São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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DIPLOMACIA

EUA querem saída de brasileiro da organização

José Bustani pode ser destituído hoje da direção-geral da Opaq

ROGERIO SCHLEGEL
FREE-LANCER PARA A FOLHA, DE HAIA

Deve ser decidido hoje o destino do diplomata brasileiro José Maurício Bustani, cuja saída do cargo de diretor-geral da Opaq (Organização para a Prescrição das Armas Químicas) foi pedida pelos EUA. Ontem, primeiro dia da conferência especial convocada para discutir o tema, em Haia (Holanda), o Brasil se colocou a favor de Bustani, deixando claro a falta de consenso entre os 145 países da Opaq -hipótese que teria posto fim à gestão do diplomata.
Os EUA repetiram as críticas à gestão de Bustani, 56, e oficializaram o pedido para que deixe o cargo. Pelas regras da Opaq, a votação para decidir o assunto só pode ocorrer 24 horas após o pedido formal. Em princípio, a destituição do diretor-geral só ocorre se dois terços dos países que participam da conferência votarem a seu favor, descontadas as abstenções, mas por se tratar de caso inédito os procedimentos envolvidos estão em discussão.
Pela força da gestão americana contra o brasileiro, sua saída era considerada irreversível pelo Itamaraty na semana passada. A expectativa é que os países europeus, o Japão e até países sul-americanos -que tradicionalmente acompanhariam o voto do Brasil- votem com os EUA. Antes da conferência, Bustani afirmou que sentia "ebulição" entre países europeus e via possibilidade de reverter o quadro desfavorável.
Em seu discurso, ele voltou a enfatizar a necessidade de preservar o caráter multilateral das organizações internacionais e acusou os EUA de tentarem ser "mais iguais" que os demais. Num recado aos europeus, disse que os 6 milhões que os EUA deixariam de pagar esse ano são um preço pequeno pela manutenção de fato, e não de fachada, da independência da entidade. Os norte-americanos ameaçam não completar sua contribuição anual de 12 milhões de euros -perto de 22% da orçamento da Opaq para 2002- caso Bustani permaneça na direção.
O embaixador Luiz Augusto de Araújo Castro, falando em nome do Brasil, defendeu a gestão de Bustani, mas deixou claro que não atua em nome do país. O diplomata disse que se trata de defender as instituições multilaterais. A sessão de ontem foi fechada à imprensa, e os argumentos dos EUA contra Bustani só serão divulgados hoje.


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