a proposta da via diplomática para lidar com os "inimigos", à diferença da rival Hillary
Clinton, para qual todas as opções "estão na mesa".
Também o jornalista da
"New Yorker" John Lee Anderson avaliou anteontem, em entrevista à Folha, que timing da
renúncia de Fidel era bom, tendo em vista o calendário eleitoral americano e o momento favorável na campanha do senador de Illinois.
Não que Obama tenha dito
algo diferente de Hillary anteontem, ao reagir à carta do ditador: foram conciliadores.
Mas é o senador que aparece
de maneira simpática na cobertura intensa do pleito nas páginas do estatal "Granma", principalmente quando o tema é a
oposição do senador à "política
belicista" da Casa Branca.
Ontem, por exemplo, a edição eletrônica trouxe reportagem sobre o aumento do voto
jovem nos EUA, com duas fotos
da campanha obamista.
Obama também foi o único
pré-candidato a ser elogiado
por uma autoridade cubana. O
chanceler da ilha, Felipe Pérez
Roque, disse em dezembro que
o senador tinha captado "o sentimento da maioria dos americanos" ao criticar o endurecimento do embargo contra Cuba na atual gestão.
Fidel, porém, ainda não fez
distinções. Escreveu que tanto
"o jovem" Obama como Hillary
estão equivocados ao dizerem
que é um "dever" lutar pela
"abertura democrática" na ilha.
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