São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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"Não confiamos em governos que façam acordos com árabes"

DO ENVIADO ESPECIAL

Daniel Fradkin tinha 29 anos quando emigrou da extinta União Soviética para o Estado de Israel, em 1970. "Tínhamos muitas esperanças. Não queríamos mais ficar no Estado ateu e anti-semita que era a União Soviética naquela época. A terra de Israel era um sonho", disse.
"Agora, nossa sociedade está doente porque só falam em paz, mas não se lembram de porque estamos aqui."
Fradkin era violinista em Moscou. Havia estudado em São Petersburgo e voltado à sua cidade natal decidido a ganhar a vida no Estado de Israel, que havia acabado de derrotar seus adversários árabes na Guerra dos Seis Dias (1967).
A música o auxiliou a integrar uma das primeiras levas de colonos russos a emigrar para Israel -tendência que virou onda depois da dissolução soviética, em 1991.
Fradkin, 63, professor da Academia de Música de Jerusalém e líder do Quarteto Binyamin, mora em Almon -nome oficial de Anatot, vila hoje 100% judaica de 2.000 habitantes perto de Jerusalém, onde teria nascido o profeta Jeremias, segundo a tradição. Judeu não-ortodoxo, ele se considera religioso, mas não fanático.
Por telefone, após um encontro ao vivo em Jerusalém, ele falou à Folha sobre sua desilusão com as perspectivas de paz, sua desconfiança dos palestinos e do governo de direita de Ariel Sharon -em quem votara nas eleições de 2001. (IG)
 

Folha - Como o sr. recebeu a notícia da morte do líder palestino Iasser Arafat?
Daniel Fradkin -
De forma indiferente. Ele fomentou o ódio aos judeus, o ódio a Israel, e eu nunca confiei nele porque ele nunca cumpriu sua palavra. Além disso, ele era um terrorista que virou um dirigente corrupto.

Folha - Não é o que parte dos políticos israelenses achavam quando assinaram a paz de Oslo com ele, não?
Fradkin -
Todo mundo tem direito à estupidez, isso eu não questiono. Mas o que essa gente, Yossi Beilin e Shimon Peres [moderados do Partido Trabalhista] em especial, fez, foi cometer um crime, se aliar a terroristas.
Beilin negociou com esse Abu Mazen, que agora vai ser o líder dos palestinos. O sujeito fez um doutorado negando o Holocausto! [na realidade, o trabalho de Mahmoud Abbas, o Abu Mazen, relacionava práticas do sionismo com as do nazismo].

Folha - O sr. acredita que exista alguma possibilidade de paz entre árabes e israelenses?
Fradkin -
Não. Nós que viemos fazer Israel do nada não confiamos nos árabes, nem em governos que façam tratos com eles. Eu conheço muita gente que morreu em atentados, para eles não há acordo mais que os traga de volta.

Folha - Como o sr. vê a posição de Ariel Sharon?
Fradkin -
Não é justificável. Ele quer se salvar de tudo quanto é jeito. Agora, acaba de trair 80 mil colonos que ajudou a colocar em Gaza e na Cisjordânia, fazendo o Knesset [Parlamento] aprovar essa retirada vergonhosa. Ele era quem falava: ocupem as colinas! E agora, como eles ficam?


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