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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Paris enfrenta EUA e Reino Unido e quer apoio da União Européia contra guerra; Bush e Blair defendem ataque

França articula oposição à solução militar

Gerry Penny/France Presse
Ativistas exibem em frente ao Parlamento em Londres fotomontagem criticando a aliança entre Bush e Blair para atacar o Iraque


DO "THE INDEPENDENT"

A França anunciou ontem que vai pressionar outros governos europeus a fazer oposição aos planos americanos de guerra contra o Iraque. Com isso, Paris entra em rota de colisão com os EUA e abre um possível embate na União Européia (UE) com o Reino Unido.
O chanceler francês, Dominique de Villepin, disse que usaria uma reunião de chanceleres da UE na próxima semana para angariar oposição à guerra contra o Iraque. "É importante que a Europa fale com uma só voz", disse ele. "Estamos mobilizados. Cremos que a guerra possa ser evitada."
Suas declarações ocorrem um dia após ter revelado, durante encontro no Conselho de Segurança (CS) da ONU, que a França não pretende dar apoio a uma guerra, ao menos no curto prazo.
Ele obteve apoio público da China -membro permanente do CS com direito a veto, junto com EUA, Reino Unido, França e Rússia-, assim como da Alemanha.
Os franceses indicaram que vetariam nova resolução autorizando o uso da força. França, China e Alemanha argumentaram que os inspetores de armas da ONU necessitam de mais tempo para buscar os arsenais de destruição em massa iraquianos.
A polêmica cresceu ontem, quando o presidente dos EUA, George W. Bush, reagiu à posição francesa e voltou a atacar o ditador Saddam Hussein. "Certamente nossos amigos aprenderam as lições do passado. Certamente aprendemos como esse homem engana e posterga", afirmou. "Isso parece uma reexibição de um filme ruim e não estou interessado em assisti-lo."
Bush acrescentou: "Quanto tempo precisamos para ver que ele não está se desarmando? Ele está brincando de esconde-esconde com os inspetores".
Washington confirmou ontem o envio de mais 37 mil soldados e dois porta-aviões ao golfo. O contingente americano na região deve ultrapassar os 100 mil homens nas próximas semanas.
Os EUA ampliaram ontem os seus esforços de relações públicas para convencer o mundo a apoiar uma resolução militar. Foi criado um Escritório de Comunicações Globais, cuja primeira medida foi distribuir um panfleto sobre a propaganda oficial iraquiana intitulado "Máquina de Mentiras".
O governo tenta aplacar críticas internas também. O senador democrata Edward Kennedy afirmou que a Coréia do Norte e o terrorismo deveriam ser as prioridades. "Sigo convencido de que se trata da guerra errada no momento errado. A ameaça representada pelo Iraque não é iminente."

Blair
Já o premiê britânico, Tony Blair, disse estar disposto a apoiar uma ação contra o Iraque mesmo se os inspetores da ONU não encontrarem provas irrefutáveis. Para ele, o envio de tropas ao golfo já vem promovendo um enfraquecimento do governo de Saddam. Blair advertiu ainda que um "racha" entre a Europa e os EUA seria "totalmente desastroso".
Diplomatas em Nova York viram o discurso de segunda-feira do chanceler francês como uma emboscada contra o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, presente na reunião.
"Como podemos desarmar o Iraque por meios pacíficos, não devemos correr o risco de pôr em perigo a vida de civis inocentes ou soldados, ou abalar a estabilidade da região", afirmou De Villepin.
A temperatura do debate vem crescendo. Na segunda-feira, o chefe dos inspetores da ONU, o sueco Hans Blix, e o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohamed ElBaradei, apresentarão ao Conselho de Segurança o primeiro balanço geral sobre as inspeções no Iraque.
No dia seguinte, Bush fará o discurso sobre o estado da União, que terá o Iraque como tema. No fim de semana seguinte, se reúne com Blair em Camp David.
A França parece já ter calculado que qualquer tentativa americana e britânica de ganhar apoio multilateral do CS para uma guerra, na próxima semana, fracassará. Ontem, Rússia, Chile e Síria manifestaram apoio aos franceses.
Indagado sobre as controvérsias com Paris, o escritório do premiê britânico respondeu que o CS vai se deparar com uma "escolha simples e lógica" caso os inspetores digam que o Iraque não está cooperando: "Ou fazer valer a vontade da ONU ou deixar que essa vontade seja desafiada".
A batalha no CS, porém, colocaria tanto Bush como Blair diante de um grande dilema. Nenhum deles -sobretudo Blair- gosta da idéia de iniciar hostilidades sem amplo apoio internacional.


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