São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"NOVA GERAÇÃO"

Passagem de poder para a "quarta geração" da Revolução Chinesa inicia-se em reunião num balneário

China começa a definir mudanças no poder

JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Beidaihe, cidade litorânea a pouco mais de 200 km de Pequim, se transforma nesta semana em epicentro da política chinesa, ao repetir a tradição anual de receber dirigentes comunistas em veraneio e inclinados a debater os rumos do país. As discussões deste ano, porém, se revestem de especial importância: vão definir a sucessão de Jiang Zemin, o líder máximo do país, que, após enviar sinais de que deixaria o cenário político, alimenta especulações sobre planos de manter fatia significativa do poder em suas mãos.
O calendário chinês prevê a realização, neste ano, do 16º Congresso do Partido Comunista, evento quinquenal que consagra mudanças no poder muitas vezes acertadas em Beidaihe. O congresso, ainda sem data marcada, deve ocorrer entre o final de setembro e o início de novembro.
Desde 97, vem se cristalizando a idéia de que Jiang deixaria no congresso o cargo de secretário-geral do PC, organização que de fato manda no país. Jiang acumula ainda o cargo de presidente da China e o de chefe da Comissão Central Militar, que controla as Forças Armadas.
Jiang despontava como defensor da idéia de que dirigentes com mais de 70 anos não deveriam aceitar novos cargos. Nenhum documento oficial sacramenta a tese, mas ela já serviu de pretexto para afastar líderes que rivalizavam com Jiang, que tem 76 anos.
Portanto prevalecia a expectativa de que Jiang, pelo critério etário, se afastaria da secretaria-geral do partido, entregando-a ao vice-presidente da China, Hu Jintao, 59, líder da "quarta geração de líderes comunistas". O representante da primeira é Mao Tsé-tung, que liderou a revolução em 1949; o da segunda, Deng Xiaoping, que lançou as reformas pró-capitalismo; e o da terceira, Jiang.
Em março de 2003, Jiang terá de deixar a Presidência, pois não pode, por lei, cumprir um terceiro mandato. Até maio passado, predominava a tese de que o sucessor de Deng deixaria, em seis meses, os três cargos que acumula hoje.
Mas a palaciana política chinesa começou a emitir sinais que desfizeram a crença no crepúsculo da era Jiang. À medida que se aproxima o Congresso, a mídia, sempre vigiada pelo PC, iniciou campanha de culto à personalidade do presidente. Começaram a circular manifestos assinados por dirigentes locais pedindo a permanência de Jiang no poder.
Os manifestos pró-Jiang argumentam que é necessário manter "um líder experiente num momento de transição". A China, em dezembro, ingressou na Organização Mundial do Comércio, e a adesão significa um novo "choque capitalista": Pequim contará com maior acesso a mercados internacionais, mas, em contrapartida, terá de abrir setores protegidos de sua economia à participação estrangeira.
A entrada na OMC deve acelerar o crescimento econômico da China, mas também trará, no curto prazo, efeitos colaterais, como o aumento de desemprego. Empresas chinesas, para competir com rivais estrangeiros, terão de incrementar sua competitividade, o que pode significar diminuição de postos de trabalho nas paquidérmicas estatais.
Um dos cenários mais prováveis é a saída de Jiang da secretaria-geral do PC e da Presidência, mas mantendo a chefia da Comissão Central Militar (CCM). Há ainda outras hipóteses: recriar o cargo de presidente do PC, abolido com a morte de Mao, ou formar, para que Jiang comande, um Conselho de Segurança Nacional, com mais poderes do que a CCM.



Texto Anterior: América Latina: Presidente eleito da Colômbia visita Brasília hoje
Próximo Texto: Mudança de geração não altera rumos do regime
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.