São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Partido força renúncia de presidente da África do Sul

Mbeki estava em atrito com Zuma, líder da sigla oficial CNA e suspeito de corrupção

Legislação local permite que mandatário seja cassado pela sua legenda; substituto não está claro, já que vice afirmou que vai renunciar

DA REDAÇÃO

O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, 66, anunciou ontem que renunciaria ao cargo, depois que seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano), formalizou o pedido de afastá-lo em razão do conflito político que o opõe ao dirigente partidário Jacob Zuma.
Um porta-voz da Presidência anunciou que Mbeki, eleito em 1999 como sucessor de Nelson Mandela e reeleito em 2004, deixará suas funções "depois de cumpridas as formalidades constitucionais", referência à declaração de vacância do poder pelo Parlamento e abertura do processo de sucessão. Os presidentes sul-africanos são eleitos de forma indireta pelos deputados e senadores.
O CNA decidiu afastar Mbeki sob a acusação de conspirar para pressionar a Justiça a condenar Zuma por corrupção. Para os partidários de Zuma, seu líder era perseguido por Mbeki devido às críticas que fazia às políticas do atual governo, que privilegiaram os investidores externos em detrimento da população de baixa renda.
Mas os adeptos de Mbeki dizem que a questão é bem mais séria e envolve a reputação pessoal de Zuma, que foi destituído da Vice-Presidência sul-africana depois que um de seus assessores, Shabir Shaik, foi condenado a 15 anos de prisão por negociar subornos que supostamente o favoreceriam. Zuma nega que seja verdade.
Seu envolvimento no caso de improbidade foi objeto de processo, arquivado no dia 12 pelo Tribunal Superior de Petermaritzburgo, que não entrou no mérito da questão e apenas constatou erros processuais.
A ala do CNA favorável a Zuma acusou em seguida Mbeki de pressionar o Ministério Público para recorrer da decisão e com isso manter o líder partidário na defensiva. Não chegou a haver recurso porque o golpe final contra o presidente se deu na Comissão Executiva Nacional do CNA, onde partidários de Zuma têm a maioria.
A Constituição sul-africana prevê a cassação do presidente da República que seja objeto de um voto de desconfiança da direção de seu partido.
O desfecho provisório da crise beneficia o próprio Jacob Zuma, que é candidato favorito às eleições presidenciais de 2009. Não estava ontem claro se o Parlamento elegeria um de seus integrantes para um mandato-tampão, já que a vice-presidente, Phumzile Mlambo-Ngcuka, anunciou que renunciará em solidariedade a Mbeki. A possibilidade de que as eleições gerais sejam antecipadas era ontem tida como pequena.

Crise no Zimbábue
A imagem internacional do presidente Mbeki foi recentemente desgastada pela sua recusa a condenar o ditador do vizinho Zimbábue, Robert Mugabe, por violações de direitos humanos no processo eleitoral que deu a ele seu sexto mandato presidencial. Mbeki acabou mediando um acordo entre Mugabe e o seu adversário Morgan Tsvangirai.
A oposição sul-africana condenou ontem a manobra de afastamento do presidente. A líder da Aliança Democrática, Helen Zille, disse que tudo não passou de uma vingança de Zuma contra seu antigo desafeto político. Bantu Holomisa, do Movimento Democrático Unido, disse que a destituição do presidente foi "um ato de barbárie política que ameaça atirar o país na anarquia".


Com agências internacionais


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