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GUERRA SEM LIMITES
Pressão para evitar atentados causa prisões desnecessárias
Ação antiterror do FBI lesa inocentes
MICHAEL MOSS
DO ""NEW YORK TIMES"
Numa noite em abril, o chefe do
FBI (polícia federal dos EUA) em
Indiana, Thomas Fuentes, foi a
uma mesquita em Evansville para
pedir ajuda na luta contra o terrorismo. Cerca de cem muçulmanos o ouviram educadamente.
Então a mulher do dono de um
restaurante local pediu a palavra
para lhe contar o que acontecera
na última ocasião em que agentes
do FBI os tinham procurado,
pouco após os ataques de 11 de setembro. Devido a uma informação dada aos agentes, o marido
dela, Tarek Albasti, e oito outros
homens foram detidos, algemados, tiveram de desfilar diante de
um fotógrafo de jornal e foram
presos por uma semana. A informação acabou revelando ser falsa.
Em seguida, porém, quatro dos
homens tiveram seus nomes inscritos como acusados de terrorismo num registro nacional de criminosos, apesar de nunca terem
sido formalmente acusados de
nada, como o FBI reconheceu
mais tarde. O fato de terem sido
fichados os impediu de viajar de
avião, alugar apartamentos ou
conseguir empregos.
""As pessoas choravam enquanto ela descrevia a situação", recordou Fuentes. ""Ao final, ela disse:
"Meu marido foi solto, e até hoje,
19 meses depois, ninguém pediu
desculpas pelo que aconteceu"."
Fuentes fez mais do que pedir
desculpas. Na semana passada, a
pedido dele, um juiz federal ordenou a retirada dos nomes dos homens de todos os registros criminosos federais.
A iniciativa pública incomum
de limpar o nome dos homens de
Evansville acontece depois de vários processos por terrorismo terem dado em nada porque se basearam em indicações falsas.
Sob pressão intensa para evitar
outro ataque terrorista, os agentes
federais têm agido com base em
informações prestadas por pessoas que podem ter motivações
escusas, com isso provocando
sustos desnecessários e tumultuando a vida de inocentes.
Num relatório feito neste mês, o
inspetor-geral do Departamento
da Justiça constatou que, nos meses que se seguiram aos ataques
de 11 de setembro, muitos imigrantes ilegais sem conexão com
o terrorismo foram detidos e
mantidos em condições duras.
As autoridades federais prometeram tomar medidas para corrigir a situação. Uma delas seria
uma avaliação mais criteriosa das
informações anônimas. Mas defenderam sua estratégia de investigar a maioria das denúncias, dizendo que ela é importante para
impedir outro ataque.
Registros dos tribunais e entrevistas com testemunhas e autoridades da Justiça, porém, mostram
que mesmo informações aparentemente plausíveis oferecidas por
pessoas identificadas já levaram a
investigações infundadas.
Em Michigan, Mohamed Alajji,
do Iêmen, passou sete dias preso,
até que os agentes interrogassem
seu acusador. Ficou claro que ele
tinha sido acusado falsamente devido a uma rixa familiar.
No Texas, o estudante marroquino Esshassah Fouad foi preso
depois que sua ex-mulher o acusou de conspiração terrorista. Ela
foi condenada a um ano de prisão
por fazer acusação falsa.
As autoridades federais e estaduais em Detroit investigaram as
acusações feitas pelo informante
Gussan Abraham Jarrar contra
sete cidadãos americanos que, segundo ele, teriam formado um
grupo terrorista. Todas as acusações provaram ser falsas, e Jarrar,
que já tinha um longo histórico de
prisões anteriores, acabou admitindo ter dado informações falsas.
O secretário da Justiça dos EUA,
John Ashcroft, disse que vai continuar a deter pessoas pelo tempo
necessário para assegurar que elas
não têm vínculos com o terror. ""É
evidente que, num mundo ideal,
gostaríamos de poder inocentar
as pessoas imediatamente", disse.
Tradução de Clara Allain
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