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"Não confiamos em governos que façam acordos com árabes"
DO ENVIADO ESPECIAL
Daniel Fradkin tinha 29 anos
quando emigrou da extinta União
Soviética para o Estado de Israel,
em 1970. "Tínhamos muitas esperanças. Não queríamos mais ficar
no Estado ateu e anti-semita que
era a União Soviética naquela
época. A terra de Israel era um sonho", disse.
"Agora, nossa sociedade está
doente porque só falam em paz,
mas não se lembram de porque
estamos aqui."
Fradkin era violinista em Moscou. Havia estudado em São Petersburgo e voltado à sua cidade
natal decidido a ganhar a vida no
Estado de Israel, que havia acabado de derrotar seus adversários
árabes na Guerra dos Seis Dias
(1967).
A música o auxiliou a integrar
uma das primeiras levas de colonos russos a emigrar para Israel
-tendência que virou onda depois da dissolução soviética, em
1991.
Fradkin, 63, professor da Academia de Música de Jerusalém e
líder do Quarteto Binyamin, mora em Almon -nome oficial de
Anatot, vila hoje 100% judaica de
2.000 habitantes perto de Jerusalém, onde teria nascido o profeta
Jeremias, segundo a tradição. Judeu não-ortodoxo, ele se considera religioso, mas não fanático.
Por telefone, após um encontro
ao vivo em Jerusalém, ele falou à
Folha sobre sua desilusão com as
perspectivas de paz, sua desconfiança dos palestinos e do governo
de direita de Ariel Sharon -em
quem votara nas eleições de
2001.
(IG)
Folha - Como o sr. recebeu a notícia da morte do líder palestino Iasser Arafat?
Daniel Fradkin - De forma indiferente. Ele fomentou o ódio aos judeus, o ódio a Israel, e eu nunca
confiei nele porque ele nunca
cumpriu sua palavra. Além disso,
ele era um terrorista que virou um
dirigente corrupto.
Folha - Não é o que parte dos políticos israelenses achavam quando
assinaram a paz de Oslo com ele,
não?
Fradkin - Todo mundo tem direito à estupidez, isso eu não
questiono. Mas o que essa gente,
Yossi Beilin e Shimon Peres [moderados do Partido Trabalhista]
em especial, fez, foi cometer um
crime, se aliar a terroristas.
Beilin negociou com esse Abu
Mazen, que agora vai ser o líder
dos palestinos. O sujeito fez um
doutorado negando o Holocausto! [na realidade, o trabalho de
Mahmoud Abbas, o Abu Mazen,
relacionava práticas do sionismo
com as do nazismo].
Folha - O sr. acredita que exista
alguma possibilidade de paz entre
árabes e israelenses?
Fradkin - Não. Nós que viemos
fazer Israel do nada não confiamos nos árabes, nem em governos que façam tratos com eles. Eu
conheço muita gente que morreu
em atentados, para eles não há
acordo mais que os traga de volta.
Folha - Como o sr. vê a posição de
Ariel Sharon?
Fradkin - Não é justificável. Ele
quer se salvar de tudo quanto é
jeito. Agora, acaba de trair 80 mil
colonos que ajudou a colocar em
Gaza e na Cisjordânia, fazendo o
Knesset [Parlamento] aprovar essa retirada vergonhosa. Ele era
quem falava: ocupem as colinas! E
agora, como eles ficam?
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