São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Vanunu ficou mais de 11 anos em solitária

Livre após 18 anos, israelense se diz orgulhoso por revelar arsenal nuclear

DO "NEW YORK TIMES"

Depois de passar 18 anos preso por revelar segredos nucleares de Israel, Mordechai Vanunu deixou a prisão ontem como homem livre, fazendo um gesto de vitória e dizendo sentir orgulho do que fez.
Vanunu, 49, retorna para uma sociedade onde parece ser tão repudiado hoje quanto em 1986, quando foi seqüestrado pelo serviço israelense de inteligência, em Roma, após detalhar ao jornal inglês "Sunday Times" o programa nuclear clandestino de Israel.
O ex-técnico nuclear enfrenta uma lista de restrições que o impedem de deixar o país por um ano e de falar com estrangeiros. Apesar disso, Vanunu falou a jornalistas na saída da penitenciária Shikma, em Ashkelon, onde dezenas de defensores estrangeiros o saudavam como herói antinuclear, ao mesmo tempo em que detratores israelenses o tachavam de espião e traidor.
"Àqueles que me chamam de traidor, digo que estou orgulhoso e feliz por ter feito o que fiz."
O ministro da Justiça de Israel, Yosef Lapid, disse que Vanunu será monitorado de perto porque o governo acredita que ele ainda possa divulgar mais informações. "Ele mereceu o tratamento que recebeu, mesmo que a esquerda radical o tenha transformado em herói", disse Lapid.
Vanunu, que se converteu ao cristianismo e disse que quer mudar-se para os EUA, casar-se e estudar história, acrescentou: "Não estou prejudicando Israel. Não estou interessado em Israel". Seus pais, religiosos devotos, o deserdaram. Em suas primeiras horas de liberdade, Vanunu foi a uma igreja em Jerusalém, onde recebeu a comunhão. Ele disse que foi tratado de forma "bárbara e cruel" na prisão porque é um convertido. Vanunu passou mais de 11 anos em solitária.
Antes de Vanunu vir a público com o que sabia, a idéia largamente prevalecente era que Israel não tivesse armas nucleares. Até hoje, porém, Israel se nega a confirmar ou negar que as possua, seguindo sua política de "ambigüidade nuclear".
Baseados nas informações de Vanunu, especialistas estimaram que Israel possuísse até 200 armas nucleares.
Vanunu disse que Israel "não precisa das armas nucleares, especialmente agora, quando todo o Oriente Médio está livre de armas nucleares".


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