São Paulo, domingo, 21 de março de 2010

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"Paredón" cubano vitimou ao menos 3.820

Esse é o número de casos documentados no projeto "Cuba Archive", organizado por cubano-americanos baseados em Nova Jersey

Dependendo da fonte, porém, fuzilamentos na ilha desde a instauração do regime castrista, podem ter chegado à casa dos 17 mil

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cinco décadas, o regime dos irmãos Castro fuzilou ao menos 3.820 pessoas e, segundo a estimativa mais conservadora -do próprio Fidel-, manteve na década de 60 não menos que 20 mil oponentes políticos atrás das grades.
A cifra de fuzilados consta do levantamento do projeto "Cuba Archive", mantido por uma associação de cubano-americanos sediada em Nova Jersey (EUA). O grupo, que existe desde 1996, diz ter chegado ao número compilando documentos e depoimentos -desde 1959 até hoje- disponíveis em seu site (www.cubaarchive.org).
Ao arquivo deve se juntar o histórico do preso político Orlando Zapata Tamayo, morto em fevereiro após greve de fome de 85 dias, despertando nova onda de críticas a Havana.
O projeto para documentar os crimes do regime é saudado por Marifeli Stable-Pérez, do think tank Inter-American Dialogue, de Washington, pelo jornalista especializado em América Latina Andres Oppenheimer e por Elizardo Sánchez, que desde 1987 preside a Comissão Nacional de Direitos Humanos de Cuba.
"O Cuba Archive é um bom esforço, mas não são cifras concretas porque a principal fonte é Havana, que não presta contas", diz Pérez-Stable.
Há outras três estimativas citadas por analistas e historiadores consultados pela Folha quando o tema é o "paredón" cubano. O julgamento seguido de fuzilamento eliminou combatentes inimigos e companheiros de guerrilha recém transmutados em "contrarrevolucionários" no pós-1959. Incorporado ao regime jurídico que criminaliza a oposição, seguiu sendo aplicado contra dissidentes políticos de maneira sistemática até os anos 70, e esporadicamente desde então.
No "Livro Negro do Comunismo" (Bertrand Brasil, 1999), diz que entre 15 mil e 17 mil pessoas foram fuziladas. Diferentemente da parte soviética, porém, a seção não pôde contar com arquivos estatais da ilha.
O professor emérito da USP radicado há vários anos na França Ruy Fausto, autor de "Outro Dia" (Perspectiva, 2009), que trata também de Cuba, diz que já há literatura crítica sobre a ilha que aborda o tema, embora raramente editada no Brasil. É o caso de "Cuba, Cronología, Cinco Siglos de Historia, Política y Cultura", de 2003, do historiador cubano Leopoldo Fornés-Bonavía.
Em "Cronología...", estima-se ao menos 4.000 fuzilados até o final de 1961. "Não é o número total de fuzilados que é representativo, porque ele cai nos últimos anos. O que não cai é a repressão, é o conjunto do sistema", diz Fausto.
Já o historiador britânico Hugh Thomas, autor de "Cuba or The Pursuit of The Liberty" [Cuba ou a busca da liberdade] (1971), considerado um clássico sobre história cubana, diz que em torno de 5.000 foram fuzilados até 1970.
Essa é a cifra que costuma citar Marifeli Pérez-Stable, que liderou força-tarefa de historiadores e ativistas de direitos humanos na Universidade Internacional da Flórida em 2003. O objetivo era criar um documento que servisse como embrião de uma futura Comissão da Verdade, nos moldes das feitas no pós-ditadura em países da região como El Salvador.
O documento final -"Cuba: Reconciliação Nacional"- argumenta que, além de exigir respeito aos direitos humanos nos dias de hoje, é preciso refletir "sobre o custo humano requerido pela revolução, em particular, mas não exclusivamente, nos anos 60".
Mais do que números, o painel optou por fixar perguntas e registrar casos-chave de abusos. O texto propõe investigações sobre ações dos oponentes do regime, principalmente os baseados em Miami, que quase sempre tinham apoio da CIA.


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