São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Virada faz de azarão favorito no México

A quarenta dias das eleições, esquerdista López Obrador é ultrapassado por Felipe Calderón, candidato conservador

Campanha agressiva do candidato de Fox na TV e clima de "já ganhou" entre a esquerda embaralha a campanha mexicana


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um azarão se tornou o favorito para ser o próximo presidente do México. O candidato conservador Felipe Calderón era desconhecido da maioria dos mexicanos até o ano passado. Nos últimos quinze dias, ele conseguiu superar nas pesquisas o favorito ao cargo pelos últimos dois anos, o candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador. E já tirou uma vantagem de 4% a 7% em diferentes pesquisas.
Como não há segundo turno, a eleição no próximo 2 de julho promete ser muito disputada. A única certeza é que o antes todo-poderoso Partido Revolucionário Institucional, que governou o país por 71 anos, tem poucas chances. Seu candidato, Roberto Madrazo, tem 22%.
O crescimento de Felipe Calderón é surpresa até no seu partido, o da Ação Nacional (PAN), de centro-direita, que está no governo desde 2000. O presidente Vicente Fox preferia outro sucessor, seu ministro Santiago Creel, e brigou com Calderón pela insistência deste em ser o candidato.
Calderón ganhou a disputa interna e hoje está completamente reconciliado com Fox. Aos 43 anos, ele é o candidato mais jovem da campanha. Seu índice de rejeição é de apenas 10%, o menor entre os candidatos. Madrazo tem rejeição de 36%, e López Obrador, de 24%.
Advogado e economista, Calderón é filho de um dos fundadores do PAN. Estudou em universidades particulares de prestígio no México e fez pós-graduação em Harvard. No governo Fox, dirigiu um banco estatal e foi, por poucos meses, ministro de Energia. Saiu, depois de uma reprimenda do presidente por ter se "apressado" a declarar sua candidatura.
Certamente não exibe a mesma origem humilde de López Obrador, que governou a Cidade do México entre 2000 e 2005, com aprovação de 70%. Aos 52 anos, filho de modestos comerciantes, Obrador orgulha-se de sua simplicidade. Não fala inglês e em sua vida só visitou dois países no exterior: Estados Unidos e Cuba.
"A queda de Obrador se deve ao clima de "já ganhou" que imperou em sua campanha. Tinha uma vantagem enorme. Começou a trocar programas de tevê por caravanas em cidades pequenas para ser aclamado como candidato do povo", diz o escritor e jornalista Héctor Aguilar Camín, doutor em história pelo Colégio do México.
"Ele se recusou a ir ao primeiro debate dos candidatos, em abril, e isso foi percebido como arrogância." Quem ganhou o debate, segundo as pesquisas de opinião? Calderón.
Para a jornalista e diretora da edição da "Foreign Affairs" em espanhol, Rossana Fuentes, não há muita margem de manobra para quem vencer, dada a ligação do país com os Estados Unidos. "Com Obrador, teremos mais presença do Estado; com Calderón, mais algumas reformas liberais."


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