São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Governo Bush iniciou articulações diplomáticas e militares para ter tudo pronto caso as inspeções fracassem

EUA seguem preparativos para guerra

DO "THE NEW YORK TIMES"

A administração Bush está iniciando uma série de passos diplomáticos e militares que precisam ser completados antes que os EUA possam travar a guerra no Iraque, disseram funcionários americanos e de países aliados. As tarefas, algumas das quais podem levar semanas ou até meses, incluem formalizar os papéis dos aliados dos EUA numa possível ofensiva, desencorajar os países vizinhos do Iraque de lançar ataques próprios contra Bagdá e decidir se será o caso de pedir o apoio da ONU ao ataque. Se algum desses objetivos deixar de ser alcançado, o início da guerra poderá ser complicado ou adiado.
A administração está agindo com urgência para alcançar seus objetivos, antes mesmo de começarem as inspeções de armas ordenadas pela ONU. Uma das metas é criar uma ameaça de força convincente, capaz de pressionar o ditador iraquiano, Saddam Hussein, a obedecer à nova resolução do Conselho de Segurança da ONU. A outra principal razão pela qual Washington quer agir rapidamente é o desejo de estar pronto para entrar em combate antes do início da estação do calor no país, em março ou abril.
Diplomatas americanos intensificaram o diálogo com dois aliados importantes, Turquia e Israel, para convencê-los a permanecer de lado durante uma possível invasão do Iraque. Sem alarde e em vários casos por meio de canais informais, Washington também vem discutindo com o Irã a possibilidade de o país impedir a maioria xiita no Iraque de tentar assumir o controle de Bagdá ou formar um Estado separado, no caso de Saddam (sunita) cair.
Se Saddam desafiar os inspetores de armas ou criar obstáculos ao seu trabalho, Washington terá de decidir se pede a aprovação da ONU para um ataque. Funcionários da administração disseram que Bush gostaria de contar com o apoio do Conselho de Segurança -desde que fosse possível obtê-lo num prazo curto. Os esforços diplomáticos para estabelecer a base para essa aprovação rápida estão em fase preliminar.
Oficiais militares de alto escalão disseram que uma parte do contingente total de cerca de 250 mil homens necessários para dar início a um ataque por ar, terra e mar pode estar pronta para entrar em ação em até 30 dias depois de receber a ordem de Bush. Mas o momento escolhido para uma possível ofensiva vai depender do resultado das inspeções de armas.
"Estamos fazendo preparativos diariamente", disse o vice-secretário da Defesa, Paul D. Wolfowitz, na sexta-feira. "Não quero começar a dizer exatamente quando vamos estar com um nível ótimo de preparo, mas seria um grave engano alguém subestimar nossa capacidade de entrar em ação, se necessário."
O governo já começou a discutir com dezenas de países as bases para um possível ataque. Numa série de reuniões e conversas telefônicas recentes, conduzidas em Washington e no exterior, autoridades americanas vêm pedindo a ajuda tanto de aliados quanto de antagonistas. Em troca de promessas de cooperação, estão recebendo listas de exigências.
A Turquia, país da Otan que possui várias bases cruciais para as tropas americanas, vem sendo alvo das maiores atenções dos EUA. Ancara quer garantias de que os curdos que vivem no norte do Iraque não aproveitarão o momento para tentar formar um Estado separado. A Turquia teme que a ação possa incentivar os separatistas curdos turcos. Atendendo a pedido turco, Washington também está pressionando os países europeus a aceitar a Turquia na União Européia. E a Turquia, uma das maiores parceiras comerciais do Iraque, quer ser compensada por perdas econômicas causadas por um conflito.
O premiê israelense, Ariel Sharon, prometeu retaliar se Saddam lançar mísseis contra Israel. Se o fizesse, enfraqueceria o apoio de Estados árabes moderados à possível invasão americana, podendo desencadear uma guerra regional.
Para mitigar os receios de Israel, Bush aprovou um plano pelo qual forças americanas tomariam terras no oeste do Iraque e destruiriam os mísseis Scud capazes de alcançar cidades israelenses.
Israel, por sua vez, pediu aos EUA ajuda na resolução de uma disputa com o Líbano e a Síria envolvendo acesso a fontes de água.
As conversações diplomáticas estão estreitamente ligadas ao deslocamento de tropas.
Diplomatas e altos oficiais militares americanos, incluindo o general Tommy Franks, comandante das forças americanas na região do golfo Pérsico, vêm percorrendo a Europa e o sudeste da Ásia para discutir acordos para o uso de bases militares e para determinar que países poderiam contribuir com tropas e equipamentos.
Franks disse que os EUA ainda não fizeram pedidos formais. Mas vários países já deram garantias informais de que vão fornecer tropas, equipamentos e bases. A Arábia Saudita, maior aliado dos EUA no golfo Pérsico durante a Guerra do Golfo (91), vem emitindo sinais conflitantes sobre se autorizará o uso de importante centro de operações aéreas.
Tommy Franks montou um posto de comando alternativo em Qatar, e outros países, desde o Kuait até Omã, podem colaborar se os sauditas proibirem a presença de forças dos EUA e aliados.


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