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"Paredón" cubano vitimou ao menos 3.820
Esse é o número de casos documentados no projeto "Cuba Archive", organizado por cubano-americanos baseados em Nova Jersey
Dependendo da fonte, porém, fuzilamentos na ilha desde a instauração do regime castrista, podem ter chegado à casa dos 17 mil
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em cinco décadas, o regime
dos irmãos Castro fuzilou ao
menos 3.820 pessoas e, segundo a estimativa mais conservadora -do próprio Fidel-, manteve na década de 60 não menos que 20 mil oponentes políticos atrás das grades.
A cifra de fuzilados consta do
levantamento do projeto "Cuba
Archive", mantido por uma associação de cubano-americanos sediada em Nova Jersey
(EUA). O grupo, que existe desde 1996, diz ter chegado ao número compilando documentos
e depoimentos -desde 1959
até hoje- disponíveis em seu
site (www.cubaarchive.org).
Ao arquivo deve se juntar o
histórico do preso político Orlando Zapata Tamayo, morto
em fevereiro após greve de fome de 85 dias, despertando nova onda de críticas a Havana.
O projeto para documentar
os crimes do regime é saudado
por Marifeli Stable-Pérez, do
think tank Inter-American
Dialogue, de Washington, pelo
jornalista especializado em
América Latina Andres Oppenheimer e por Elizardo Sánchez, que desde 1987 preside a
Comissão Nacional de Direitos
Humanos de Cuba.
"O Cuba Archive é um bom
esforço, mas não são cifras concretas porque a principal fonte
é Havana, que não presta contas", diz Pérez-Stable.
Há outras três estimativas citadas por analistas e historiadores consultados pela Folha
quando o tema é o "paredón"
cubano. O julgamento seguido
de fuzilamento eliminou combatentes inimigos e companheiros de guerrilha recém
transmutados em "contrarrevolucionários" no pós-1959.
Incorporado ao regime jurídico
que criminaliza a oposição, seguiu sendo aplicado contra dissidentes políticos de maneira
sistemática até os anos 70, e esporadicamente desde então.
No "Livro Negro do Comunismo" (Bertrand Brasil, 1999),
diz que entre 15 mil e 17 mil
pessoas foram fuziladas. Diferentemente da parte soviética,
porém, a seção não pôde contar
com arquivos estatais da ilha.
O professor emérito da USP
radicado há vários anos na
França Ruy Fausto, autor de
"Outro Dia" (Perspectiva,
2009), que trata também de
Cuba, diz que já há literatura
crítica sobre a ilha que aborda o
tema, embora raramente editada no Brasil. É o caso de "Cuba,
Cronología, Cinco Siglos de
Historia, Política y Cultura", de
2003, do historiador cubano
Leopoldo Fornés-Bonavía.
Em "Cronología...", estima-se ao menos 4.000 fuzilados
até o final de 1961. "Não é o número total de fuzilados que é
representativo, porque ele cai
nos últimos anos. O que não cai
é a repressão, é o conjunto do
sistema", diz Fausto.
Já o historiador britânico
Hugh Thomas, autor de "Cuba
or The Pursuit of The Liberty"
[Cuba ou a busca da liberdade]
(1971), considerado um clássico sobre história cubana, diz
que em torno de 5.000 foram
fuzilados até 1970.
Essa é a cifra que costuma citar Marifeli Pérez-Stable, que
liderou força-tarefa de historiadores e ativistas de direitos
humanos na Universidade Internacional da Flórida em
2003. O objetivo era criar um
documento que servisse como
embrião de uma futura Comissão da Verdade, nos moldes das
feitas no pós-ditadura em países da região como El Salvador.
O documento final -"Cuba:
Reconciliação Nacional"- argumenta que, além de exigir
respeito aos direitos humanos
nos dias de hoje, é preciso refletir "sobre o custo humano
requerido pela revolução, em
particular, mas não exclusivamente, nos anos 60".
Mais do que números, o painel optou por fixar perguntas e
registrar casos-chave de abusos. O texto propõe investigações sobre ações dos oponentes
do regime, principalmente os
baseados em Miami, que quase
sempre tinham apoio da CIA.
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