São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Pressão da UE não dobra a Rússia

Putin não aceita ratificar tratado de energia e defende reciprocidade no setor que mais preocupa os europeus

Premiê russo adverte, após cúpula UE-Rússia, que ações da Geórgia levarão a "banho de sangue"; Tbilisi classifica alerta de Putin de "ficção"

DA REDAÇÃO

Pressionado por uma União Européia cada vez mais dependente de recursos energéticos importados, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, rejeitou a exigência do bloco para que ratifique um tratado internacional de energia, mas afirmou estar confiante em um acordo sobre investimentos mútuos em petróleo e gás. A segurança energética ocupou o topo da agenda da cúpula de um dia Rússia-UE, realizada ontem na Finlândia.
A preocupação em torno dos recursos energéticos importados da Rússia, que fornece um quarto do petróleo e gás consumidos pelos 25 países da UE, aumentou depois da crise de janeiro, quando Moscou cortou o fluxo de gás para a Ucrânia, alegando divergências de preço.
Putin disse que a reunião de cúpula com a UE serviu para mostrar que a relação da Rússia com o bloco deve ter como base a reciprocidade. "Os líderes da Rússia e da UE mais uma vez confirmaram que a cooperação energética deve ser baseada na responsabilidade mútua de produtores e consumidores e na segurança da infra-estrutura vital de energia", disse Putin.
O principal interesse dos membros da UE é estabelecer um acordo que lhes dê garantias de que podem continuar confiando na Rússia como seu maior fornecedor de energia. Entre as exigências do bloco europeu estão a de que a Rússia abra o uso de seus gasodutos a outras empresas, que libere o investimento no mercado de energia russo, controlado pelo monopólio Gazprom, a empresas estrangeiras, e ratifique o Tratado da Carta de Energia (TCE), que estabelece um marco para o setor com base nas leis de mercado.
"A Rússia precisa da Europa na mesma medida em que a Europa precisa da Rússia", disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso. Putin, contudo, se negou a ratificar o TCE. "Não somos contra os princípios, mas certas cláusulas precisam ser melhor definidas", disse Putin.

"Banho de sangue"
Outro fator de desconforto nas relações entre Moscou e Bruxelas, as restrições às liberdades civis na Rússia, foi abordado por Putin com uma advertência. Criticado pela pressão do Kremlin à Geórgia, que se desdobrou em perseguição aos cidadãos georgianos que vivem na Rússia, Putin disse que a ex-república soviética está conduzindo os conflitos com áreas rebeldes em seu território rumo a um "banho de sangue".
"A situação está caminhando na direção de um banho de sangue porque a liderança georgiana está tentando recuperar o controle [das áreas rebeldes] por meios militares", disse Putin em Lahti, na Finlândia, país que ocupa a presidência da UE.
A animosidade entre Rússia e Geórgia se transformou em crise aberta no fim de setembro, quando quatro militares russos foram presos em Tbilisi, capital georgiana, acusados de espionagem. Os quatro foram libertados dias depois, mas o Kremlin intensificou a pressão sobre o país, com sanções econômicas e uma perseguição aos georgianos que vivem na Rússia.
As declarações de Putin irritaram Tbilisi, que o acusou de distorcer os fatos e interferir nos assuntos internos da Geórgia. "Isso não diz respeito às relações entre Rússia e Geórgia, mas entre a Geórgia, a Abkházia e a Ossétia do Sul", disse o chanceler georgiano, Gela Bezhuashvili, em referência às regiões separatistas apoiadas por Moscou. "O governo da Geórgia não tem intenção de usar a força. Isso é pura ficção."


Com agências internacionais


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