São Paulo, sábado, 21 de abril de 2001

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GUERRA CIVIL

Massacre dos últimos quatro dias foi o maior dos últimos meses; guerrilha suspende diálogo com governo

Paramilitares matam cem na Colômbia

DA REDAÇÃO

Pelo menos cem pessoas foram assassinadas por grupos paramilitares colombianos de extrema direita nos últimos quatro dias no Departamento de Cauca. Foi o maior massacre registrado no país nos últimos meses, segundo as autoridades.
A ofensiva dos paramilitares, contra o Exército de Libertação Nacional (ELN, segunda maior guerrilha da Colômbia), levou os rebeldes a anunciar a suspensão do diálogo com o governo, a quem o grupo acusa de não cumprir "a palavra empenhada".
Apesar disso, o ministro do Interior, Armando Estrada, afirmou que o Executivo mantém sua vontade de negociar e que não considera o anúncio do ELN uma ruptura no processo para chegar a um acordo de paz.
O alto delegado presidencial para a paz, Camilo Gómez, que responsabilizou o chefe paramilitar Carlos Castaño pela atual crise, disse que está disposto a se reunir com a direção do ELN até em outro país, com o objetivo de reativar as negociações. A Venezuela voltou a se oferecer nesta semana para abrigar reuniões entre o governo colombiano e a guerrilha.
Ao anunciar sua decisão de abandonar as negociações, o ELN acusou o presidente Andrés Pastrana de descumprir sua promessa de desmilitarizar uma zona ao norte do país, que serviria para a realização das reuniões de paz.
"As reiteradas violações da palavra empenhada pelo governo demonstram sua falta de vontade de manter um diálogo com o ELN. Por isso, nós nos vemos obrigados a declarar uma suspensão indefinida", disse Pablo Beltrán, que ocupa o terceiro lugar na hierarquia do grupo guerrilheiro.
O anúncio formalizou uma situação que, na prática, existia havia duas semanas, devido à ação paramilitar contra o ELN.
O grupo anunciou, no entanto, que "manterá os contatos com os distintos setores da sociedade civil para continuar a incentivar uma saída política para o conflito" e insistiu na realização de uma convenção nacional em prol da paz com a sociedade civil no sul de Bolívar.
O ELN reivindica de Pastrana a desmilitarização de uma região de 2.000 km2. Apesar de o presidente ter dito ao ELN que o Exército e a polícia sairiam dessa área, a promessa não foi implementada devido à oposição das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, grupo paramilitar de extrema direita) e de moradores da área.
Nas duas últimas semanas, a AUC lançou diversos ataques contra acampamentos da guerrilha na região. Para responder à ofensiva, o ELN se aliou às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a maior guerrilha do país).

Sem esperança
A maioria dos colombianos (62%) não acredita que as negociações de paz possam levar a resultados favoráveis, segundo uma pesquisa de opinião divulgada ontem pela rádio RCN.
A pesquisa, realizada pelo instituto Gallup com mil pessoas de várias cidades colombianas, indica que 75% dos entrevistados reprovam a forma como Pastrana negocia com os paramilitares e que 78% rejeitam o modo como o presidente colombiano lida com a guerrilha.


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