São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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Reocupação é ação política, não militar, diz analista

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

A reocupação de cidades sob administração palestina na Cisjordânia até que cessem os atentados contra israelenses é uma decisão essencialmente política, não militar, do premiê Ariel Sharon.
A afirmação é do analista militar israelense Zeev Schiff, que prevê novas incursões em territórios palestinos. "A política de Sharon é fixar um preço em territórios para as ações", afirma Schiff.
Leia a seguir trechos da entrevista que o analista concedeu à Folha, por telefone, de Tel Aviv.

Folha - Sharon anunciou que vai reocupar os territórios palestinos até que cessem os atentados. Essa é a nova estratégia de Israel?
Zeev Schiff -
Essa é a abordagem do primeiro-ministro, à qual se opõe o ministro da Defesa [Binyamin ben Eliezer, do Partido Trabalhista". A política de Sharon é fixar um preço em territórios para as ações terroristas, ou seja, toda vez que houver uma operação suicida, ele assumirá o controle de áreas controladas por palestinos.
A estratégia de Sharon deve se manter enquanto o terrorismo perdurar. Pode-se concluir que, se o terrorismo acabar, a vida vai retornar ao normal, mas não se sabe se isso vai acabar. O ministro da Defesa já disse que não concorda com a idéia de ocupar territórios e foi apoiado por Peres [o chanceler Shimon Peres, do mesmo partido". Para eles, a operação militar deve ser pautada pelas necessidades operacionais.

Folha - É possível prever quanto tempo a operação atual vai durar?
Schiff -
Não, pois, de acordo com a política de Sharon, ela vai continuar até o fim do terrorismo. Se o Exército entrar em Jenin ou em algum vilarejo e houver um ataque terrorista em outro local, ele vai permanecer em todos os locais. Ou seja, se outra porção de terra for tomada e acontecer um novo atentado em qualquer lugar, o Exército vai continuar ali.
O ministro da Defesa diz que, se ele tiver informação de serviços de inteligência de que em alguma cidade alguém está planejando um ataque suicida, seja recrutando pessoas ou preparando um cinto de explosivos, ele deve caçá-lo em sua casa, na casa de parentes etc. Mas, quando a operação for concluída, o Exército sairá. Isso é uma outra estratégia. O debate atual não é apenas militar. A decisão de Sharon é essencialmente política, não militar.

Folha - Quais as principais diferenças entre a operação atual e a que foi realizada do final de março ao início de maio?
Schiff -
Na última vez, imperou a opção do ministro da Defesa. Eles entraram, limparam o lugar e saíram. Eles reocuparam muitas cidades da Cisjordânia, mas não tocaram em Jericó, por exemplo, onde não havia atividades terroristas. E os soldados deixaram as cidades após algumas poucas semanas. Nesse período, não houve calma completa, mas aconteceu uma redução das atividades terroristas. A operação "Muro Protetor" se baseou na linha do ministro da Defesa.

Folha - O Exército entrou em Belém, Jenin, Qalqilya, Tulkarem e Beitunia. Haverá novas incursões?
Schiff -
Além das cidades, há vilarejos que devem ser reocupados. Estou certo de que isso vai acontecer. De experiências do passado, sabemos que houve uma redução no terrorismo principalmente porque não era possível se locomover entre as cidades palestinas. Para isso acontecer, é preciso estar em vários locais. Belém [ocupada ontem" não é o fim disso. A tragédia aqui não vai machucar apenas os terroristas mas também as pessoas que não estão envolvidas com terrorismo, pois não é possível fazer a distinção.
Ontem [anteontem" mesmo uma mulher e sua neta foram mortas. Os ataques contra civis continuam, e isso facilita a aceitação da operação militar.

Folha - Reservistas devem participar da operação?
Schiff -
Sim, para manter a estratégia atual sem dúvida são necessários mais soldados.

Folha - A cerca que está sendo construída por Israel vai ajudar a evitar atentados ?
Schiff -
Pode ajudar, mas não resolve a questão. Uma barreira, uma cerca de segurança, significa muito mais. É um movimento com implicações muito maiores, pedindo a separação entre os dois povos. Não é só uma cerca que pode dificultar a passagem de parte deles. É dizer: "Não queremos vê-los, queremos um divórcio total". Isso é apenas o começo.



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