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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Pressão para evitar atentados causa prisões desnecessárias

Ação antiterror do FBI lesa inocentes

MICHAEL MOSS
DO ""NEW YORK TIMES"

Numa noite em abril, o chefe do FBI (polícia federal dos EUA) em Indiana, Thomas Fuentes, foi a uma mesquita em Evansville para pedir ajuda na luta contra o terrorismo. Cerca de cem muçulmanos o ouviram educadamente.
Então a mulher do dono de um restaurante local pediu a palavra para lhe contar o que acontecera na última ocasião em que agentes do FBI os tinham procurado, pouco após os ataques de 11 de setembro. Devido a uma informação dada aos agentes, o marido dela, Tarek Albasti, e oito outros homens foram detidos, algemados, tiveram de desfilar diante de um fotógrafo de jornal e foram presos por uma semana. A informação acabou revelando ser falsa.
Em seguida, porém, quatro dos homens tiveram seus nomes inscritos como acusados de terrorismo num registro nacional de criminosos, apesar de nunca terem sido formalmente acusados de nada, como o FBI reconheceu mais tarde. O fato de terem sido fichados os impediu de viajar de avião, alugar apartamentos ou conseguir empregos.
""As pessoas choravam enquanto ela descrevia a situação", recordou Fuentes. ""Ao final, ela disse: "Meu marido foi solto, e até hoje, 19 meses depois, ninguém pediu desculpas pelo que aconteceu"."
Fuentes fez mais do que pedir desculpas. Na semana passada, a pedido dele, um juiz federal ordenou a retirada dos nomes dos homens de todos os registros criminosos federais.
A iniciativa pública incomum de limpar o nome dos homens de Evansville acontece depois de vários processos por terrorismo terem dado em nada porque se basearam em indicações falsas.
Sob pressão intensa para evitar outro ataque terrorista, os agentes federais têm agido com base em informações prestadas por pessoas que podem ter motivações escusas, com isso provocando sustos desnecessários e tumultuando a vida de inocentes.
Num relatório feito neste mês, o inspetor-geral do Departamento da Justiça constatou que, nos meses que se seguiram aos ataques de 11 de setembro, muitos imigrantes ilegais sem conexão com o terrorismo foram detidos e mantidos em condições duras.
As autoridades federais prometeram tomar medidas para corrigir a situação. Uma delas seria uma avaliação mais criteriosa das informações anônimas. Mas defenderam sua estratégia de investigar a maioria das denúncias, dizendo que ela é importante para impedir outro ataque.
Registros dos tribunais e entrevistas com testemunhas e autoridades da Justiça, porém, mostram que mesmo informações aparentemente plausíveis oferecidas por pessoas identificadas já levaram a investigações infundadas.
Em Michigan, Mohamed Alajji, do Iêmen, passou sete dias preso, até que os agentes interrogassem seu acusador. Ficou claro que ele tinha sido acusado falsamente devido a uma rixa familiar.
No Texas, o estudante marroquino Esshassah Fouad foi preso depois que sua ex-mulher o acusou de conspiração terrorista. Ela foi condenada a um ano de prisão por fazer acusação falsa.
As autoridades federais e estaduais em Detroit investigaram as acusações feitas pelo informante Gussan Abraham Jarrar contra sete cidadãos americanos que, segundo ele, teriam formado um grupo terrorista. Todas as acusações provaram ser falsas, e Jarrar, que já tinha um longo histórico de prisões anteriores, acabou admitindo ter dado informações falsas.
O secretário da Justiça dos EUA, John Ashcroft, disse que vai continuar a deter pessoas pelo tempo necessário para assegurar que elas não têm vínculos com o terror. ""É evidente que, num mundo ideal, gostaríamos de poder inocentar as pessoas imediatamente", disse.


Tradução de Clara Allain


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