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Território não está pronto para eleições, diz ONG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Devagar que estou com pressa", dizia Napoleão (1769-1821) a
seus assistentes enquanto eles o
vestiam. A frase parece vir à mente de muitos timorenses que consideram as eleições marcadas para agosto e o processo de independência precipitados.
Um grupo de jovens intelectuais
reunidos numa ONG local chamada Forum escreveu uma carta
ao Conselho de Segurança da
ONU, em Nova York, exigindo
que a votação de agosto e as eleições presidenciais, planejadas para o fim do ano, sejam adiadas.
A justificativa é que a pressa em
firmar a independência poderia
prejudicar o povo timorense. Os
intelectuais dizem que, para redigir a Constituição, é preciso um
período de consulta popular mais
extenso.
"Uma Constituição é um documento complexo que envolve decisões fundamentais sobre que tipo de país será Timor. Para atingir esse objetivo, os timorenses
devem receber as informações necessárias para saber que decisão
estão tomando. Para que um povo esteja informado, é preciso haver tempo e não se consegue nada
em três meses", diz um dos trechos da carta escrita pelo Forum.
O raciocínio do Forum reflete o
que pensam os moradores das aldeias no interior do território, onde a informação chega com menos frequência. Apesar de a Untaet ter um sistema de informação
pública, apenas cinco distritos recebem o sinal da rádio da força de
paz.
Os jornais locais não alcançam
mais que duas cidades, e a TV só
chega a algumas centenas de privilegiados que vivem em Dili, a
capital.
A alternativa mais eficaz de informação é um cinema móvel.
Em um povoado do distrito de
Viquenque, jovens agrupam-se
em frente à única parede sólida de
toda aldeia, em um centro de saúde reconstruído por uma ONG
francesa. As outras casas são feitas
de bambu.
As notícias da TVTL (Televisão
Timor Lorosae), a emissora local
que a ONU dirige com um jornalista brasileiro à frente, são transmitidas com um gerador de eletricidade portátil e um aparelho de
vídeo.
Tudo é produzido em Dili e falado em tetum, dialeto comum a
80% da população. Só falam português os timorenses com mais de
35 anos.
Francisco Guterres, morador de
Beaco, disse que ficou sabendo
das eleições pelo chefe da aldeia.
Mas admite que não entende
muito bem o que será votado em
30 de agosto.
"Sei que a Untaet é um governo
transitório e agora querem passar
o poder aos timorenses, mas estamos preocupados porque pode
haver violência", diz ele.
Aproveitando as festividades da
Páscoa, o bispo de Dili, Carlos Ximenes Belo, e o líder timorense
José Ramos Horta -ganhadores
do Prêmio Nobel da Paz em 1996
pelas denúncias de abuso aos direitos humanos praticados pela
Indonésia- lançaram uma vigorosa campanha contra a violência.
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