São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Pacto entre Polônia e EUA mira Rússia

Varsóvia e Washington selam acordo para sistema antimísseis; a pedido de aliado, americanos instalarão foguetes voltados para Moscou

Pentágono afirma que visa "ameaça iraniana" e nega que russos sejam alvo, mas Moscou vê desequilíbrio e diz que "terá que reagir"


DA REDAÇÃO

A tensão entre a Rússia e a Polônia subiu ontem abruptamente, com a assinatura do tratado que permitirá ao Pentágono instalar em solo polonês dez mísseis de interceptação do chamado escudo antimísseis -mecanismo que os americanos dizem ser necessário para conter eventuais ataques da Coréia do Norte ou do Irã.
Moscou reagiu de modo inabitualmente duro. Em nota do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que "terá que reagir e não apenas por meio de protestos diplomáticos".
O governo de Varsóvia obteve de última hora dos Estados Unidos o compromisso de, para enfrentar uma virtual ameaça russa, instalar em seu território uma bateria de outros foguetes terra-ar, os Patriot, que, segundo o "New York Times", o Pentágono deslocaria da Alemanha e que seriam de início operados por militares americanos.
Washington reiterou que o escudo antimísseis não visava a Rússia. Mas o argumento está agora comprometido pelo fato de os Patriot, uma espécie de apêndice do escudo, terem o solo russo como alvo.
A nota do governo russo acusou os americanos de procurarem "enfraquecer" a Rússia e "modificar em seu favor o atual equilíbrio estratégico". Também afirma que o escudo antimísseis, ao evocar uma "imaginária ameaça" iraniana, "tem como único alvo os arsenais russos de misseis balísticos intercontinentais".

Ameaça nuclear
Na semana passada um general russo, Anatoli Nogovitsin, afirmou que a Polônia havia se transformado em alvo -até de disparos nucleares- ao aceitar hospedar o escudo. Esse comportamento, afirmou, "não pode deixar de ser punido".
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que assinou o tratado em Varsóvia em nome de seu governo, qualificou a ameaça de "francamente bizarra". A seu ver, o escudo é um instrumento de defesa e não está direcionado a nenhum país específico.
Os mísseis de interceptação estarão operacionais em 2012 na base de Redzikowo, no norte da Polônia, a apenas 300 km do encrave russo de Kaliningrado, no litoral do mar Báltico, e a 1.360 km de Moscou.
A Polônia negociou por um ano e meio com os Estados Unidos, procurando obter, em troca do escudo, maiores vantagens de ajuda militar. As negociações foram concluídas a toque de caixa porque tanto Washington quanto Varsóvia queriam mandar a Moscou um recado, com a intervenção militar russa na Geórgia, depois que esta invadiu a Ossétia do Sul, há duas semanas.
Para funcionar, o escudo antimísseis depende da instalação de um sistema poderoso de radares na República Tcheca. O governo tcheco já assinou sua parte do tratado, mas a entrada em vigor depende ainda de ratificação pelo Parlamento.
Durante a assinatura, ontem em Varsóvia, manifestantes reuniram-se diante da sede do governo com cartazes em que diziam "não querer se tornar escudos humanos".

Com agências internacionais



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