São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Pressão de Chávez implode partido aliado

Cinco deputados, governador e prefeito da segunda maior cidade do país deixam o Podemos para ficar com presidente

Direção da agremiação, a segunda maior da base chavista, resiste a se dissolver para integrar o novo partido governista

FABIANO MAISONNAVE
EM MARACAY, VENEZUELA

A resistência do segundo maior partido da base chavista em se dissolver no PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) praticamente está provocando o mesmo resultado. Desde que o presidente Hugo Chávez fez duras críticas ao Podemos, no último domingo, a agremiação perdeu um governador, o prefeito de Maracaibo, a segunda maior cidade do país, e 5 dos 19 deputados.
Os que saíram decidiram ingressar no PSUV, sem esperar a decisão oficial do partido, que até agora, por falta de consenso, não se manifestou.
Nos próximos meses, o Podemos corre o risco de ficar sem os seus outros dois governadores, Didalco Bolívar (Aragua, centro) e Francisco Rangel (Bolívar, sudeste). Nos dois casos, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) autorizou o processo para a convocação de referendos revogatórios de mandatos, cuja primeira fase é o recolhimento de assinaturas -de no mínimo 20% do eleitorado de cada Estado.
A iniciativa contra os governadores, impulsionada por movimentos chavistas, foi chamada de "retaliação" por Bolívar na última sexta-feira, quando acusou o CNE de ser um instrumento político.
No domingo, Chávez endureceu o tom contra o Podemos -sobretudo contra Bolívar- e contra os outros dois partidos que resistem à adesão automática ao PSUV, o Pátria para Todos (PPT) e o Partido Comunista Venezuelano (PCV).
No dia seguinte, o PPT e o PCV prometeram apoio incondicional a Chávez, mas não anunciaram a dissolução para conformar o PSUV, como quer o presidente venezuelano.
A ruptura entre Chávez e Bolívar chegou de forma violenta às ruas de Maracay (a 110 km de Caracas), capital do Estado de Aragua. A cidade, de 600 mil habitantes, é uma das regiões mais militarizadas do país e sedia dezenas de quartéis, sobretudo da Aeronáutica.

Violência no interior
Aragua é o principal reduto do Podemos: o grupo controla o governo desde o início das eleições estaduais, em 1989. Bolívar, reeleito duas vezes e no poder há nove anos, sempre apoiou Chávez.
Um dia após o ultimato de Chávez, centenas de manifestantes sem-teto ligados a Bolívar "seqüestraram" por três horas o prefeito da capital araguenha, o chavista Humberto Prieto, que participava de uma missa em homenagem ao padroeiro da cidade, São José.
A justificativa do protesto foi o suposto atraso nas obras de um conjunto habitacional, mas os manifestantes também protestavam contra a decisão de não renovar a licença da emissora oposicionista RCTV.
No outro lado da cidade, universitários chavistas tomaram um ônibus do governo estadual e o encheram de pichações chamando Bolívar de "traidor".
Anteontem, líderes sem-teto planejavam na Governadoria uma manifestação de apoio a Bolívar. Eles dizem temer ataques de chavistas com pedras e paus em retaliação ao seqüestro de Pietro.
"Vamos tomar a avenida Bolívar [principal da cidade] para que o país veja que Didalco não está sozinho", disse a líder sem-teto Leo Colvo. Ex-deputada e ex-vereadora, Colvo foi guerrilheira e tem dois filhos, Fidel e Sandino. "Não podemos subestimar o inimigo", afirmou sobre Chávez, para quem pediu votos na campanha eleitoral do ano passado.


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