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Reocupação é ação política, não militar, diz analista
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
A reocupação de cidades sob administração palestina na Cisjordânia até que cessem os atentados contra israelenses é uma decisão essencialmente política, não militar, do premiê Ariel Sharon.
A afirmação é do analista militar israelense Zeev Schiff, que prevê novas incursões em territórios palestinos. "A política de Sharon é
fixar um preço em territórios para as ações", afirma Schiff.
Leia a seguir trechos da entrevista que o analista concedeu à
Folha, por telefone, de Tel Aviv.
Folha - Sharon anunciou que vai
reocupar os territórios palestinos
até que cessem os atentados. Essa
é a nova estratégia de Israel?
Zeev Schiff - Essa é a abordagem
do primeiro-ministro, à qual se
opõe o ministro da Defesa [Binyamin ben Eliezer, do Partido Trabalhista". A política de Sharon é
fixar um preço em territórios para
as ações terroristas, ou seja, toda
vez que houver uma operação
suicida, ele assumirá o controle de
áreas controladas por palestinos.
A estratégia de Sharon deve se
manter enquanto o terrorismo
perdurar. Pode-se concluir que,
se o terrorismo acabar, a vida vai
retornar ao normal, mas não se
sabe se isso vai acabar. O ministro
da Defesa já disse que não concorda com a idéia de ocupar territórios e foi apoiado por Peres [o
chanceler Shimon Peres, do mesmo partido". Para eles, a operação
militar deve ser pautada pelas necessidades operacionais.
Folha - É possível prever quanto
tempo a operação atual vai durar?
Schiff - Não, pois, de acordo com
a política de Sharon, ela vai continuar até o fim do terrorismo. Se o
Exército entrar em Jenin ou em algum vilarejo e houver um ataque
terrorista em outro local, ele vai
permanecer em todos os locais.
Ou seja, se outra porção de terra
for tomada e acontecer um novo
atentado em qualquer lugar, o
Exército vai continuar ali.
O ministro da Defesa diz que, se
ele tiver informação de serviços
de inteligência de que em alguma
cidade alguém está planejando
um ataque suicida, seja recrutando pessoas ou preparando um
cinto de explosivos, ele deve caçá-lo em sua casa, na casa de parentes etc. Mas, quando a operação
for concluída, o Exército sairá. Isso é uma outra estratégia. O debate atual não é apenas militar. A decisão de Sharon é essencialmente
política, não militar.
Folha - Quais as principais diferenças entre a operação atual e a
que foi realizada do final de março
ao início de maio?
Schiff - Na última vez, imperou a
opção do ministro da Defesa. Eles
entraram, limparam o lugar e saíram. Eles reocuparam muitas cidades da Cisjordânia, mas não tocaram em Jericó, por exemplo,
onde não havia atividades terroristas. E os soldados deixaram as
cidades após algumas poucas semanas. Nesse período, não houve
calma completa, mas aconteceu
uma redução das atividades terroristas. A operação "Muro Protetor" se baseou na linha do ministro da Defesa.
Folha - O Exército entrou em Belém, Jenin, Qalqilya, Tulkarem e
Beitunia. Haverá novas incursões?
Schiff - Além das cidades, há vilarejos que devem ser reocupados. Estou certo de que isso vai
acontecer. De experiências do
passado, sabemos que houve uma
redução no terrorismo principalmente porque não era possível se
locomover entre as cidades palestinas. Para isso acontecer, é preciso estar em vários locais. Belém
[ocupada ontem" não é o fim disso. A tragédia aqui não vai machucar apenas os terroristas mas
também as pessoas que não estão
envolvidas com terrorismo, pois
não é possível fazer a distinção.
Ontem [anteontem" mesmo
uma mulher e sua neta foram
mortas. Os ataques contra civis
continuam, e isso facilita a aceitação da operação militar.
Folha - Reservistas devem participar da operação?
Schiff - Sim, para manter a estratégia atual sem dúvida são necessários mais soldados.
Folha - A cerca que está sendo
construída por Israel vai ajudar a
evitar atentados ?
Schiff - Pode ajudar, mas não resolve a questão. Uma barreira,
uma cerca de segurança, significa
muito mais. É um movimento
com implicações muito maiores,
pedindo a separação entre os dois
povos. Não é só uma cerca que
pode dificultar a passagem de
parte deles. É dizer: "Não queremos vê-los, queremos um divórcio total". Isso é apenas o começo.
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