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PÓS-GUERRA
Segundo embaixador dos EUA no país, lucro com a produção de ópio pode estar financiando grupos terroristas
Afeganistão pode virar "narco-Estado"
VICTORIA BURNETT
DO "FINANCIAL TIMES"
Desde que a coalizão internacional afastou o Taleban do poder no
Afeganistão, há quase três anos, o
crescimento da indústria do ópio
no país passou a representar um
dos sintomas mais perigosos do
baixo nível de controle exercido
pelo atual governo.
Em 2001, último ano em que o
Taleban ocupou o poder, a produção de ópio no país caiu para
185 toneladas -1/16 avos do que
havia sido no ano anterior. Mas
no ano passado a produção foi a
segunda maior da história, tendo
chegado a 3.600 toneladas.
A enxurrada de lucros do ópio,
que em 2003 atingiram a marca de
US$ 2,2 bilhões, vem fortalecendo
grupos como o Taleban e os comandantes milicianos rebeldes
do país. Apesar de estarem perdendo poder militar, esses grupos
estão consolidando seu controle
sobre a indústria das drogas.
Para o ministro do Interior, Ali
Jalali, ""o desafio agora vem dos
senhores do tráfico, não dos senhores da guerra". Mas há denúncias de participação de altos
funcionários do governo nos lucros do ópio. Segundo o embaixador dos EUA no Afeganistão, Zalmay Khalilzad, "existe a possibilidade de as drogas se tornarem
mais fortes do que as instituições,
resultando numa espécie de narco-Estado", diz. Além disso, afirma que "há um vínculo com o financiamento do extremismo,
possivelmente até do terror".
Este ano os EUA reservaram
cerca de US$ 100 milhões para
uma força de erradicação das
plantações de papoula (usadas
para a produção de ópio). Mas esses programas não têm dado certo, principalmente em regiões pobres onde outras plantações são
economicamente inviáveis.
O general David Barno, que comanda as forças da coalizão, já
admitiu que existem sinais de
uma conexão entre as drogas e o
terrorismo, mas afirma que o papel das Forças Armadas se limita a
compartilhar informações e destruir o ópio encontrado em operações de combate ao terrorismo.
Durante visita que fez a Cabul
na semana passada, o secretário
da Defesa dos EUA, Donald
Rumsfeld, declarou que o problema é ""sério demais para poder ser
ignorado". Ele e o embaixador
Khalilzad já declararam visualizar
um papel maior para a coalizão.
Tradução de Clara Allain
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