São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997.



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Hospital-museu exporá cabelo de Guevara

do enviado à Bolívia

"Não puderam fechar teus olhos, por isso, és eterno", "Comandante imortal, até a vitória, sempre", "Comandante, obrigado por nos ensinar o caminho".
Quase como epígrafes para um morto sem sepultura conhecida, essas são algumas das pichações nas paredes da "lavanderia", espécie de necrotério situado no fundo do hospital Señor de Malta, onde o corpo de Ernesto Guevara foi lavado, exposto e fotografado.
A Prefeitura de Vallegrande determinou a criação de um museu no hospital, para onde serão levados objetos, armamentos, fotografias e roupas dos guerrilheiros.
Alguns vizinhos já ofereceram doar mechas de cabelo de Che, que cortaram quando seu corpo era exibido no hospital. Muitas das coisas encontradas com os guerrilheiros foram levadas pelos militares como "troféu de guerra", incluindo o relógio Rolex de Che.
Sua inauguração deve acontecer em outubro, durante as comemorações de 30 anos da morte de Guevara. Nas festividades, estarão presentes destaques da trova cubana (Silvio Rodríguez e Pablo Milanes) e artistas folclóricos argentinos (Javier Heredia e Teresa Parodi).
Outro projeto é a construção de um mausoléu para os restos dos guerrilheiros encontrados em cemitérios clandestinos da cidade.
O terreno já foi determinado: será junto ao cemitério e à cabeceira da deteriorada pista de pouso de Vallegrande, local onde se procuram os ossos de Guevara.
"Algumas famílias, como a do guerrilheiro Chapaco, não aceitam trazer os restos, mas eu levarei os ossos de meu irmão "Inti" (Guido Peredo) para lá", afirma o ex-guerrilheiro Osvaldo Peredo.
O turismo pode ser uma solução para as finanças de Vallegrande, situada no sopé da cordilheira dos Andes. A 2.030 m acima do nível do mar, a cidade tem atualmente 6.431 habitantes. Na década de 50, tinha 15 mil habitantes.
A decadência da produção agrícola causou essa migração. Muitos foram para Santa Cruz de la Sierra, 250 km a noroeste dali. Outros tentaram a sorte na Argentina ou Brasil. "O turismo é a indústria sem chaminé que pode nos ajudar a captar dinheiro", afirma o prefeito Jaime Rodríguez, da Ação Democrática Nacionalista (partido de direita). (RB)


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