São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

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ARTIGO

Soldados são subaproveitados

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior problema das Forças Armadas dos EUA, especificamente do Exército, não costuma ser tanto a quantidade de pessoal em serviço ativo, embora no caso atual esse problema tenha chegado a níveis preocupantes com a necessidade de tropas no Iraque e no Afeganistão. O essencial é que o Exército dos EUA, historicamente e por vários motivos, não aproveita adequadamente os soldados que tem à sua disposição.
Os EUA combateram a Segunda Guerra Mundial com um Exército de "civis armados". Antes da guerra, o Exército americano era menor que o de muitos países europeus pequenos, como a Romênia. Esse pequeno "cadre" de soldados profissionais serviu para treinar forças que passaram de dez milhões de homens.
Nas guerras na Coréia e no Vietnã as Forças Armadas ainda eram numerosas. Os civis voltaram a ser recrutados, o que ajudou a causar oposição à guerra na Indochina. Universitários tinham meios de não servir, como mostram as nada honrosas "carreiras militares" de políticos que passaram o tempo na Guarda Nacional, espécie de reserva que não foi convocada.
Já as minorias -negros, "latinos", homens de baixa renda- foram recrutadas e enviadas à guerra em número proporcionalmente maior do que na população em geral.
Mas dos milhões de americanos que passaram pelo Vietnã, apenas uma parte era de tropas de linha de frente de fato envolvidas em operações e em combate. Mesmo no auge da guerra nos anos 1960, quando havia meio milhão de americanos na Indochina, menos de 100 mil eram tropas combatentes. O resto era de tropas de apoio, o que incluía desde o soldado supervisionando o desembarque de combustível no porto, até outro "operando" uma máquina de produzir sorvete.
O mesmo acontece hoje no Iraque, apesar dos esforços em terceirizar várias atividades.
Parte da tropa também não costuma estar disponível para operações por estar em treinamento, em trânsito, em licença ou por motivos de saúde. O percentual indisponível costuma chegar a 15% no Exército ativo, ou 30% entre os reservistas.
O Exército pós-Vietnã tornou-se todo voluntário, o que ajudou a diminuir seu tamanho. Um soldado profissional espera uma carreira e pagamento compatíveis com o que poderia ter na vida civil.
As armas também se tornaram mais precisas e mais poderosas desde a Segunda Guerra, o que também ajuda os Exércitos a serem mais "enxutos", já que um pelotão de hoje tem poder de fogo bem maior que um de sessenta anos atrás. É o que o ex-secretário Donald Rumsfeld queria, Forças Armadas menores, mas letais. Mas ocupar um país e patrulhá-lo exige muita "mão-de-obra" armada.


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