São Paulo, sábado, 21 de março de 1998 |
Próximo Texto | Índice COMO EM CUBA João Paulo 2º chega hoje ao mais populoso país africano sob expectativa de nova pregação pelos direitos humanos Papa inicia visita política à Nigéria
das agências internacionais Quando o papa João Paulo 2º desembarcar hoje na Nigéria, levará expectativas de mudanças no cenário dos direitos humanos no país mais populoso da África (quase 104 milhões de habitantes). A Igreja Católica local e os grupos que se opõem ao regime do general Sani Abacha acreditam que o papa repetirá o teor político das declarações que fez em Cuba, na sua histórica visita à ilha de Fidel Castro, em janeiro. "Sua santidade não se limitará a trocar amabilidades com Sani Abacha. Os direitos humanos e os presos políticos são assuntos que estarão em discussão", disse ontem Matthew Kukah, secretário da cúria de Lagos, principal metrópole nigeriana. O governo militar nigeriano mantém cerca de cem prisioneiros políticos, o que tem prejudicado a imagem do país. A comparação com Cuba é inevitável: em Havana, João Paulo 2º pediu a liberdade dos presos de consciência. Pouco após deixar o país, Fidel mandou soltar mais de 200 opositores. O prisioneiro político nigeriano mais conhecido é Moshood Abiola, vencedor das eleições presidenciais de 1993. O pleito foi cancelado, e ele foi detido, em 94. A Anistia Internacional, organização que trabalha pelos direitos humanos, condenou ontem a prisão de jornalistas e advogados que participaram de atos pró-democracia nos últimos meses. A imprensa do país é censurada e intimidada por ameaças do governo. Desde que Sani Abacha assumiu, em novembro de 1993, poucos líderes ocidentais visitaram o país que é hoje a grande potência da África ocidental. O presidente dos EUA, Bill Clinton, que inicia amanhã um giro diplomático no continente, não incluiu Abuja em sua rota. O ditador nigeriano tenta utilizar o encontro com João Paulo 2º para se livrar da imagem negativa que carrega. Ele convocou recentemente eleições para o mês de agosto, dizendo estar disposto a dar um fim ao militarismo. Sua posição, porém, parece ambígua: ele próprio é candidato a presidente, e a oposição não esboça concorrência. Maioria muçulmana A religião majoritária na Nigéria é o islamismo. Os cristãos são cerca de 40% da população, embora pequena parte esteja vinculada à Igreja Católica Romana. Esta será a segunda visita do papa ao país. Uma de suas missões na Nigéria será a beatificação do monge Cyprian Michael Iwene, morto em 1964, conhecido por curas milagrosas de pessoas doentes. Cerca de 20 mil crianças recepcionarão o pontífice nas ruas da capital, Abuja. Um problema de falta de combustível ameaça os planos do governo de levar mais de 1 milhão de pessoas na recepção ao papa. Apesar de ter na extração do petróleo sua maior fontes de recursos, muitas refinarias estão desativadas devido a problemas da estatal petrolífera. Próximo Texto | Índice |
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