|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
A culpa não é só de Bush
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
Árabes estão matando árabes
no Iraque e na Arábia Saudita. E
a culpa não é do presidente americano, George W. Bush. Ao menos, não é só dele, como prega o
extremismo antiamericanista
em voga no planeta.
Sim, sua desastrada guerra
contra Saddam Hussein liberou
forças destrutivas que um dos
mais sanguinários ditadores do
sanguinário século 20 continha
com mão de aço.
E sua incapacidade de planejar
um pós-guerra ordeiro e com o
imprescindível apoio da comunidade internacional é uma das
responsáveis pelo morticínio iraquiano. Mas não é a única nem a
preponderante.
A doença mortal que assola o
mundo árabe vem de muito antes de Bush chegar à Casa Branca, em janeiro de 2001. Então, como agora, os árabes eram governados por ditaduras que quase
nada dão a seus cidadãos. A única via de escape tolerada por esses regimes é o islã.
O islamismo, como outras religiões, aceita várias interpretações. Mas, justamente como fuga
da intolerável realidade árabe,
um dos ramos que mais florescem nas últimas décadas é o extremista, que prega a violência
contra os "infiéis". Assim, governantes árabes canalizam a frustração de seus cidadãos oprimidos contra um "outro" além-fronteiras: preferencialmente os
"satãs" Israel e EUA.
Só que o 11 de Setembro e a
ocupação do Iraque trouxeram o
"grande satã" para dentro do
mundo árabe. Regimes e instituições aliadas de Washington, como o governo saudita e a esfarrapada polícia iraquiana, estão na
mira extremista. O saudita Osama bin Laden, líder da Al Qaeda,
odeia a família real saudita tanto quanto odeia Bush.
E esses fanáticos não se vexam
de matar muçulmanos -como
visto em abundância ontem e em
outras dezenas de ataques, no solo iraquiano, saudita, marroquino, turco, americano, espanhol- apesar de dizerem justamente lutar contra a opressão
árabe e muçulmana.
Como mudar essa situação trágica é uma tarefa que seria mais
bem realizada pelos próprios
árabes, mas seus regimes, mesmo
pressionados, se mostram pouco
dispostos e muito lentos para estancar o sangue derramado e
abrir sólidos canais de mudanças
políticas e sociais.
Duas coisas são paradoxalmente certas: Bush fracassou em
seu intento de liderar uma guerra mundial contra o terror, mas
a saída das tropas estrangeiras
do Iraque agora só piora a situação. Um papel maior da ONU no
Iraque pode ser um começo.
Texto Anterior: Extremismo islâmico fomentado pelo regime agora o ameaça Próximo Texto: Oriente Médio: Livre após 18 anos, israelense se diz orgulhoso por revelar arsenal nuclear Índice
|