São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Propaganda negativa na tevê afeta campanha do candidato da esquerda

DA REPORTAGEM LOCAL

Se López Obrador faltou ao debate e ficou sem freqüentar programas de tevê (algo que ele começa a corrigir agora para recuperar o tempo perdido), Calderón só cresceu com a televisão. Sua propaganda é acompanhada de anúncios que atacam o candidato de esquerda como "populista", "autoritário" e um "perigo para o México".
O presidente Vicente Fox também entrou em cheio na campanha. Enquanto fala das realizações de seu governo, faz vários discursos indiretos contra o ex-prefeito. "Cuidado com o populismo, com os profetas das soluções fáceis", diz.
López Obrador respondeu agressivamente ao presidente. "Cale-se, chachalaca (papagaio)". No ano passado, quando Fox defendeu a Alca e criticou Hugo Chávez, na Cúpula das Américas, na Argentina, o presidente venezuelano também disse "cala a boca" ao mexicano.
A campanha de Calderón aproveitou para comparar Obrador a Chávez. "Eles são parecidos nesse autoritarismo, nessa sensação de que só eles possuem a verdade", disse o conservador.
Mas, apesar de sua retórica populista e sua simpatia declarada por Cuba, um dos grandes padrinhos de Obrador enquanto prefeito foi o bilionário mexicano Carlos Slim, dono da gigante telefônica Telmex, e da Embratel e da Claro no Brasil. Com a iniciativa e os grandes investimentos de Slim, Obrador pôde fazer uma de suas maiores obras: a revitalização do Centro Histórico da capital.
"Obrador não foi capaz de responder à publicidade negativa, que o transformou em um "perigo", em um novo Chávez", diz a jornalista Rossana Fuentes, da revista "Foreign Affairs" em espanhol. "Depois do "cale-se", ficou como um autoritário".
Chávez não foi o único personagem "externo" usado na campanha. Em fevereiro, enquanto patinava nas pesquisas, Calderón recebeu o apoio público do ex-premiê espanhol José María Aznar. Aliado de Bush na invasão do Iraque, não agradou o eleitorado local. No mesmo mês, Calderón criticou em uma entrevista a pílula do dia seguinte, anticoncepcional que é distribuído nos hospitais públicos do governo.
Calderón precisou afastar a imagem de forte conservadorismo católico que é marca do seu partido. Afirmou não ir regularmente à missa e se definiu como um "pecador-padrão".

Presidente popular
Apesar de se apresentar como uma "cara nova" e de não gastar seu tempo defendendo o governo, Calderón aproveita a alta popularidade de Fox.
Com 5 anos e 5 meses de mandato, sua aprovação é superior a 60%. Seu programa de assistência aos mais pobres, nos moldes do brasileiro Bolsa-Família, mas criado antes e com maior abrangência, é um sucesso. A economia cresceu 5% no primeiro trimestre.
Fox também reforçou sua estatura como líder no ano passado, durante o resgate às vítimas dos furacões Stan e Vilma no Golfo do México. O oposto do que aconteceu com Bush depois do Katrina.
Ainda assim, o legado de Fox não é dos melhores. O crescimento econômico ficou bem abaixo do esperado, principalmente entre 2001 e 2003. O setor de manufaturas e das maquiladoras foi duramente atingido pela concorrência da China. Várias reformas - tributária, trabalhista - não foram feitas, em um congresso onde Fox jamais conseguiu maioria.
E a desigualdade social ainda é a segunda pior da América Latina, apenas depois da brasileira. "Não se sabe quem vai ganhar porque o eleitor está mudando de um lado para o outro facilmente, não há uma clara liderança", diz o historiador Aguilar Camín. "Quem vencer terá que mostrar mais habilidade do que Fox em criar consensos no Congresso." (RJL)


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