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Sarkozy rouba bandeira ecológica da esquerda
Após incluir socialista no gabinete, presidente francês promove encontro que ecologista vê como "histórico"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Nicolas Sarkozy, o novo presidente francês, parece empenhado em roubar da esquerda
não só nomes emblemáticos
-e populares- mas também
bandeiras como a defesa do
ambiente.
Depois de nomear chanceler
Bernard Kouchner, co-fundador da ONG "Médicos sem
Fronteiras" e popular figura esquerdista, Sarkozy seduziu ontem outro "sem fronteiras": o
ambientalista Franck Laval,
presidente da "Ecologia sem
Fronteiras", uma das nove
ONGs do setor convidadas para
o Palácio do Eliseu. À saída, Laval sapecou a etiqueta de "histórico" para o encontro, a partir
da constatação de que, até então, ambientalistas e o governo
francês só se encontram na rua
ou nos tribunais.
O notório líder ecologista Nicolas Hulot foi um pouco mais
contido mas não deixou de se
mostrar satisfeito. "Enfim estamos deixando de lado nossos
pequenos preconceitos e "desapaixonando" os debates", disse.
Pode ser que Sarkozy, mestre
no uso da mídia, esteja só mantendo os holofotes sobre ele.
Em todo o caso, ele jurou, no
encontro de ontem, que "não
será o enésimo colóquio para
constatar a urgência ecológica
e concluir que é preciso agir. A
época dos colóquios ficou para
trás. O tempo é de ação".
Para dar conseqüência ao
discurso convocou o que está
sendo chamado de "Grenelle
do Ambiente" para setembro.
Aqui há outro simbolismo: Sarkozy elegeu-se prometendo sepultar o espírito de Maio de 68.
Grenelle é justamente o nome
do acordo de Maio de 68 entre
estudantes, sindicatos patronais e de empregados e o governo para aumentar salários. A
reunião foi no Ministério do
Trabalho, na rua Grenelle.
A "Grenelle do Ambiente",
sempre segundo o que o presidente disse às ONGs, terá o ambicioso propósito de "negociar
um contrato entre o Estado, os
sindicatos, as empresas e as associações da sociedade civil",
com avaliação anual dos compromissos a serem adotados
em áreas como os organismos
geneticamente modificados, a
energia nuclear e, como é óbvio, o aquecimento global.
Com a iniciativa, Sarkozy
concretiza uma de suas afirmações mais fortes no discurso da
vitória, qual seja a de que o
combate pelo ambiente "será o
primeiro combate da França".
Educação
Não é só nesse capítulo, no
entanto, que o novo governo
atua com velocidade impressionante: o ministro da Educação, Xavier Darcos, anunciou
ontem que de 10% a 20% dos
estudantes poderão estar livres
da chamada "carta escolar" já
na volta às aulas em setembro.
A "carta escolar" estabelece
que não cabe aos pais escolher a
escola dos filhos; eles têm que
ser atendidos no estabelecimento mais perto da casa.
O princípio impede que os
mais ricos escolham as melhores escolas e confinem os mais
pobres a estabelecimentos de
segunda linha. Na prática, não
está funcionando assim: na Paris central, ficam os alunos
mais ricos, enquanto os mais
pobres acabam nos "banlieues", os subúrbios majoritariamente habitados por imigrantes e seus descendentes.
Tudo somado, não é por acaso que a candidata socialista
Ségolène Royal, derrotada por
Sarkozy, diz que "algumas das
medidas" adotadas pelo presidente são uma "homenagem"
ao programa presidencial dela.
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