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VISITA HISTÓRICA
João Paulo 2º pede "atmosfera de liberdade" em Cuba; no vôo, ele falou sobre Che Guevara
Papa chega com críticas ao comunismo
JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Havana
O papa João
Paulo 2º não es
perou chegar a
Cuba para dar
sua primeira de
claração de teor
político.
No avião que o
levava a Havana, na tarde de on
tem, ele disse que se preparava pa
ra se manifestar sobre os direitos
humanos durante a visita que co
meçou ontem e vai até domingo.
"Vocês sabem bem o que eu
penso sobre os direitos humanos.
É o mesmo que eu disse na Polônia
e em outros países desde 1979. Os
direitos humanos são direitos fun
damentais e a base de toda a civili
zação. Levei esta crença à Polônia
no meu embate com um sistema
comunista totalitário."
A referência à Polônia, seu país
natal, não é casual: o combate ao
comunismo, especialmente ao en
tão rígido regime polonês, foi o
principal mote da primeira parte
de seu pontificado, que em 1998
completa 20 anos.
Essas declarações demonstram
que a viagem pode ser menos
"pastoral" (e portanto mais polí
tica) do que vinha anunciando,
por exemplo, o cardeal-arcebispo
de Havana, dom Jaime Ortega.
Os repórteres quiseram saber se
sua viagem significaria o começo
do fim do comunismo na ilha.
"Não sou profeta. Quem viver ve
rá", respondeu o papa.
Mas em pronunciamento de 14
minutos ao desembarcar ontem
em Havana, João Paulo 2º usou ex
pressões bastante amenas ao criti
car o regime comunista cubano.
O papa se referiu às "circunstân
cias difíceis" e aos "sofrimentos"
da igreja local, sobretudo em razão
da falta de sacerdotes.
Sem criticar regime local, exor
tou para que Cuba possa "oferecer
a todos uma atmosfera de liberda
de, de confiança recíproca, de jus
tiça social e de paz duradoura".
O dirigente Fidel Castro tentou
roubar a cena. Disse em seu dis
curso que Cuba é o país com me
lhores indicadores sociais (menos
crianças sem escola ou enfermos
sem hospitais) "que qualquer ou
tro país" que o papa já visitou.
Todo o protocolo montado pelo
governo cubano consistiu em fazer
do papa bem mais um chefe de Es
tado estrangeiro -o Vaticano-
que um dirigente espiritual.
O papa aparentava estar bem de
saúde. Desceu a escada do MD-11
mais rapidamente que o fizera há
meses no Rio. Curvou-se sem difi
culdades para beijar quatro crian
ças que o esperavam na pista.
Críticas aos EUA
Durante o vôo o papa também
fez referências críticas à posição
norte-americana em sua disputa
ideológica com Cuba. Um jorna
lista perguntou qual era a mensa
gem que ele enviaria a Washing
ton. "Que mudem", foi a respos
ta. Era uma referência ao embargo
econômico contra Cuba, iniciado
em 1962 e frequentemente ques
tionado pelo Vaticano.
A reação dos EUA foi dizer que o
embargo "é uma questão da lei
americana que recebe forte apoio
bipartidário", segundo comuni
cado do Departamento de Estado.
O papa também fez referência ao
maior herói do comunismo cuba
no, o guerrilheiro argentino Er
nesto "Che" Guevara. "Ele dese
java seguramente ajudar os po
bres. 'Che' se acha agora diante do
tribunal do Senhor, deixemos com
Ele a tarefa de julgá-lo."
Do presidente Fidel Castro, o pa
pa disse que espera ouvir "a ver
dade" -"Sua própria verdade
como homem, como presidente, o
chamado comandante da revolu
ção", disse ainda no avião.
João Paulo 2º, 77, fez um comen
tário irônico sobre sua saúde. Ad
mitiu que ela já não é mais a mes
ma do início do pontificado. Mas
provocou: "Quando quero saber
de minha saúde, leio os jornais".
Com agências internacionais
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