UOL


São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Ex-ministro cresce nas pesquisas e pode ir ao 2º turno com Menem, mas ainda há empate entre três candidatos

Crescimento de López Murphy assusta rivais

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quase sem novidades desde o seu início, a eleição presidencial da Argentina, marcada para domingo (dia 27), tem agora um fato de maior relevância: o candidato Ricardo López Murphy (Movimento Federal Recriar), dado como sem chances até há duas semanas, apareceu em uma pesquisa como o primeiro colocado numericamente. Apesar da dianteira, Murphy está em situação de empate técnico com os candidatos Carlos Menem (Aliança Frente pela Lealdade) e Néstor Kirchner (Aliança Frente pela Vitória).
Apenas citada, mas não divulgada pelos jornais argentinos de ontem, a pesquisa que aponta uma mudança na disputa eleitoral foi realizada pelo Cinea (Centro de Investigaciones en Estadística Aplicada), da UNTREF (Universidade Nacional de Tres de Febrero), um estabelecimento do governo federal argentino situado na Grande Buenos Aires.
O campo da pesquisa foi dia 18 (sexta-feira passada), com 2.669 eleitores. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. A Folha teve acesso ao conteúdo completo do levantamento. Murphy aparece com 22,2%, seguido por Menem (20,1%), Kirchner (18%) e Rodríguez Saá (13,8%), da Frente Movimento Popular.
Numa projeção de segundo turno, Murphy venceria Menem por 45,4% a 24,5% -haverá segundo turno se nenhum dos candidatos atingir 45% dos votos válidos.
"É prematuro dizer que um deles possa ser o vencedor agora, mas é um fato que López Murphy cristalizou uma tendência de alta na última semana", diz o sociólogo Diego Brandi, 40, um dos diretores do Cinea.
Há dez dias, todas as pesquisas colocavam Murphy na faixa dos 15%, no máximo.
É importante notar que na Argentina não há lei regulando as pesquisas de opinião. Os candidatos podem fazer quantos levantamentos quiserem, sem apresentar os dados técnicos a respeito de como foi realizado o trabalho -exigência existente na legislação eleitoral do Brasil.
Na última pesquisa do Cinea, no dia 15 passado, Murphy tinha 17,7%. Como seu crescimento foi de 4,5 pontos percentuais -acima da margem de erro, portanto-, o dado causou desolação na Casa Rosada. Segundo a Folha apurou, o presidente da Argentina, Eduardo Duhalde (Partido Justicialista), reagiu como se fosse um golpe fatal na candidatura de seu preferido, Néstor Kirchner.
O desânimo de Duhalde pode resultar num esforço ainda menor do Partido Justicialista a favor de Kirchner na Província de Buenos Aires. Embora o PJ tenha três candidatos extra-oficiais (Kirchner, Menem e Rodríguez Saá), só o preferido de Duhalde esperava receber o apoio maciço da máquina partidária.
Murphy é um economista ortodoxo, da escola de Chicago, que foi ministro da Defesa do ex-presidente Fernando de La Rúa (União Cívica Radical) durante 14 meses. Depois, por duas semanas ocupou o cargo de ministro da Economia. Desentendeu-se com a direção da UCR e fundou seu próprio partido.
A eventual ida de Murphy para o segundo turno contra Menem contraria a previsão inicial de muitos analistas da Argentina, de que haveria um segundo turno entre dois justicialistas -ou peronistas, como são conhecidos os seguidores do PJ, partido do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974). Agora, é possível que seja um peronista (Menem ou Kirchner) contra um postulante de centro-direita.



Texto Anterior: Colômbia: Farc insistem em diálogo com militares
Próximo Texto: Ex-ministro vê FHC como modelo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.