São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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ELEIÇÃO

Líder da extrema direita surpreende e tira o premiê socialista Lionel Jospin da disputa pela Presidência da França

Le Pen disputará segundo turno com Chirac

France Presse
O presidente Jacques Chirac acena a simpatizantes ao deixar seção eleitoral na cidade de Sarran


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Um terremoto político atingiu ontem a França com a passagem do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen para o segundo turno das eleições presidenciais. Ele ultrapassou por pequena margem de votos o primeiro-ministro Lionel Jospin (socialista) e vai disputar o segundo turno com o atual presidente, Jacques Chirac.
Com 99,5% dos votos contabilizados, até as 3h30 de hoje (22h30 de ontem em Brasília), Chirac aparecia com 19,7% dos votos, seguido de Le Pen, com 17,1%. Jospin alcançava apenas 16,1%, contrariando todas as pesquisas realizadas antes das eleições presidenciais, que o colocavam em segundo lugar.
A derrota levou o primeiro-ministro a anunciar ontem à noite que vai abandonar a política depois do dia 5 de maio, quando acontece o segundo turno. É a primeira vez que a extrema direita passa a primeira rodada das eleições. Para Le Pen, 73, o resultado demonstrou "o fracasso de dois líderes do establishment, Jacques Chirac e Lionel Jospin".
"Esses resultados representam um desastre", afirmou Jospin, 64, no quartel-general de sua campanha. "Eu assumo totalmente a responsabilidade por essa derrota e tirarei a conclusão de me retirar da política após o fim da eleição presidencial", disse.
Jospin não aconselhou seus simpatizantes sobre como votar no segundo turno, mas os principais assessores da campanha socialista deixaram claro que deverão apoiar Chirac, 69, para garantir a derrota de um homem -Le Pen- a quem classificam como ameaça à democracia.
Na TV, outros líderes de esquerda, com um travo na garganta, aludiram ou confirmaram a necessidade de um "voto útil" para Chirac. Segundo pesquisas, Chirac teria uma vitória absoluta sobre o líder de extrema direita, com 78% dos votos, contra 22%, caso o segundo turno fosse hoje.
O presidente conclamou os franceses a se unirem em torno de seu nome. "Hoje, o que está em causa é nossa coesão nacional, os valores da república aos quais os franceses são tão ligados", disse.
As atenções agora se voltam para as eleições parlamentares de junho. A esquerda tentará de tudo para se reunir e evitar na Assembléia o crescimento da extrema-direita, que conta ainda com os votos de outro partido extremista, liderado por Bruno Mégret (2,4% de votos na eleição) e que já declarou o seu apoio a Le Pen.
"Terremoto", "cataclismo", "choque" e "vergonha" eram as palavras mais usadas pelos políticos e as centenas de manifestantes que saíram às ruas do país para protestar contra Le Pen, acusado de fascismo e xenofobia. Ele defende medidas duras contra a imigração e se opõe à integração européia. A idéia de "reconstrução" da esquerda e da política também se espalhou nos debates.
"Que o segundo turno da eleição seja realizado com Chirac e Le Pen dá a medida da extrema decomposição de nosso sistema político", declarou o candidato do Pólo Republicano, Jean-Pierre Chevènement (centro-esquerda).
A crise da representação política no país se espelha ainda na taxa de abstenção destas eleições. Chegou a 28% e é a maior dos 44 anos da Quinta República. É também a primeira vez também que dois candidatos passam ao segundo turno com um número tão baixo de votos -o que não torna muito honrosa a predominância de Chirac no primeiro turno.



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