São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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AMÉRICA LATINA

Presidente colombiano diz que aspectos básicos do Plano Colômbia devem ser mantidos, mas concorda com ajustes

Álvaro Uribe quer pacto de longo prazo com os EUA

STEPHEN FIDLER
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, vai pedir o apoio do presidente dos EUA, George W. Bush, para um compromisso de longo prazo dos EUA com o Plano Colômbia, que visa reprimir o cultivo de drogas ilegais no país.
Os EUA já gastaram cerca de US$ 3 bilhões nos últimos cinco anos com o plano e o estenderam por um ano além de sua data final, originalmente prevista para setembro deste ano. Mas, segundo Uribe, é preciso estender esse compromisso. "Precisamos de continuidade", disse ele. "Não podemos deixar a cobra sobreviver."
Uribe concedeu entrevista em Londres, depois de reunir-se com o premiê britânico, Tony Blair, na semana passada. Ele tem uma visita programada ao presidente dos EUA, George W. Bush, no seu rancho no Texas, em agosto.
O presidente colombiano disse que os aspectos fundamentais do Plano Colômbia devem ser mantidos, mas que alguns ajustes se justificariam. A área recoberta pelo cultivo de drogas ilegais caiu de 180 mil hectares em 2002, quando ele tomou posse, para 80 mil hectares no final do ano passado.
Uribe acredita que neste ano a redução vai continuar, porque as pulverizações das plantações aumentaram 30% e, sob um novo programa, 11 mil hectares já foram erradicados manualmente, um procedimento que impede os pés de coca de voltar a brotar depois de pulverizados.
Indagado por que o preço das drogas nas ruas dos EUA continua tão baixo, mesmo com a erradicação de plantações, Uribe respondeu: "Não quero entrar nessa discussão. O que queremos é conquistar uma Colômbia sem drogas e estamos fazendo o melhor possível para realizar essa meta".
O presidente afirmou que sua política levou a uma queda importante da violência no país. O número de homicídios caiu de 30 mil em 2002 para 8.500 no primeiro semestre deste ano, e ocorreram 340 seqüestros com pedido de resgate no primeiro semestre de 2005, contra 3.050 em 2002. Na capital colombiana, Bogotá, não houve nenhum seqüestro no primeiro semestre deste ano.
As medidas adotadas pelo presidente Uribe, entre elas uma lei de Justiça e paz aprovada pelo Congresso colombiano no mês passado, vêm sendo fortemente criticada por grupos de defesa dos direitos humanos. A Anistia Internacional, cujos representantes se reuniram com Uribe em Londres, disse que a lei "vai garantir que os responsáveis pelas mais bárbaras atrocidades e violações dos direitos humanos, sejam eles paramilitares ou guerrilheiros, jamais sejam levados à Justiça".
Uribe contestou essa alegação. "A lei não garante anistia aos envolvidos em atrocidades ou crimes contra a humanidade", disse. Segundo ele, ela prevê sentenças menores para alguns guerrilheiros e paramilitares, mas "os responsáveis por atrocidades terão de cumprir pena de prisão". Uribe afirmou que 14 mil guerrilheiros e paramilitares depuseram suas armas desde que ele chegou ao poder, incluindo um grupo de 600 na semana passada.
Uribe disse que o governo está disposto a conduzir conversações de paz com os principais grupos guerrilheiros do país, sob a condição de que eles expressem sua boa fé e seu interesse genuíno.
O mandato do presidente chega ao fim no próximo ano, e ele está bem situado nas pesquisas de opinião, com índice de aprovação entre 65% e 70%. O Congresso aprovou emenda para anular o dispositivo constitucional que impede os presidentes de cumprirem um segundo mandato, mas a decisão ainda aguarda ser ratificada pela corte constitucional.


Tradução de Clara Allain

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