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ANÁLISE
Cautela de autoridades mostra que termos definidos sexta, apesar de rígidos, parecem ser bons para empresas
Indústria do fumo pode ganhar
com acordo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Se o acordo anunciado na sexta-feira pelos secretários da justiça
de 40 Estados dos EUA é mesmo
um "remédio amargo" para a indústria de tabaco engolir, como
explicar o fato de suas ações nas
bolsas de valores terem subido em
média 17% desde que os termos
básicos do entendimento foram
divulgados, em abril?
De fato, apesar do estardalhaço
com que a notícia do acordo foi
saudada, muita água há de rolar
antes de se poder decretar a morte
do fumo nos EUA. Gente séria, a
começar pelo secretário da Justiça
do Estado de Minnesotta, um dos
que aprovaram o acordo, acha que
os executivos das indústrias de cigarro do país estão comemorando
o acerto firmado no Hotel Ana, em
Washington, onde o líder palestino Iasser Arafat se hospeda quando está na capital dos EUA.
Hubert Humphrey Jr., filho do
vice-presidente de Lyndon Johnson (1965-1969) e candidato derrotado por Richard Nixon na eleição
presidencial de 1968, pondera que
acionista não joga dinheiro fora.
Se ele está apostando nas ações das
empresas de fumo é porque elas
saíram ganhando com o acordo.
Pode ser. Primeiro, se o acerto
for validado pelo Congresso (o que
pode acontecer com emendas favoráveis à indústria, que desfruta
de grande apoio entre parlamentares que ela cortejou por décadas),
ele vai livrá-las de custos de centenas de milhões de dólares anuais
com advogados e limitar a US$ 368
bilhões nos próximos 25 anos suas
despesas com indenizações de vítimas do fumo. Como calculam alguns, isso dá cerca de US$ 30 mil
por morte provocada por cigarro,
muito menos do que elas teriam
que pagar se todos os casos fossem
levados à Justiça.
Depois, o acordo torna praticamente impossível a proibição pelo
governo do consumo de nicotina.
Ele assegura que essa medida não
poderá ser tomada antes de 2009 e,
então, se for proposta, terá que
passar pelo Congresso e apenas
sob a condição de haver garantias
do não-surgimento de um mercado negro da droga no país.
O acordo dá muito tempo para as
empresas pesquisarem novos tipos de cigarro menos nocivos à
saúde humana, como a marca
Eclipse, que a RJ Reyndols acaba
de lançar, que diminui em 90% a
quantidade de fumaça. Além disso, não mexe nos negócios da indústria fora dos EUA, responsáveis por 50% de seus lucros atuais.
A cautela com que o presidente
Bill Clinton reagiu ao acordo, as
primeiras manifestações desfavoráveis dos líderes da oposição que
tem a maioria no Congresso e a
dissensão entre os secretários expressada por Humphrey são indícios de que a batalha final da guerra ao fumo nos EUA está longe de
decidida, embora o cerco aos fumantes nunca tenha sido maior.
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