São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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Território não está pronto para eleições, diz ONG

FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Devagar que estou com pressa", dizia Napoleão (1769-1821) a seus assistentes enquanto eles o vestiam. A frase parece vir à mente de muitos timorenses que consideram as eleições marcadas para agosto e o processo de independência precipitados.
Um grupo de jovens intelectuais reunidos numa ONG local chamada Forum escreveu uma carta ao Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, exigindo que a votação de agosto e as eleições presidenciais, planejadas para o fim do ano, sejam adiadas.
A justificativa é que a pressa em firmar a independência poderia prejudicar o povo timorense. Os intelectuais dizem que, para redigir a Constituição, é preciso um período de consulta popular mais extenso.
"Uma Constituição é um documento complexo que envolve decisões fundamentais sobre que tipo de país será Timor. Para atingir esse objetivo, os timorenses devem receber as informações necessárias para saber que decisão estão tomando. Para que um povo esteja informado, é preciso haver tempo e não se consegue nada em três meses", diz um dos trechos da carta escrita pelo Forum.
O raciocínio do Forum reflete o que pensam os moradores das aldeias no interior do território, onde a informação chega com menos frequência. Apesar de a Untaet ter um sistema de informação pública, apenas cinco distritos recebem o sinal da rádio da força de paz.
Os jornais locais não alcançam mais que duas cidades, e a TV só chega a algumas centenas de privilegiados que vivem em Dili, a capital.
A alternativa mais eficaz de informação é um cinema móvel. Em um povoado do distrito de Viquenque, jovens agrupam-se em frente à única parede sólida de toda aldeia, em um centro de saúde reconstruído por uma ONG francesa. As outras casas são feitas de bambu.
As notícias da TVTL (Televisão Timor Lorosae), a emissora local que a ONU dirige com um jornalista brasileiro à frente, são transmitidas com um gerador de eletricidade portátil e um aparelho de vídeo.
Tudo é produzido em Dili e falado em tetum, dialeto comum a 80% da população. Só falam português os timorenses com mais de 35 anos.
Francisco Guterres, morador de Beaco, disse que ficou sabendo das eleições pelo chefe da aldeia. Mas admite que não entende muito bem o que será votado em 30 de agosto.
"Sei que a Untaet é um governo transitório e agora querem passar o poder aos timorenses, mas estamos preocupados porque pode haver violência", diz ele.
Aproveitando as festividades da Páscoa, o bispo de Dili, Carlos Ximenes Belo, e o líder timorense José Ramos Horta -ganhadores do Prêmio Nobel da Paz em 1996 pelas denúncias de abuso aos direitos humanos praticados pela Indonésia- lançaram uma vigorosa campanha contra a violência.


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