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Propaganda negativa na tevê afeta campanha do candidato da esquerda
DA REPORTAGEM LOCAL
Se López Obrador faltou ao
debate e ficou sem freqüentar
programas de tevê (algo que ele
começa a corrigir agora para recuperar o tempo perdido), Calderón só cresceu com a televisão. Sua propaganda é acompanhada de anúncios que atacam
o candidato de esquerda como
"populista", "autoritário" e um
"perigo para o México".
O presidente Vicente Fox
também entrou em cheio na
campanha. Enquanto fala das
realizações de seu governo, faz
vários discursos indiretos contra o ex-prefeito. "Cuidado com
o populismo, com os profetas
das soluções fáceis", diz.
López Obrador respondeu
agressivamente ao presidente.
"Cale-se, chachalaca (papagaio)". No ano passado, quando
Fox defendeu a Alca e criticou
Hugo Chávez, na Cúpula das
Américas, na Argentina, o presidente venezuelano também
disse "cala a boca" ao mexicano.
A campanha de Calderón
aproveitou para comparar
Obrador a Chávez. "Eles são
parecidos nesse autoritarismo,
nessa sensação de que só eles
possuem a verdade", disse o
conservador.
Mas, apesar de sua retórica
populista e sua simpatia declarada por Cuba, um dos grandes
padrinhos de Obrador enquanto prefeito foi o bilionário mexicano Carlos Slim, dono da gigante telefônica Telmex, e da
Embratel e da Claro no Brasil.
Com a iniciativa e os grandes
investimentos de Slim, Obrador pôde fazer uma de suas
maiores obras: a revitalização
do Centro Histórico da capital.
"Obrador não foi capaz de
responder à publicidade negativa, que o transformou em um
"perigo", em um novo Chávez",
diz a jornalista Rossana Fuentes, da revista "Foreign Affairs"
em espanhol. "Depois do "cale-se", ficou como um autoritário".
Chávez não foi o único personagem "externo" usado na
campanha. Em fevereiro, enquanto patinava nas pesquisas,
Calderón recebeu o apoio público do ex-premiê espanhol
José María Aznar. Aliado de
Bush na invasão do Iraque, não
agradou o eleitorado local. No
mesmo mês, Calderón criticou
em uma entrevista a pílula do
dia seguinte, anticoncepcional
que é distribuído nos hospitais
públicos do governo.
Calderón precisou afastar a
imagem de forte conservadorismo católico que é marca do
seu partido. Afirmou não ir regularmente à missa e se definiu
como um "pecador-padrão".
Presidente popular
Apesar de se apresentar como uma "cara nova" e de não
gastar seu tempo defendendo o
governo, Calderón aproveita a
alta popularidade de Fox.
Com 5 anos e 5 meses de
mandato, sua aprovação é superior a 60%. Seu programa de
assistência aos mais pobres,
nos moldes do brasileiro Bolsa-Família, mas criado antes e
com maior abrangência, é um
sucesso. A economia cresceu
5% no primeiro trimestre.
Fox também reforçou sua estatura como líder no
ano passado, durante o resgate
às vítimas dos furacões Stan e
Vilma no Golfo do México. O
oposto do que aconteceu com
Bush depois do Katrina.
Ainda assim, o legado de Fox
não é dos melhores. O crescimento econômico ficou bem
abaixo do esperado, principalmente entre 2001 e 2003. O setor de manufaturas e das maquiladoras foi duramente atingido pela concorrência da China. Várias reformas - tributária, trabalhista - não foram feitas, em um congresso onde Fox
jamais conseguiu maioria.
E a desigualdade social ainda
é a segunda pior da América Latina, apenas depois da brasileira. "Não se sabe quem vai ganhar porque o eleitor está mudando de um lado para o outro
facilmente, não há uma clara liderança", diz o historiador
Aguilar Camín. "Quem vencer
terá que mostrar mais habilidade do que Fox em criar consensos no Congresso."
(RJL)
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