São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sarkozy rouba bandeira ecológica da esquerda

Após incluir socialista no gabinete, presidente francês promove encontro que ecologista vê como "histórico"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Nicolas Sarkozy, o novo presidente francês, parece empenhado em roubar da esquerda não só nomes emblemáticos -e populares- mas também bandeiras como a defesa do ambiente.
Depois de nomear chanceler Bernard Kouchner, co-fundador da ONG "Médicos sem Fronteiras" e popular figura esquerdista, Sarkozy seduziu ontem outro "sem fronteiras": o ambientalista Franck Laval, presidente da "Ecologia sem Fronteiras", uma das nove ONGs do setor convidadas para o Palácio do Eliseu. À saída, Laval sapecou a etiqueta de "histórico" para o encontro, a partir da constatação de que, até então, ambientalistas e o governo francês só se encontram na rua ou nos tribunais.
O notório líder ecologista Nicolas Hulot foi um pouco mais contido mas não deixou de se mostrar satisfeito. "Enfim estamos deixando de lado nossos pequenos preconceitos e "desapaixonando" os debates", disse.
Pode ser que Sarkozy, mestre no uso da mídia, esteja só mantendo os holofotes sobre ele. Em todo o caso, ele jurou, no encontro de ontem, que "não será o enésimo colóquio para constatar a urgência ecológica e concluir que é preciso agir. A época dos colóquios ficou para trás. O tempo é de ação".
Para dar conseqüência ao discurso convocou o que está sendo chamado de "Grenelle do Ambiente" para setembro. Aqui há outro simbolismo: Sarkozy elegeu-se prometendo sepultar o espírito de Maio de 68. Grenelle é justamente o nome do acordo de Maio de 68 entre estudantes, sindicatos patronais e de empregados e o governo para aumentar salários. A reunião foi no Ministério do Trabalho, na rua Grenelle.
A "Grenelle do Ambiente", sempre segundo o que o presidente disse às ONGs, terá o ambicioso propósito de "negociar um contrato entre o Estado, os sindicatos, as empresas e as associações da sociedade civil", com avaliação anual dos compromissos a serem adotados em áreas como os organismos geneticamente modificados, a energia nuclear e, como é óbvio, o aquecimento global.
Com a iniciativa, Sarkozy concretiza uma de suas afirmações mais fortes no discurso da vitória, qual seja a de que o combate pelo ambiente "será o primeiro combate da França".

Educação
Não é só nesse capítulo, no entanto, que o novo governo atua com velocidade impressionante: o ministro da Educação, Xavier Darcos, anunciou ontem que de 10% a 20% dos estudantes poderão estar livres da chamada "carta escolar" já na volta às aulas em setembro.
A "carta escolar" estabelece que não cabe aos pais escolher a escola dos filhos; eles têm que ser atendidos no estabelecimento mais perto da casa.
O princípio impede que os mais ricos escolham as melhores escolas e confinem os mais pobres a estabelecimentos de segunda linha. Na prática, não está funcionando assim: na Paris central, ficam os alunos mais ricos, enquanto os mais pobres acabam nos "banlieues", os subúrbios majoritariamente habitados por imigrantes e seus descendentes.
Tudo somado, não é por acaso que a candidata socialista Ségolène Royal, derrotada por Sarkozy, diz que "algumas das medidas" adotadas pelo presidente são uma "homenagem" ao programa presidencial dela.


Texto Anterior: Na Venezuela, 3 são detidos por "conspiração"
Próximo Texto: Argentina: Kirchner diz que denúncia de corrupção não o intimidará
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.