São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Segundo o premiê Tony Blair, pedido não foi específico; na Europa, Bush fala em liderar "coalizão dos dispostos"

EUA requisitam tropas ao Reino Unido

DA REDAÇÃO

O governo britânico declarou ontem ter recebido pedido dos EUA para que seus soldados participassem de uma possível campanha militar contra o Iraque.
Falando enquanto o presidente americano, George W. Bush, exortava membros da Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA) a se unirem em uma coalizão para atacar o Iraque caso o país não cooperasse com inspeções de armas da ONU, o secretário da Defesa do Reino Unido, Geoff Hoon, afirmou que Washington havia "pedido forças".
O premiê Tony Blair disse que o Reino Unido, assim como outros aliados dos EUA, havia recebido um pedido geral, mas indicou que negociações detalhadas sobre o número de soldados ainda podem estar distantes.
"Simplesmente ainda não atingimos o estágio de pedidos específicos por números específicos de soldados a serem usados de forma específica", disse Blair em um discurso no Parlamento britânico. "Isso é algo que vai ocorrer em um estágio posterior."
Na véspera de uma reunião da Otan, em Praga, Bush disse que os EUA podem liderar uma "coalizão dos dispostos" contra o Iraque se o ditador Saddam Hussein optar por não desarmar o país, mas repetiu que uma guerra seria o último recurso.
"Se a vontade coletiva do mundo for forte, poderemos chegar ao desarmamento de forma pacífica", disse Bush em uma entrevista conjunta com o presidente tcheco, Vaclav Havel, em Praga.
Mas, se Saddam optar por não se desarmar, "os EUA vão liderar uma coalizão dos dispostos a desarmá-lo", afirmou o presidente.
"Permanecendo fortes, unidos e duros, venceremos. A guerra é minha última escolha, minha última opção. Espero que possamos fazer isso pacificamente", disse.
Mas, em um discurso a estudantes, Bush voltou a expressar dúvidas sobre a intenção do Iraque de cooperar com as inspeções. "Na semana passada, Saddam aceitou os inspetores da ONU. Ouvimos essas promessas antes e as vimos ser violadas repetidas vezes. Agora, pedimos o fim desse jogo de enganação, fraude e negação."
A Casa Branca afirmou ontem que Washington estava perguntando a cerca de 50 países qual poderia ser sua contribuição.
Em Chipre, ontem, após viagem de dois dias a Bagdá, o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, disse que a visita ao Iraque havia sido "construtiva".
"Tivemos boas discussões com representantes do governo iraquiano", afirmou Blix, e "[fomos assegurados de que Bagdá] implementará a resolução integralmente e cooperará conosco, então foi uma visita construtiva".
O Iraque tem até o próximo dia 8 para submeter ao Conselho de Segurança da ONU uma lista com todos os seus programas de armas de destruição em massa.

Países árabes
Líderes de países árabes reunidos em Damasco (Síria) para uma reunião da Liga Árabe afirmaram ontem que uma guerra contra o Iraque pode ser evitada, mas apenas se Bagdá cumprir a resolução da ONU aprovada no dia 8.
Questionado se a ameaça de uma guerra contra o Iraque havia terminado, o chanceler da Jordânia, Marwan al Muasher, disse: "Não podemos dizer isso".
"Podemos dizer que a decisão do Iraque de aceitar os inspetores e trabalhar com a ONU reduziu as chances de uma guerra, mesmo que não inteiramente, mas [a resolução] deve ser aplicada", disse o jordaniano. "Isso requer cooperação entre o Iraque a ONU."
O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, afirmou: "A resolução não estipula uma guerra, automaticamente ou de outra forma. É uma resolução sobre os inspetores e o procedimento de seu trabalho e seu desempenho em sua missão. Agora a bola está no campo do Iraque e no dos inspetores ao mesmo tempo".

Censura
O jornal de Uday Hussein, o filho mais velho de Saddam, foi proibido de ser publicado por um mês, afirmou um funcionário do Ministério da Informação iraquiano que não quis se identificar.
Ele disse que o "Babel", o jornal mais influente do Iraque, fora punido porque "violava as instruções do Ministério da Informação". O jornal atacava a ineficiência do governo e a corrupção ocasionalmente e era o único diário iraquiano que publicava relatos da mídia estrangeira.
Uday, que é presidente do sindicato dos jornalistas do país e deputado, exortou no início do mês seus colegas no Parlamento a aprovarem a resolução da ONU. A Casa a rejeitou.


Com agências internacionais


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