São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Exército diz que disparos de tanques contra mercado foram engano; gabinete aprova reocupação da Cisjordânia

Israel mata 4 civis em Jenin e admite erro

DA REDAÇÃO

Tanques de Israel abriram fogo ontem contra um mercado aberto em Jenin, matando ao menos quatro civis palestinos e ferindo 24 -seis estão em estado grave. O Exército israelense disse que a ação foi um "engano" e que abrirá investigações sobre o ocorrido.
O gabinete de segurança do premiê Ariel Sharon aprovou ontem a reocupação militar por tempo indeterminado de todas as grandes cidades da Cisjordânia.
A decisão foi motivada pela sequência de atentados suicidas palestinos -dois deles em Jerusalém e um na colônia de Itamar- que matou 31 civis israelenses em menos de 72 horas nesta semana (17 palestinos morreram no mesmo período).
Segundo médicos de um hospital de Jenin, as vítimas de ontem -Ahmed Ghazawi, 6, seu irmão Jamil,12, a Sajedah Famahwi, 6, e o professor escolar Helal Shetta, 50- pensavam que o toque de recolher havia sido suspenso, assim como as outras pessoas que foram ao mercado.
Os tanques e blindados israelenses haviam se afastado do centro da cidade. Por essa razão, muitos saíram às ruas para comprar comida e mantimentos.
Israel disse ter efetuado dois disparos de tanque como advertência a um grupo de palestinos que se aproximava no momento em que soldados faziam buscas numa fábrica de explosivos. Atingiu acidentalmente os civis no mercado.
Em outro episódio de violência na região, moradores do assentamento judaico de Itamar entraram de carro em Hawara, subúrbio de Nablus, queimando carros e uma casa e atirando. Mataram uma pessoa, segundo a Autoridade Nacional Palestina (ANP).
A ação teria sido organizada como vingança pelo assassinato, anteontem, de cinco israelenses em Itamar -três crianças, sua mãe e um segurança.
Tropas de Israel continuaram a prender suspeitos de terrorismo ontem nos territórios palestinos. A decisão do gabinete de autorizar reocupação total da Cisjordânia -na prática, uma retomada da operação Muro Protetor, realizada entre fim de março e início de maio, com o objetivo de "destruir a infra-estrutura do terror"- foi a confirmação oficial de uma política anunciada durante a semana.
"Isso vai ocorrer ao longo de toda a Cisjordânia", disse uma fonte ligada ao gabinete de segurança. Forças do país já entraram em Jenin, Nablus, Qalqiliya, Belém, Tulkarem e subúrbios de Ramallah. No início da noite de ontem, fizeram suas primeiras operações perto de Hebron.
Na faixa de Gaza, tropas israelenses mataram um militante que atacou um posto de fronteira com granadas. Dois outros palestinos morreram nesse combate.
Um menino de 8 anos morreu em Gaza, vítima de combates após uma incursão militar lançada após um israelense ter ficado gravemente ferido em ataque.
O saldo de mortos da Intifada, a revolta palestina iniciada em setembro de 2000, já é de 1413 palestinos e 547 israelenses.

Bush
A escalada da violência nos últimos dias prejudicou uma iniciativa diplomática dos EUA em gestação. O presidente George W. Bush planejava anunciar nesta semana um plano de paz, que incluiria a realização de uma conferência internacional e a criação de um Estado palestino provisório.
A violência obrigou Bush a adiar o seu discurso. Funcionários do Departamento de Estado disseram que ele apresentará as idéias no "momento apropriado" -o que, segundo alguns, poderia ser já na próxima semana.
Ontem, Bush voltou a criticar os atos terroristas de grupos extremistas palestinos e a defender o direito de Israel à autodefesa.
"Reconheço totalmente que Israel tem o direito de se defender, e todas as partes interessadas em chegar ao caminho da paz devem fazer tudo o que podem para rejeitar esse terror. Ele é ultrajante e tem de ser freado", disse o presidente dos EUA.
O rei Abdullah, da Jordânia, disse em entrevista que o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, perdeu o controle sobre a atividade de grupos extremistas. Afirmou temer ainda mais violência no Oriente Médio.
"Ao longo dos anos, sempre pensei que Arafat fosse capaz de controlar o sentimento público e o extremismo", declarou a um semanário belga. "Acho que não é mais o caso hoje."


Com agências internacionais

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