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Taiwan vota hoje de olho no Tibete
Candidato independentista ganha novo fôlego ao levantar temores sobre Pequim
Relação entre o governo comunista e a ilha é gélida na política, mas quente na economia; China é principal mercado para exportações
Goh Chai Hin/France Presse
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Ma Ying-jeou, do Kuomintang, prometeu acelerar a economia criando mercado comum com China |
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Ao defender aproximação
com a China para não perder o
bonde da economia que mais
cresce no mundo, o ex-prefeito
de Taipé Ma Ying-jeou se tornou o favorito para vencer as
eleições de hoje para a Presidência de Taiwan. Mas, na última semana, graças à repressão
chinesa no Tibete, o candidato
independentista Frank Hsieh,
do partido do governo, conseguiu diminuir a distância do favorito. Hsieh é mais crítico com
a China e faturou ao levantar os
temores sobre as atitudes do
regime comunista.
As relações de Taiwan com a
China são economicamente
quentes e politicamente geladas. As empresas da ilha já investiram US$ 100 bilhões na
China, o principal mercado de
suas exportações e o segundo
mercado de onde compram,
depois do Japão. Um milhão de
taiwaneses mora na China.
Mas, nos últimos oito anos de
governo, do independentista
Partido Progressista Democrático, as relações políticas só
pioraram. Para muitos, um
mau negócio -esse seria um
dos motivos da desaceleração
da economia taiwanesa.
O tigre asiático, que crescia
mais de 10% ao ano nos anos
90, cresceu "apenas" 5,7% no
ano passado - taxa superior ao
crescimento brasileiro em
qualquer ano nos últimos 20
anos, mas frustrante na Ásia.
Sucesso na bolsa
Antes da repressão no Tibete, iniciada há dez dias, a economia dominou todos os debates
na campanha. Os dois candidatos prometem melhorar a relação com a China, mas diferem
na intensidade e nos prazos da
mudança. Ma propôs um mercado comum com a China,
mantendo a autonomia política
da ilha, o que foi duramente criticado por Hsieh. O independentista acha que Taiwan seria
inundado de produtos e mão-de-obra barata chineses.
Se eleito, Ma prometeu elevar o limite para visitantes chineses na ilha, dos atuais mil turistas para 3.000. E tentar facilitar o transporte aéreo. Como
os vôos diretos são proibidos,
uma viagem de Taipé a Xangai,
de uma hora e meia de duração,
pode levar até seis horas, com
escalas em Hong Kong ou Macau.
O favoritismo de Ma fez com
que a Bolsa de Taipé tivesse sucessivas altas nas últimas semanas, mesmo em meio à turbulência mundial. As demais
bolsas asiáticas caíram, e em
Taiwan a Bolsa se beneficiou da
perspectiva de mais relações
com a China. O partido de Ma, o
nacionalista Kuomintang, controla o Parlamento desde as
eleições legislativas de janeiro.
Tibete e referendo
Visto como "pró-China", Ma
precisou criticar a repressão no
Tibete para não passar uma
imagem de fraqueza. Ele rejeitou qualquer comparação entre
Taiwan e o Tibete, mas condenou a violência e até ameaçou
boicotar os Jogos Olímpicos caso a crise no Tibete piore.
"Quando a China abre a boca,
sempre reforça o inimigo. Ma
foi forçado a se distanciar da
China para continuar favorito",
disse à Folha o historiador australiano Bruce Jacobs, autor de
vários livros sobre Taiwan, país
que estuda desde 1970.
"O favoritismo de Ma se deve
à percepção mais ou menos geral de que a economia não vai
bem e de que houve muita corrupção com o PPD. Mas o país
já é muito desenvolvido, altamente industrializado, não pode crescer a taxas chinesas, há
exagero ao se falar de crise em
Taiwan", disse Jacob, de Taipé.
Hoje, além da escolha do presidente, os taiwaneses votarão
em um referendo convocado
pelos independentistas, que
propõe que o país pleiteie sua
entrada na ONU, como Taiwan
ou como República da China. O
referendo tem poucas chances
de dar em alguma coisa.
Até os EUA, aliados tradicionais de Taiwan, são contrários
ao referendo, e é improvável
que a ONU aceite sua candidatura. Para ser válida, a proposta
deve ter mais de 50% dos votos
de todos os eleitores aptos a votar na ilha, algo difícil de se
atingir. A proposta é vista como
inadmissível pela China, que
considera a ilha parte de seu
território. O premiê chinês,
Wen Jiabao, disse na semana
passada que a China continuaria a fazer tudo ao seu alcance
pela reunificação. Em 1895,
uma derrota militar obrigou a
China a ceder Taiwan para o
Japão. Mas a ilha voltou às
mãos da China, por três anos,
depois da Segunda Guerra.
Após a vitória dos comunistas na China, em 1949, 2 milhões de nacionalistas chineses
fugiram para Taiwan. Desde
então a ilha foi governada pelos
nacionalistas. Quarenta anos
depois, Taiwan se tornou uma
democracia e, em 2000, pela
primeira vez houve uma transição pacífica de poder entre os
dois principais partidos.
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