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ANÁLISE
O preço da "guerra ao terror"
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT"
É o preço que pagamos por participar da "guerra ao terror" lançada por George W. Bush. Não
podiam atingir o Reino Unido enquanto Bush fazia sua triunfalista
visita de Estado a Londres, então
foram direto à jugular na Turquia.
E, é claro, ninguém imaginava
que eles fossem atacar duas vezes
no mesmo lugar. Afinal, a Turquia já tinha sofrido sua dose de
ataques, certo? "Eles" deve significar "Al Qaeda". E, é claro, o simples fato de se chamar atenção para a realidade de que nós, britânicos, estamos agora pagando o
preço pela tentativa infantil de
Bush de remodelar o Oriente Médio, a favor de Israel, vai atrair os
comentários venenosos de costume. Falar a verdade brutal sobre o
custo humano da aliança de Tony
Blair com o governo Bush é "fazer
o trabalho dos terroristas".
Mas EUA e Reino Unido sabem
muito bem o que a atrocidade de
ontem significa. A Austrália pagou em Bali o preço da aliança
com Bush. Os italianos pagaram
em Nassiriah. Agora é nossa vez.
A suposta "Al Qaeda" foi bastante
específica.
E esses assassinatos em massa
não têm um objetivo único. A
Turquia é aliada de Israel. A Turquia é odiada no Iraque e em boa
parte do mundo árabe, em parte
por seu passado otomano. A Turquia é um país secular. Se a Arábia
Saudita é atacada porque seu regime islâmico é liderado por uma
monarquia corrupta, a Turquia é
atacada porque não é suficientemente islâmica.
Não deveríamos, tampouco,
nos deixar enganar em relação ao
que eu chamo de "o cérebro".
Graças, imagino, à retórica de
Bush, temos o hábito de pensar
que os responsáveis pelos atentados não compreendem o mundo
de fora. Se são "contra a democracia", então eles não nos compreendem, não é verdade? Mas
eles compreendem, sim.
Eles sabiam exatamente o que
estavam fazendo quando atacaram os australianos em Bali -sabiam que a invasão do Iraque não
era bem vista na Austrália. Sabiam, também, que a invasão era
malvista na Itália. Sabiam, ainda,
das manifestações que aguardavam Bush em Londres. Então, por
que não desviar a atenção do
grande manda-chuva, atacando o
Reino Unido na Turquia?
A mesma coisa se repete no Iraque. Por menor que seja o envolvimento da Al Qaeda, os insurretos iraquianos têm plena consciência da queda da popularidade
de Bush nos EUA. Sabem até que
ponto ele está desesperado para
sair do atoleiro do Iraque antes
das eleições de 2004. Por isso, estão intensificando os ataques contra as forças americanas e os iraquianos que os apóiam, provocando os EUA a empreender retaliações cada vez mais ferozes.
Temos uma espécie de incompreensão fatal em relação àqueles
contra os quais entramos em
guerra: dizemos que eles vivem
em cavernas, que estão desligados
da realidade, que atacam cegamente. Exemplo de incompreensão: aqueles enfadonhos discursos de Osama bin Laden. Toda vez
que suas fitas de áudio são veiculadas, nós, jornalistas, sempre repetimos a mesma ladainha. Será
que é ele mesmo falando? Será
que está vivo? Essa se torna nossa
única narrativa. Mas a reação árabe é muito diferente. Eles sabem
que é Bin Laden, sim, e ouvem o
que ele tem a dizer. É o que nós,
também, deveríamos fazer.
Tradução de Clara Allain
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