São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

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Primeiro desafio será dar unidade a coalizão, diz Lugo

Novo presidente paraguaio, eleito com apoio de nove partidos, destaca a primeira transição de poder "sem sangue" no país

Ex-bispo prevê boa relação com Lula, se compara a uruguaio Vázquez e diz que aposta no Mercosul, apesar de "situação desvantajosa"

Diego Benítez/Efe
Paraguaio lê em Assunção jornal que anuncia vitória de Lugo, que pôs fim a domínio colorado

DO ENVIADO A ASSUNÇÃO

Eleito presidente anteontem ao derrotar a governista Blanca Ovelar, quebrando uma hegemonia de 61 anos do Partido Colorado, o ex-bispo Fernando Lugo admitiu que, até a posse, em agosto, terá de dar unidade à coalizão que lhe elegeu.
A Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol) reúne nove partidos de vários espectros ideológicos e mais um tanto de movimentos sociais, cujas diferenças entre si são um desafio à governabilidade. Lugo também deverá ter dificuldades no Congresso, onde as projeções indicavam que terá minoria.
A histórica vitória de Lugo (40,8% a 30,7%, com 92% das urnas apuradas) provocou uma grande festa noturna no centro de Assunção.
Dizendo-se cansado, pois ficara acordado até 5h, Lugo falou ontem de manhã à imprensa brasileira, em sua casa, um sobrado simples na cidade de Lambaré, Grande Assunção. Leia os principais trechos:

GOVERNABILIDADE
"Fomos eleitos pela APC, que ainda não completou oito meses. Há fissuras, deficiências, falências, então a primeira questão a consolidar é a unidade da APC e preparar-se para governar a partir de agosto.
O presidente Nicanor [Duarte] ganhou com 37%, e a oposição junta teve mais de 60% dos outros candidatos [não há segundo turno no Paraguai], e ele teve uma governabilidade bastante aceitável. Creio que agora chega o momento das grandes conversas e alianças, dentro da própria APC e no Parlamento, para que essa governabilidade seja mais eficiente.
Alegra-nos o fato de que o presidente da República tenha reconhecido nossa vitória e ao mesmo tempo tenha se mostrado aberto à formação de uma comissão mista que poderá, pela primeira vez na história paraguaia, fazer uma transição sem violência, sem sangue, sem morte. Nunca na história política paraguaia um partido deu o poder a outro sem violência nem sangue."

IMPERIALISMO
[Concorda com setores que vêem o Brasil como explorador?] "Não. Temos relações históricas com o Brasil, que temos que aprofundar e melhorar. Não é nenhum segredo que toda a região tem que melhorar em termos de relações mais solidárias, justas e fraternas, como corresponde a países irmãos. Lastimosamente nossas relações não foram historicamente as mais fraternas. Por que não repensar, no século 21, nossas relações internacionais, para que sejam mais justas?"

MERCOSUL
"Na década de 70, existia uma iniciativa chamada Uruparbol, [união de] Uruguai, Paraguai e Bolívia, que acabou congelada. Falando algumas vezes com o presidente do Uruguai, concordamos que os dois países pequenos do Mercosul nos sentimos às vezes em situação desvantajosa dentro do bloco. Não sei se vamos ressuscitar a Uruparbol, mas queremos que o crescimento seja mais simétrico e mais solidário dentro da região. Vamos apostar no Mercosul, que já tem 17 anos, a constituição do Parlamento do Mercosul é o Mercosul político, tomara que sejam ampliados o Mercosul social e o cultural."

RELAÇÃO BILATERAL
"As primeiras conversas que tive com Lula foram cheias de cordialidade e abertura. Estou convencido de que Lula tem grande predisposição de uma relação de cooperação com o Paraguai. Confio neste governo também pela confiança que o povo brasileiro tem nele e estou convencido que nossas relações vão tomar um rumo muito melhor do que tem tido historicamente."

LULA LIGOU?
"Recebi ligações de outros, como Tabaré [Vázquez, Uruguai], [a chilena Michelle] Bachelet, Evo [Morales], Cristina [Kirchner, Argentina], o presidente da Venezuela, da Nicarágua... Possivelmente ele tenha tentado... Havia 120 ligações não atendidas no meu celular. [Em viagem a Gana, Lula não telefonou, mas enviou um telegrama]. [Chávez] ligou ontem à noite para me felicitar. Eu expressei o desejo de conhecê-lo pessoalmente, porque dizem tantas coisas sobre nossa relação que não são verdade."

EU ME PAREÇO COM...
"Possivelmente com Tabaré Vázquez. Ele também tem um espectro ideológico diverso, a Frente Ampla -com a diferença de que a Frente Ampla chegou ao poder depois de 30 anos de formada, e nós depois de oito meses estamos cometendo esta ousadia de querer ser governo. Muitos disseram que sou como o eixo, ou como a dobradiça, que une diferentes espectros ideológicos. Na aliança, creio que a renúncia das fronteiras políticas e ideológicas é uma de nossas fortalezas."


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