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ARGENTINA
Rotina do presidente será transmitida em flashes pela emissora estatal, em estratégia para reconquistar o eleitorado
De la Rúa usa TV para mostrar que trabalha
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
Com a popularidade em baixa, o
governo argentino anunciou ontem sua mais nova estratégia para
reconquistar o eleitorado: o
acompanhamento diário da rotina do governo por meio de câmeras do Canal 7, a emissora estatal
de TV, instaladas dentro da Casa
Rosada, o palácio presidencial.
Algo como "O Show de Truman",
filme no qual o personagem principal era acompanhado 24 horas
por dia por câmeras ocultas.
O principal protagonista do novo "show televisivo" deverá ser o
próprio presidente, Fernando de
la Rúa, cuja imagem já desgastada
vem sofrendo nas últimas semanas duros golpes.
Além da grave crise econômica
e social pela qual passa o país, rumores sobre as condições de saúde do presidente vêm afetando
também sua imagem.
De la Rúa, 63, passou há duas
semanas por uma angioplastia, cirurgia para desobstruir as artérias
coronárias. Ele ficou internado
apenas um dia e voltou ao trabalho 48 horas depois, mas, desde
então, quase diariamente, se esforça em repetir que se sente "fenomenal".
Nesse meio tempo, teve também de classificar como "equívoco" uma declaração de seu amigo
pessoal e ministro da Saúde, Hector Lombardo, que afirmou numa
entrevista que o presidente sofre
de arteriosclerose. A doença é comumente relacionada a sintomas
como perda de memória e incapacidade de raciocínio.
De la Rúa já era um dos personagens mais "adorados" pelos
chargistas e humoristas, que o retratavam como alguém permanentemente cansado, que dorme
o tempo todo e faz os outros dormirem com seus discursos considerados chatíssimos.
Nas últimas duas semanas, a exploração de sua imagem em programas humorísticos foi ainda
maior, com destaque para seus
constantes lapsos de memória e
para o contraste das imagens do
confiante De la Rúa recém-eleito,
no final de 1999, com o De la Rúa
atual, de semblante cansado e
profundas olheiras.
Segundo as últimas pesquisas
de opinião, cerca de 80% dos argentinos desaprovam o atual governo, e mais da metade dos eleitores de De la Rúa em 1999 se arrependem do voto. A menos de
quatro meses das eleições legislativas, os estrategistas de comunicação do governo crêem que a
megaexposição do presidente
possa evitar um vexame nas urnas, o que colocaria em risco a
própria governabilidade nos últimos dois anos de gestão de De la
Rúa.
A idéia de acompanhar todos os
passos do presidente, dentro e fora da Casa Rosada, no interior do
país e no exterior, partiu do secretário-geral da Presidência, Nicolás Gallo, e do secretário de Cultura, Darío Lopérfido. As imagens
deverão ser transmitidas em flashes ao longo da programação do
Canal 7.
Apesar das críticas sobre um
possível uso político do canal estatal, o governo nega que seja essa
a intenção. "A notícia pública tem
de ser também a notícia dos atos
do governo. O governo merece
críticas, mas merece também
aplausos. Não vamos manipular a
verdade, mas também não vamos
nos deixar atropelar pela sensação de que só a crítica é o que vale", afirmou o porta-voz do governo, Juan Pablo Baylac.
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