São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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Papa focará na dignidade, diz bispo

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

O bispo brasileiro mais próximo ao papa Bento 16, d. Karl Josef Romer, teve participação central no processo que levou à imposição de silêncio a Leonardo Boff e afirmou, em entrevista à Folha desde Roma, que uma das tarefas do novo pontífice será "entrar muito mais concretamente em temas como a dignidade da criança e a dignidade da mulher".
Romer, 72, que é desde 2002 secretário (segundo na hierarquia) do Pontifício Conselho para a Família, uma das "divisões" da Cúria Romana, afirma haver questões reais levantadas pelo feminismo, mas também "problemas artificiais e fictícios".
"A mulher tem uma riqueza exatamente por não ser como o homem. Em muitas coisas ela é mais do que o varão", diz Romer. "Gritam pelo mundo afora que a mulher deve ser igual, igual. Não há nada mais trágico para o homem do que a mulher igual."
O suíço naturalizado brasileiro, que chegou ao país em 1965, teve sua trajetória na igreja ligada ao cardeal Joseph Ratzinger e ao arcebispo emérito do Rio de Janeiro, d. Eugenio de Araújo Sales.
Foi d. Eugênio, ainda cardeal na Bahia, quem trouxe Romer ao Brasil, para cuidar do Instituto de Teologia em Salvador. Mais tarde os dois se reencontraram no Rio, quando, no início da década de 70, o arcebispo do Rio fez de Romer bispo-auxiliar e presidente da Comissão Arquidiocesana de Doutrina, versão local da Congregação para a Doutrina da Fé, até agora presidida por Ratzinger.
No início da década de 80, d. Karl Romer, como presidente da comissão, envolveu-se no debate sobre o livro "Igreja, Carisma e Poder", de Boff, que mais tarde levaria à imposição de silêncio.
Após fazer publicar na revista da diocese um texto crítico ao livro de Boff, o bispo brasileiro diz ter aceito uma réplica do então frade, impresso com uma tréplica outra vez crítica. Boff mandou nova resposta, que não foi publicada. Segundo d. Eugenio, teria sido a reclamação feita por Boff a Roma sobre a crítica a seu texto que precipitou o processo que finalmente lhe impôs um período de silêncio. Contrariamente ao que reconhece ser a opinião geral sobre o episódio, Romer afirma que não levou o assunto a Roma.
"Em 1985, o cardeal Ratzinger publica a notificação a Boff e lhe impõe um ano em silêncio. Nessa notificação, diz que a arquidiocese tomou posição e que Leonardo Boff apelou à Santa Sé contra a arquidiocese", diz o bispo.
A proximidade de Ratzinger e Romer nos anos 80 se deu também porque o brasileiro se torna o responsável pela versão brasileira da revista "Communio", criada pelo alemão, e os dois passam a ter contatos mais freqüentes.


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