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EM LONDRES
Atentado em Istambul leva tensão ao ato
Protesto contra Bush reúne mais de 100 mil
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Foi a passeata pacífica mais
agressiva que já presenciei.
Aquela de 1 milhão, em fevereiro, antes da guerra, foi silenciosa. A de ontem era de dar medo.
Todos tensos, dos policiais aos
participantes. Não é à toa. Londres acordou com a notícia dos
atentados em Istambul. Havia
rumores de que pudesse haver
alguma forma de ataque aqui
nessa cidade durante as manifestações.
Mas os britânicos compareceram em massa. E bota massa
nisso. Segundo os organizadores, eram 200 mil pessoas; para a
polícia, havia entre 100 mil e 110
mil. Vi o fenômeno humano do
formigueiro se arrastando pelas
ruas, buzinando, apitando, urrando contra a presença de Bush
na cidade.
Eles foram desde a Universidade de Londres, passando pelo
Big Ben, o Parlamento e a Downing Street (sede do governo),
onde Bush estava naquele momento, indo terminar na Trafalgar Square, onde uma estátua de
Bush, feita pelos manifestantes,
foi derrubada, imitando aquela
cena famosa de Saddam Hussein na tomada de Bagdá.
Na passeata esbarro com John
Wagland, um ex-ator do grupo
catalão Fura dels Baus. "Vejo
Bush como a maior ameaça à
paz do mundo, e olha que tenho
40 anos e peguei o fim da Guerra
Fria."
Um outro tipo interessante e
sóbrio, Guy Moore, editor de vídeo, veio do norte da cidade e
diz que penou para chegar até
aqui. "Demorei quase três horas. Driblei todos os bloqueios.
Meu chefe me ameaçou de demissão, mas não pude deixar de
colocar os meus princípios em
primeiro lugar. Não estou protestando somente contra Bush,
mas sim contra o meu próprio
premiê. É muito fácil culpar os
americanos por tudo isso. Mas
nós mesmos entramos nessa."
Michael Lockley fazia parte de
uma turma engraçada e tragicômica que se vestia conforme os
prisioneiros de Guantánamo,
acorrentados e amordaçados.
No meio do barulho e das buzinas, ele disse: "Istambul foi só
um lembrete de que estamos
metidos nisso até o pescoço.
Bush quer dizer vendeta. E agora Blair é sinônimo disso. Neste
momento, tenho vergonha de
ser britânico".
Gerald Thomas é dramaturgo.
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