São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Na tribuna da ONU, Chávez chama Bush de "diabo"

Timothy A. Clary/France Presse
Chávez mostra livro de Noam Chomsky ao discursar na ONU


"Ainda está cheirando a enxofre", disse, aludindo ao discurso do americano na véspera

Para presidente venezuelano, a ONU é "inútil"; embaixador dos EUA diz que comentários não merecem resposta

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, elevou sua guerra retórica contra os EUA em discurso na 61ª Assembléia Geral da ONU, chamando o presidente George W. Bush de "diabo". Ele também qualificou o organismo internacional de "antidemocrático" e "inútil".
"O diabo esteve aqui ontem [anteontem]. Ainda está cheirando a enxofre", disse Chávez, enquanto se benzia, referindo-se ao discurso de Bush na véspera. "Veio aqui falando como se fosse o dono do mundo."
De acordo com as agências de notícias, o discurso provocou risos discretos e "algum aplauso" da audiência. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que os comentários não eram "apropriados para um chefe de Estado".
No dia anterior, em seu pronunciamento, Bush havia exortado os iranianos a derrubarem o regime islâmico. Chávez fez o mesmo com os americanos, pedindo-lhes que "detenham esta ameaça, que paira como uma espada sobre nossas cabeças".
O presidente venezuelano disse que Bush vê extremistas por todo lado. "Ele olha para sua cor e diz: "Aí vai um extremista". Evo Morales, o valoroso presidente da Bolívia, parece um extremista para ele."
Chávez acusou o governo americano de "dominação, exploração e pilhagem dos povos do mundo". "É a maior ameaça ao nosso planeta, pondo em risco a própria sobrevivência da espécia humana."
Brandindo um exemplar do livro "O Império Americano: Hegemonia ou Sobrevivência", de Noam Chomsky, disse que Bush promove "uma falsa democracia da elite" e "uma democracia das bombas". Chomsky, professor de lingüística do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), é um dos principais ativistas de esquerda americanos.
O confronto retórico entre Chávez e a Casa Branca vem se acentuando desde que os EUA passaram a financiar a oposição na Venezuela e estiveram sob suspeita de apoiar a tentativa de golpe contra o presidente venezuelano, em 2002. Nos últimos dois meses, Chávez visitou países que o governo Bush considera parte do "eixo do mal", como o Irã e a Síria. No entanto, 57% das exportações venezuelanas, principalmente petróleo, ainda são destinadas aos EUA.

Reforma
No discurso, o venezuelano defendeu ainda uma reforma profunda na ONU que diminua a influência americana. "Acho que ninguém nesta sala defenderia o sistema. Sejamos honestos. O sistema da ONU criado após a Segunda Guerra entrou em colapso. É inútil."
A Venezuela compete com a Guatemala -preferida pelos EUA- para ocupar um cadeira provisória no Conselho de Segurança da ONU. A escolha será feita no mês que vem pela Assembléia Geral. Horas depois da fala de Chávez, o presidente guatemalteco, Oscar Berger, defendeu a candidatura de seu país ao CS como uma opção "responsável".
O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, disse que os comentários de Chávez "não "mereciam uma resposta". "Vou deixar que os venezuelanos decidam se o presidente Chávez os representou e os apresentou da maneira que eles gostariam de ser vistos", reagiu um porta-voz do Departamento de Estado.
Também na Assembléia Geral, o presidente argentino, Néstor Kirchner, renovou a reivindicação sobre as Malvinas e disse que o Reino Unido ignora resoluções da ONU sobre o arquipélago -pelo qual os dois países foram à guerra em 1982.


Com agências internacionais


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