São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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PÓS-GUERRA

Segundo embaixador dos EUA no país, lucro com a produção de ópio pode estar financiando grupos terroristas

Afeganistão pode virar "narco-Estado"

VICTORIA BURNETT
DO "FINANCIAL TIMES"

Desde que a coalizão internacional afastou o Taleban do poder no Afeganistão, há quase três anos, o crescimento da indústria do ópio no país passou a representar um dos sintomas mais perigosos do baixo nível de controle exercido pelo atual governo.
Em 2001, último ano em que o Taleban ocupou o poder, a produção de ópio no país caiu para 185 toneladas -1/16 avos do que havia sido no ano anterior. Mas no ano passado a produção foi a segunda maior da história, tendo chegado a 3.600 toneladas.
A enxurrada de lucros do ópio, que em 2003 atingiram a marca de US$ 2,2 bilhões, vem fortalecendo grupos como o Taleban e os comandantes milicianos rebeldes do país. Apesar de estarem perdendo poder militar, esses grupos estão consolidando seu controle sobre a indústria das drogas.
Para o ministro do Interior, Ali Jalali, ""o desafio agora vem dos senhores do tráfico, não dos senhores da guerra". Mas há denúncias de participação de altos funcionários do governo nos lucros do ópio. Segundo o embaixador dos EUA no Afeganistão, Zalmay Khalilzad, "existe a possibilidade de as drogas se tornarem mais fortes do que as instituições, resultando numa espécie de narco-Estado", diz. Além disso, afirma que "há um vínculo com o financiamento do extremismo, possivelmente até do terror".
Este ano os EUA reservaram cerca de US$ 100 milhões para uma força de erradicação das plantações de papoula (usadas para a produção de ópio). Mas esses programas não têm dado certo, principalmente em regiões pobres onde outras plantações são economicamente inviáveis.
O general David Barno, que comanda as forças da coalizão, já admitiu que existem sinais de uma conexão entre as drogas e o terrorismo, mas afirma que o papel das Forças Armadas se limita a compartilhar informações e destruir o ópio encontrado em operações de combate ao terrorismo.
Durante visita que fez a Cabul na semana passada, o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, declarou que o problema é ""sério demais para poder ser ignorado". Ele e o embaixador Khalilzad já declararam visualizar um papel maior para a coalizão.


Tradução de Clara Allain


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