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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

General reformado encontra, em seu primeiro dia na capital, protestos e um "prefeito" autoproclamado

Garner pede "tempo" na chegada a Bagdá

Odd Andersen/Associated Press
O general americano Jay Garner conversa com líder tribal iraquiano em visita a hospital de Bagdá


DA REDAÇÃO

O general reformado americano Jay Garner chegou ontem a Bagdá para formar um governo interino e restaurar a ordem. Em suas primeiras declarações, ele pediu tempo para que o trabalho comece a dar resultados.
Garner chegou à cidade pelo aeroporto internacional após um curto vôo vindo do Kuait. Do aeroporto, o general foi direto visitar o hospital Yarmuk, totalmente tomado pelas vítimas dos últimos dias da guerra.
As unidades de tratamento coronário e respiratório do hospital foram totalmente destruídas pelos saqueadores durante a queda da cidade. "Nós vamos ajudá-los, mas vai levar tempo", disse aos médicos.
A reação de alguns médicos mostra o estado de espírito de muitos dos iraquianos com quem Garner terá de lidar: "Se eles nos derem algo, não será de seus bolsos, e sim do nosso petróleo. Saddam Hussein era um mandatário injusto, mas talvez nós conseguíssemos nos ver livres dele por nossa conta. Aí não teríamos de conviver com esses estrangeiros em nosso país", disse uma médica que se identificou como Iman.
Vestido de cáqui e usando óculos escuros, o general tentou contemporizar com os primeiros sinais de rejeição: "O Iraque tem uma das mais brilhantes, vibrantes e ricas sociedades do mundo".
Junto com ele estavam cerca de 20 assessores, inclusive seu "vice", o general britânico Tim Cross, e a ex-embaixadora dos EUA no Iêmen Barbara Bodine, que deve assumir o governo do Iraque central -onde fica Bagdá. Nos próximos dias, chegarão os outros integrantes de sua equipe, completando o grupo de cerca de 400 assessores.

Problemas em curso
Enquanto Garner visitava o hospital uma manifestação de milhares de xiitas tinha como seu ponto central a porta do Hotel Palestine, que abriga muitos dos oficiais americanos na cidade.
Os manifestantes queriam a liberação do clérigo xiita Mohammed al Fartusi, preso no subúrbio de Al Thawra. O comando militar americano não quis comentar os motivos da prisão.
Outro problema que o general deve enfrentar nos próximos dias será o de como lidar com o autoproclamado "prefeito de Bagdá", Mohammed Mohsen al Zubeidi.
Garner disse que não reconhece a autoridade de nenhum dirigente autoproclamado no país. "Vários saíram dizendo terem sido escolhidos. Não conhecemos nenhum deles. Não reconhecemos nenhum deles", afirmou.
Al Zubeidi se diz eleito por uma assembléia de notáveis, composta de representantes sunitas, xiitas, cristãos e de intelectuais. Ele afirmou que permanecerá no cargo mesmo que Washington não o reconheça. "Seguirei cuidando dos problemas de Bagdá. O povo do Iraque nos elegeu."
O "prefeito" é membro do CNI (Congresso Nacional Iraquiano, um dos principais grupos de oposição à ditadura de Saddam Hussein). "Não fui designado pelos EUA. O próprio presidente americano, George W. Bush, disse em várias ocasiões que o povo do Iraque é que deve eleger seus representantes", disse.
A embaixadora Barbara Bodine disse também não reconhecer a eleição de Al Zubeidi e de seu vice, o general Jaudat al Obeidi.
Al Obeidi afirmou no final de semana que iria participar das próximas reuniões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) na qualidade de representante do Iraque.
Foi desaconselhado ontem por Bodine: "Não pode ser. Não acho que a Opep aceitaria. Não vamos impedir que ele vá, mas não me estranharia que a Opep não o aceitasse", disse.

Incidente
Dois membros do CNI e um membro de sua milícia, as Forças Livres Iraquianas, foram mortos por marines, no que pode ser considerado o primeiro incidente de "fogo amigo" após o fim das operações militares de grande porte.
Os três estavam num carro quando foram atingidos pelo disparo de um tanque Abrams perto do Banco Central do Iraque. Aparentemente os homens não entenderam a ordem dada pelos marines para que não se aproximassem do local.
Com o movimento de retirada dos marines -que estão sendo substituídos por tropas comuns-, um toque de recolher está sendo imposto na capital iraquiana das 23h às 6h.

Com agências internacionais


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