São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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FRANÇA
Partido direitista expulsa membros que se uniram com a Frente Nacional para se elegerem presidentes de Regiões
Direita racha após alianças com extremistas

MARIANE COMPARATO
de Paris

A direita moderada francesa se dividiu sobre sua posição quanto a alianças com a Frente Nacional, partido de extrema direita que surge como terceira força no jogo político do país.
Cinco das oito Regiões francesas em que a esquerda havia obtido maioria relativa nas eleições dos conselheiros regionais, no último domingo, elegeram um presidente de direita graças aos votos da FN.
Esses cinco presidentes, todos da UDF (União para a Democracia Francesa), foram expulsos do partido. Os presidentes dos partidos da direita moderada, UDF e RPR (Reunião Para a República), haviam alertado que expulsariam todo candidato que tentasse alguma aliança com o partido do extremista Jean-Marie Le Pen, acusado de xenofobia e racismo.
Na última quarta-feira, o presidente da RPR, Philippe Séguin, chegou até a expulsar o número dois do partido, Jean-François Mancel. No começo da semana, Mancel havia explicitado sua vontade de se aproximar da FN: "Nosso papel é o de reintegrar numa grande formação política todos aqueles que se sentem mais à direita do que à esquerda. A FN está se dando conta de que se tornará a direita de amanhã", disse.
O partido de extrema direita, que obteve 15,7% dos votos em toda a França, estava no papel de coringa em 11 regiões.
A direita só conseguiria obter a maioria dos votos se fizesse um acordo com a FN. De fato, nas regiões em que não houve acordo, os conselheiros membros da FN se abstiveram de votar, permitindo assim que os candidatos da esquerda vencessem.
Apesar do apelo lançado pelos chefes de partido, alguns candidatos não resistiram ao "beijo mortal" da FN, expressão usada pelo ex-primeiro-ministro francês de direita Alain Juppé.
Em três regiões, Île-de-France -que compreende a cidade de Paris-, Médios Pirineus e Alta Normandia, as eleições foram adiadas para segunda-feira por falta de quórum. Em minoria no conselho regional, a direita se absteve de votar para não ter de se aliar ao partido de Le Pen nem permitir que um candidato de esquerda fosse eleito.
Na região de Franche-Comté, o candidato da direita Jean-François Humbert demitiu-se três horas depois de ser eleito: "Vozes que não pedi me escolheram. A título pessoal e em nome de meu grupo, minha atitude deve estar em harmonia com minhas convicções e propostas anteriores. Está fora de questão que eu seja eleito presidente nestas condições", disse referindo-se aos votos da FN que possibilitaram sua eleição.
Em desobediência à RPR, na Região de Provence-Alpes-Côte d'Azur, cinco prefeitos se uniram para lançar um apelo em favor da direita. "Devemos respeitar o sufrágio universal que escolheu majoritariamente que a região ficasse à direita", dizia o comunicado. De fato, a região deu 38,3% dos votos para a esquerda, 29,7% para a direita e 25,4% para a FN.
Por enquanto, apenas três regiões elegeram efetivamente um presidente de esquerda. "O dia 20 de março de 98 ficará como um dia sinistro para a República", disse o secretário-geral do PS (Partido Socialista), François Hollande.
Na véspera das eleições, tanto o presidente francês, Jacques Chirac (de direita), quanto o primeiro-ministro Lionel Jospin (de esquerda) lançaram um apelo contra a extrema direita: "As alianças entre direita e FN serão um perigo para nossa vida democrática e para nossa imagem".
O número dois da FN, Bruno Mégret, afirmou que seu partido está prestes a acolher todo candidato expulso da RPR e da UDF.



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