São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997.



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UM COMUNISTA NO ALTAR
Ex-guerrilheiros servem de guia nas rotas, que terão murais artísticos com frases do diário de Che
Turistas perseguem passos da guerrilha

do enviado à Bolívia

O périplo que o Exército de Libertação Nacional, liderado por Che, fez em 11 meses com um orçamento de US$ 73 mil agora pode ser atravessado por qualquer turista em seis dias por US$ 300.
Nesta terça-feira, um grupo de não mais que 30 pessoas participará do passeio "Rota dos Combatentes de Che". Coincidentemente, os guerrilheiros na selva chaquenha de 1967 também não chegavam a três dezenas.
Os passeios estão sendo organizados pela Fundação Ernesto Che Guevara e pela Secretaria de Turismo da Bolívia e vão se intensificar até outubro, quando haverá um encontro mundial em Vallegrande pelo 30º aniversário de morte do guerrilheiro argentino.
Em vez das longas caminhadas e travessias em mula da guerrilha, os visitantes viajam em camionetes com tração na quatro rodas, e as andanças pela mata e margens de rios serão curtas.
Também não se arriscarão a comer macaco, papagaio e mula (presentes na dieta da guerrilha), já que comida está garantida em casas de fazenda, pensões e hotéis.
Longe da espreita do Exército, os turistas terão como único inimigo os insetos do Chaco boliviano.
Entre os viajantes de terça-feira, estão autoridades do turismo nacional, que avaliarão a excursão.
Guias especializados
Os guias da viagem serão os sobreviventes da guerrilha Estanislao Choque e José Castillo Chávez (codinome "Paco"). Eles também estão elaborando outros passeios de menor duração que serão postos em prática em outubro.
Para os festejos desse mês, as trilhas guerrilheiras vão receber painéis e murais com pinturas criadas por artistas locais e estrangeiros que serão acompanhadas de trechos do diário de Guevara.
Esperam-se 3.000 inscrições no evento de 5 a 11 de outubro, que terá debates, vídeo, cinema, teatro, feira de livro e pintura.
O preço da inscrição varia segundo a origem e a classe social do interessado: um camponês ou estudante boliviano pagam US$ 20, enquanto os profissionais liberais europeus, asiáticos ou norte-americanos desembolsam US$ 200.
Os inscritos poderão fazer, por US$ 10, excursões de um dia pelas trilhas, com direito a piquenique.
A organização credenciará restaurantes, empresas transportadoras, campings e hotéis.
"Não queremos que empresas inflacionem os custos dos turistas. Não vai haver especulação", afirma Osvaldo Peredo, presidente da Fundação Ernesto Che Guevara.
Peredo espera que as companhias Varig, Aerolíneas Argentinas, Lloyd Boliviano e Cubana criem vôos charters para outubro.
A maioria dos turistas é de europeus, argentinos, cubanos e brasileiros. (RODRIGO BERTOLOTTO)


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