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EUA
Robert Coney, 76, condenado em 1962 por roubar um supermercado, havia sido absolvido em 1973, mas a decisão foi ignorada
Nos EUA, inocente deixa prisão após 42 anos
RALPH BLUMENTHAL
DO "NEW YORK TIMES"
Robert Carroll Coney estava na
prisão quando o presidente John
F. Kennedy foi assassinado, em
1963, quando os homens chegaram à Lua, quando a guerra estourou no Vietnã, quando o comunismo caiu e quando a internet e o telefone celular foram inventados.
Mas, na semana passada, depois
de ficar quase todos os dias dos últimos 42 anos atrás das grades,
Coney, 76, deixou o presídio do
Condado de Angelina, em Lufkin,
Texas.
Um juiz distrital do Texas considerou críveis as antigas alegações
de que ele havia sido espancado
para confessar, sem a assistência
de um advogado, um roubo de
US$ 2.000 num supermercado.
Em 1962, ele foi condenado à prisão perpétua. Ele fugiu várias vezes da prisão, mas sempre acabava recapturado logo depois.
O juiz David Wilson também
descobriu uma decisão judicial
que deveria ter extinguido as acusações criminais contra Coney
ainda em 1973.
Tudo isso e muito mais aconteceu com Coney, segundo ele relatou ao tribunal e durante uma entrevista em Dallas, onde reencontrou Shirley Jackson, sua mulher,
que o acompanhou nos últimos
50 anos, a ponto de uma vez ter
entregado serras a ele na cadeia.
"Sabia que ele era um bom homem e o amava", disse Jackson,
65. Coney disse que não está
amargurado. "A raiva não resolverá nada. Acredito no sistema."
Coney disse que agora está tentando se acostumar aos preços
das coisas e a ter de ligar seu próprio código de área para fazer
uma chamada local.
Nas conclusões do juiz e no próprio relato de Coney, a história se
desenrola com ecos de "Os Miseráveis", o clássico de Victor Hugo.
Veterano da Segunda Guerra e da
Guerra da Coréia, Coney já havia
tido alguns problemas com a lei.
Fora jogado no presídio depois
que um guarda o ameaçou e mandou que se calasse, num tribunal,
usando xingamentos racistas.
O juiz Wilson escreveu que
Leon Jones, ex-delegado de Angelina, e seus assessores "eram conhecidos por obter confissões por
meio de força física". Uma das táticas do delegado era "colocar os
dedos dos prisioneiros em cada
lado das barras da cela e espremer
esses dedos até a confissão de um
prisioneiro".
Mas o ex-promotor do caso,
Hulen Brown, 84, disse desconhecer qualquer violência contra Coney. ""Nunca ouvi nada do que foi
colocado aqui", disse Brown sobre as alegações do juiz.
O crime
Coney disse que estava dirigindo em Lufkin com outro homem,
Henry Cooper, na noite em que a
polícia disse que o supermercado
foi roubado, mas que Cooper havia entrado na loja sozinho. "Não
tive nada com isso", disse Coney.
Os dois foram identificados por
testemunhas, disse Jones.
Mais tarde, num pedido de habeas corpus, Cooney alegou ter sido "espancado sem piedade, chutado e socado por policiais". Também teria sido xingado de "preto"
e ameaçado de morte.
Ao mesmo tempo, Coney recorreu da condenação contra ele. Em
24 de setembro de 1973, o juiz distrital David Walker decidiu que
ele "havia se reabilitado" e que
"não é uma pessoa propensa à
violência". O promotor endossou
a decisão.
Mas ninguém avisou Coney, e a
decisão nunca foi implementada.
Wilson fez uma recomendação
final: "Espero que o peticionário
contrate um bom roteirista".
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