São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Norte-coreanos prometem não explodir nova bomba

Ditador Kim Jong-il também pediu desculpas ao enviado do governo da China

Bancos chineses cessam o envio de dinheiro à Coréia do Norte; Pequim joga duro para punir país vizinho por seu primeiro teste nuclear

DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte disse anteontem à China que não pretende fazer novos testes nucleares e lamentou a "situação embaraçosa" em que colocou seu gigantesco vizinho ao explodir no último dia 9 a sua primeira bomba atômica.
A informação, transmitida pela mídia sul-coreana e japonesa, demonstra que Pequim lavrou um tento e se qualifica como o principal foco de pressão sobre Pyongyang para pôr fim à atual crise asiática.
Os chineses foram bem além das sanções votadas no sábado passado pelo Conselho de Segurança contra o regime norte-coreano. Segundo a Associated Press, quatro bancos estatais da China e mais a agência do britânico HSBC em Pequim suspenderam ontem a transferência de dinheiro para a Coréia do Norte.
O "Financial Times" menciona rumores de que a China também estuda a interrupção no fornecimento de petróleo. Ela fornece entre 70% e 80% da energia importada pelo pequeno e isolado vizinho comunista. Ou seja, Pyongyang tem tudo a perder nessa queda-de-braço com os chineses.
O presidente americano, George W. Bush, recusou-se a comentar o pedido de desculpas norte-coreano. Disse que se manifestaria depois de conversar com sua secretária de Estado, Condoleezza Rice.
Ela terminou ontem em Pequim o périplo por três capitais asiáticas -as outras foram Tóquio e Seul- para pressionar pela aplicação das sanções votadas pelo Conselho de Segurança para punir Pyongyang em razão da bomba.
O suposto recuo de Pyongyang quanto à realização de um novo teste nuclear foi anunciado em Tóquio pela agência Kyodo, que citou informes recebidos pelo chanceler Taro Aso. A agência Yonhap, da Coréia do Sul, redigiu despacho bem parecido, baseado em informantes chineses.

Negociações
O jornal sul-coreano "Chosun Ilbo" atribuiu a altos funcionários chineses a informação de que o ditador norte-coreano disse na quinta-feira ao emissário diplomático da China, Tang Jiaxuan, que seu país se dispunha a retomar as negociações sobre a desnuclearização com o chamado Grupo dos Seis (duas Coréias, Japão, China, Rússia e Estados Unidos).
Mas condicionou essa retomada à suspensão, por Washington, de sanções financeiras adotadas no ano passado.
Declarações menos enfáticas nessa mesma direção foram dadas à ABC, rede americana de TV, por Kim Kye-gwan, o principal negociador norte-coreano na área nuclear. "Não há razão para que sejamos inimigos dos Estados Unidos", afirmou.
A secretária de Estado americana, que fará hoje uma escala em Moscou antes de voltar aos Estados Unidos, descartou a suspensão das sanções financeiras em vigor desde 2005 e disse que elas puniam Pyongyang por sua cumplicidade com quadrilhas internacionais que falsificam cédulas de dólar e fazem lavagem de dinheiro.
De qualquer modo, Tang Jiaxuan disse ontem a Rice que sua viagem a Pyongyang "não foi inútil". Rice disse aos jornalistas não saber se os norte-coreanos foram sinceros ao afirmar que desejam voltar às negociações multilaterais, das quais se retiraram em novembro de 2005. "O que dá para notar é que eles ainda mantêm uma tonalidade beligerante."
Ela provavelmente se referia ao contraste entre a promessa de Kim Jong-il à China e a grande manifestação convocada ontem na principal praça da capital norte-coreana, em que estimadas 100 mil pessoas festejaram publicamente, pela primeira vez, a explosão da primeira bomba atômica.
"O teste nuclear foi um exercício de independência e um legítimo direito da Coréia do Norte como Estado soberano", disse o dirigente comunista Choe Thael-bok.


Com agências internacionais


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