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DILEMA PERSA
Plano tem como meta transferir responsabilidades para líderes ocidentais
Depois de enviar uma longa correspondência a Bush, presidente iraniano busca "ganhar crédito" com a opinião pública mundial
Ahmadinejad pretende enviar carta para o papa
DO ENVIADO A TEERÃ
Na quinta-feira, o jornal iraniano "Jomhuri Ye Eslami" publicou que o presidente Mahmoud Ahmadinejad pretende
continuar sua série de cartas a
líderes mundiais com uma correspondência a ser enviada ao
papa Bento 16. A notícia não foi
confirmada pelos líderes locais,
mas ganha certa credibilidade
por ter sido veiculada onde foi e
pelo fato de não haver imprensa livre no Irã.
O "Eslami" é de propriedade
da Casa do Líder Supremo, o
aiatolá; os diários iranianos
pertencem a um partido, instância ou cargo político. E nada
é publicado no país sem ter sido
lido por um censor. Se confirmada, a segunda carta de Ahmadinejad indica que o aiatolá
Khamenei estaria fortalecendo
o cargo e a figura do presidente.
O envio de cartas a líderes remete ao profeta Maomé, fundador do islamismo, mas até agora, pelo menos no Irã, era prerrogativa do líder religioso. Khomeini já mandou uma carta a
um papa, assim como a um presidente, no caso o então líder
soviético Mikhail Gorbachov,
em 1989, em que o convidava a
estudar o Islã.
A carta de 18 páginas que Ahmadinejad mandou a Bush no
começo de maio provavelmente faz parte de uma estratégia
conjunta dos dois líderes, o do
governo e o religioso (a quem o
presidente é subordinado), de
comprar crédito na opinião pública mundial caso o programa
nuclear iraniano chegue a um
impasse e de transferir a responsabilidade para o "Ocidente", representado por Bush, o
papa e quem mais vier.
É o que defende o egípcio
Mustafa El-Labbad, especialista em assuntos iranianos, para
quem com isso Ahmadinejad
ganha também o público interno. Com ele concorda o guia turístico Peyman Moghdan, 24.
"Os iranianos podem não ter
entendido completamente a
atitude do presidente, mas respeitaram e apreciaram sua iniciativa de ousar enfrentar
Bush", disse ele à Folha.
(SÉRGIO DÁVILA)
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