|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Primeiro desafio será dar unidade a coalizão, diz Lugo
Novo presidente paraguaio, eleito com apoio de nove partidos, destaca a primeira transição de poder "sem sangue" no país
Ex-bispo prevê boa relação com Lula, se compara a uruguaio Vázquez e diz que aposta no Mercosul, apesar de "situação desvantajosa"
Diego Benítez/Efe
|
|
Paraguaio lê em Assunção jornal que anuncia vitória de Lugo, que pôs fim a domínio colorado
DO ENVIADO A ASSUNÇÃO
Eleito presidente anteontem
ao derrotar a governista Blanca
Ovelar, quebrando uma hegemonia de 61 anos do Partido
Colorado, o ex-bispo Fernando
Lugo admitiu que, até a posse,
em agosto, terá de dar unidade
à coalizão que lhe elegeu.
A Aliança Patriótica para a
Mudança (APC, na sigla em espanhol) reúne nove partidos de
vários espectros ideológicos e
mais um tanto de movimentos
sociais, cujas diferenças entre
si são um desafio à governabilidade. Lugo também deverá ter
dificuldades no Congresso, onde as projeções indicavam que
terá minoria.
A histórica vitória de Lugo
(40,8% a 30,7%, com 92% das
urnas apuradas) provocou uma
grande festa noturna no centro
de Assunção.
Dizendo-se cansado, pois ficara acordado até 5h, Lugo falou ontem de manhã à imprensa brasileira, em sua casa, um
sobrado simples na cidade de
Lambaré, Grande Assunção.
Leia os principais trechos:
GOVERNABILIDADE
"Fomos eleitos pela APC, que
ainda não completou oito meses. Há fissuras, deficiências,
falências, então a primeira
questão a consolidar é a unidade da APC e preparar-se para
governar a partir de agosto.
O presidente Nicanor [Duarte] ganhou com 37%, e a oposição junta teve mais de 60% dos
outros candidatos [não há segundo turno no Paraguai], e ele
teve uma governabilidade bastante aceitável. Creio que agora
chega o momento das grandes
conversas e alianças, dentro da
própria APC e no Parlamento,
para que essa governabilidade
seja mais eficiente.
Alegra-nos o fato de que o
presidente da República tenha
reconhecido nossa vitória e ao
mesmo tempo tenha se mostrado aberto à formação de
uma comissão mista que poderá, pela primeira vez na história
paraguaia, fazer uma transição
sem violência, sem sangue, sem
morte. Nunca na história política paraguaia um partido deu o
poder a outro sem violência
nem sangue."
IMPERIALISMO
[Concorda com setores que
vêem o Brasil como explorador?] "Não. Temos relações
históricas com o Brasil, que temos que aprofundar e melhorar. Não é nenhum segredo que
toda a região tem que melhorar
em termos de relações mais solidárias, justas e fraternas, como corresponde a países irmãos. Lastimosamente nossas
relações não foram historicamente as mais fraternas. Por
que não repensar, no século 21,
nossas relações internacionais,
para que sejam mais justas?"
MERCOSUL
"Na década de 70, existia
uma iniciativa chamada Uruparbol, [união de] Uruguai, Paraguai e Bolívia, que acabou
congelada. Falando algumas
vezes com o presidente do Uruguai, concordamos que os dois
países pequenos do Mercosul
nos sentimos às vezes em situação desvantajosa dentro do bloco. Não sei se vamos ressuscitar
a Uruparbol, mas queremos
que o crescimento seja mais simétrico e mais solidário dentro
da região. Vamos apostar no
Mercosul, que já tem 17 anos, a
constituição do Parlamento do
Mercosul é o Mercosul político,
tomara que sejam ampliados o
Mercosul social e o cultural."
RELAÇÃO BILATERAL
"As primeiras conversas que
tive com Lula foram cheias de
cordialidade e abertura. Estou
convencido de que Lula tem
grande predisposição de uma
relação de cooperação com o
Paraguai. Confio neste governo
também pela confiança que o
povo brasileiro tem nele e estou convencido que nossas relações vão tomar um rumo
muito melhor do que tem tido
historicamente."
LULA LIGOU?
"Recebi ligações de outros,
como Tabaré [Vázquez, Uruguai], [a chilena Michelle] Bachelet, Evo [Morales], Cristina
[Kirchner, Argentina], o presidente da Venezuela, da Nicarágua... Possivelmente ele tenha
tentado... Havia 120 ligações
não atendidas no meu celular.
[Em viagem a Gana, Lula não
telefonou, mas enviou um telegrama]. [Chávez] ligou ontem à
noite para me felicitar. Eu expressei o desejo de conhecê-lo
pessoalmente, porque dizem
tantas coisas sobre nossa relação que não são verdade."
EU ME PAREÇO COM...
"Possivelmente com Tabaré
Vázquez. Ele também tem um
espectro ideológico diverso, a
Frente Ampla -com a diferença de que a Frente Ampla chegou ao poder depois de 30 anos
de formada, e nós depois de oito meses estamos cometendo
esta ousadia de querer ser governo. Muitos disseram que
sou como o eixo, ou como a dobradiça, que une diferentes espectros ideológicos. Na aliança,
creio que a renúncia das fronteiras políticas e ideológicas é
uma de nossas fortalezas."
Texto Anterior: Chávez lembra ditador Solano López ao cumprimentar ex-bispo por seu triunfo Próximo Texto: Religião: Ex-bispo pede desculpas por "dor" à igreja Índice
|