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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Segundo o "NY Times" e a TV CNN, a CIA estaria à caça do ex-ditador ainda em território iraquiano

EUA acreditam que Saddam possa estar vivo

Chris Helgren/Reuters
O sargento norte-americano Dennis Duell lamenta a morte de um soldado em ataque iraquiano


LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Desaparecido desde o início de abril, Saddam Hussein provavelmente está vivo. A hipótese passou a ser tratada com maior ênfase pelos EUA, segundo a imprensa americana, depois da interceptação de diálogos entre membros foragidos da Fedayin (força paramilitar leal ao ex-ditador) e o serviço secreto iraquiano.
Segundo analistas, se essa possibilidade se confirmar -ou ganhar corpo nas investigações americanas, o que estaria começando a acontecer, segundo o jornal "New York Times" e a rede de TV CNN-, o presidente George W. Bush pode se ver obrigado a dar mais explicações sobre a guerra do que gostaria. E, desta vez, não só para congressistas e governos estrangeiros incrédulos quanto às suas motivações, mas também para um público americano descrente da eficácia das guerras "de prevenção".
Não à toa, nos últimos dias, membros do governo começaram a se mostrar menos certos do paradeiro de Saddam.

Caça e resistência
Segundo o "Times" e a CNN, funcionários americanos disseram ter obtido informações que levaram os militares a intensificar as buscas por Saddam e seus filhos Uday e Qusay. A caçada, mantida sob sigilo, seria conduzida com apoio da CIA.
O comando americano também conta com a possibilidade de obter informações sobre Saddam por meio de seu principal assessor, Abid Hamid Mahmud al Tikriti, preso nesta semana. Mahmud era o quarto na lista dos iraquianos mais procurados, atrás de Saddam e dos filhos.
É possível que, se vivo, o ex-ditador permanecesse no Iraque, acobertado pela resistência pós-guerra, que fez das tropas americanas alvo de ataques constantes que causaram mais de 40 baixas.

Candidatura arranhada
Segundo analistas, a posição de Bush pode se complicar caso cresça a crença na possibilidade de Saddam estar vivo. Ao contrário de seu aliado britânico, o premiê Tony Blair, Bush não enfrenta grandes pressões devido ao fato de as armas de destruição em massa iraquianas -maior justificativa para a guerra- ainda não terem sido achadas, e menos ainda pela dificuldade dos EUA em manterem a segurança no Iraque.
"A maioria dos americanos está feliz por se livrar de Saddam e não pretende lucubrar sobre a justificativa que ele [Bush] deu para a guerra. Isso pode mudar com o tempo e se tornar um tema da campanha [eleitoral]", disse à Folha Thomas E. Mann, especialista em política do Instituto Brookings, em Washington.
Para Jamie Metzl, especialista em segurança do Council of Foreign Relations (Washington), se as armas de destruição em massa não forem achadas e se Saddam continuar incógnito, "estará quebrada a espinha dorsal do que foi a posição americana sobre o Iraque". "As pessoas vão começar a questionar o que temos conseguido com tantas guerras."
Os dois especialistas, no entanto, crêem que Bush ainda conte com a guerra contra o terrorismo como trunfo, mesmo que tenha aberto um flanco vulnerável. "Sem ela [a guerra ao terrorismo], Bush estaria em maus lençóis", disse Mann. Metzl concorda. "Ele não vai perder tudo o que conquistou, mas certamente os democratas [oposição] poderão usar isso na campanha, e as pessoas vão começar a levantar muitas dúvidas. Ele está vulnerável."



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