São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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ARGENTINA

Rotina do presidente será transmitida em flashes pela emissora estatal, em estratégia para reconquistar o eleitorado

De la Rúa usa TV para mostrar que trabalha

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

Com a popularidade em baixa, o governo argentino anunciou ontem sua mais nova estratégia para reconquistar o eleitorado: o acompanhamento diário da rotina do governo por meio de câmeras do Canal 7, a emissora estatal de TV, instaladas dentro da Casa Rosada, o palácio presidencial. Algo como "O Show de Truman", filme no qual o personagem principal era acompanhado 24 horas por dia por câmeras ocultas.
O principal protagonista do novo "show televisivo" deverá ser o próprio presidente, Fernando de la Rúa, cuja imagem já desgastada vem sofrendo nas últimas semanas duros golpes.
Além da grave crise econômica e social pela qual passa o país, rumores sobre as condições de saúde do presidente vêm afetando também sua imagem.
De la Rúa, 63, passou há duas semanas por uma angioplastia, cirurgia para desobstruir as artérias coronárias. Ele ficou internado apenas um dia e voltou ao trabalho 48 horas depois, mas, desde então, quase diariamente, se esforça em repetir que se sente "fenomenal".
Nesse meio tempo, teve também de classificar como "equívoco" uma declaração de seu amigo pessoal e ministro da Saúde, Hector Lombardo, que afirmou numa entrevista que o presidente sofre de arteriosclerose. A doença é comumente relacionada a sintomas como perda de memória e incapacidade de raciocínio.
De la Rúa já era um dos personagens mais "adorados" pelos chargistas e humoristas, que o retratavam como alguém permanentemente cansado, que dorme o tempo todo e faz os outros dormirem com seus discursos considerados chatíssimos.
Nas últimas duas semanas, a exploração de sua imagem em programas humorísticos foi ainda maior, com destaque para seus constantes lapsos de memória e para o contraste das imagens do confiante De la Rúa recém-eleito, no final de 1999, com o De la Rúa atual, de semblante cansado e profundas olheiras.
Segundo as últimas pesquisas de opinião, cerca de 80% dos argentinos desaprovam o atual governo, e mais da metade dos eleitores de De la Rúa em 1999 se arrependem do voto. A menos de quatro meses das eleições legislativas, os estrategistas de comunicação do governo crêem que a megaexposição do presidente possa evitar um vexame nas urnas, o que colocaria em risco a própria governabilidade nos últimos dois anos de gestão de De la Rúa.
A idéia de acompanhar todos os passos do presidente, dentro e fora da Casa Rosada, no interior do país e no exterior, partiu do secretário-geral da Presidência, Nicolás Gallo, e do secretário de Cultura, Darío Lopérfido. As imagens deverão ser transmitidas em flashes ao longo da programação do Canal 7.
Apesar das críticas sobre um possível uso político do canal estatal, o governo nega que seja essa a intenção. "A notícia pública tem de ser também a notícia dos atos do governo. O governo merece críticas, mas merece também aplausos. Não vamos manipular a verdade, mas também não vamos nos deixar atropelar pela sensação de que só a crítica é o que vale", afirmou o porta-voz do governo, Juan Pablo Baylac.



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